Política Titulo Protetores
Acordos pessoais blindam secretários

Nos atuais mandatos, as cidades da região acumulam 13
escândalos capazes de derrubar integrantes do 1º escalão

Mark Ribeiro
Do Diário do Grande ABC
06/11/2011 | 07:22
Compartilhar notícia


Acordos costurados diretamente entre prefeitos e secretários tornam o Grande ABC um potente reduto protetor de políticos. Somente nos atuais mandatos, as cidades da região acumulam 13 escândalos capazes de derrubar integrantes do primeiro escalão, mas somente dois funcionários foram exonerados (veja arte ao lado).

A maioria sequer ficou ameaçada de perder o cargo. Isso porque, da eleição à composição das máquinas, ficam estabelecidas parcerias quase que imutáveis com grupos de pessoas, independentemente dos partidos, que, na maioria das vezes, são usados como balcão de negócios.

A realidade regional difere dos pactos firmados em Brasília. Em dez meses de governo, a presidente Dilma Rousseff (PT) se viu pressionada por escândalos envolvendo seus ministros: seis caíram (veja arte abaixo). A diferença nas respostas de Brasília para as gestões locais está na amarração das composições. Na Capital, a questão é tratada com os partidos, o que propicia fiscalização mais intolerante. Em caso de desordem, o ministro é substituído, geralmente, por outro da mesma sigla.

A situação foi explicitada por Dilma segunda-feira, na posse de Aldo Rebelo (PCdoB) no Ministério do Esporte - o ex-deputado substituiu Orlando Silva (da mesma legenda), envolto a denúncias de corrupção. "Perco um colaborador, mas preservo o apoio de um partido cuja presença no meu governo considero fundamental", declarou a presidente.

Cientistas políticos consultados pelo Diário reforçam a tese. Para a professora da Universidade Federal de São Carlos, Maria do Socorro Souza Braga, a falta de punição nos governos locais pode ser explicada pelo o que chama de "coronelismo urbano", fenômeno atrelado ao poder dos Executivos. "Quanto mais forte a base aliada, mais força esse grupo terá para administrar escândalos."

A especialista afirma que a complacência com atos irregulares ou denúncias de corrupção está diretamente ligada ao controle do partido. "No governo federal, isso é muito forte. Quanto menor a estrutura da legenda, mais frequente se tornam as relações pessoais, que é o que ocorre na maior parte do País." 

Escândalo alçou assessor ao 1º escalão da gestão Oswaldo 

Dos 13 escândalos nas administrações do Grande ABC, a resposta mais surpreendente envolveu o então assessor da Secretaria de Governo de Mauá, Severino Manoel da Silva. Um mês após ser acusado de tentativa de favorecimento, ele não só não caiu como foi alçado ao primeiro escalão - atualmente comanda a Secretaria de Serviços Urbanos.

Severino ofereceu emprego na administração Oswaldo Dias (PT) em troca do silêncio do professor Daniel Clementino, prejudicado em concurso público da Prefeitura, no qual foi aprovado, mas não empossado. Em gravação de áudio, ele oferece os cargos de agente de saúde e professor substituto a Daniel. O caso foi noticiado pelo Diário em fevereiro.

O levantamento aponta que Santo André, São Bernardo e Mauá são as cidades da região que mais contabilizam casos passíveis de troca de comandos de secretarias que não se concretizaram: três cada. São Caetano, por sua vez, é a única que não possui registros de escândalos.

PRISÕES

Então secretário de Governo de Ribeirão Pires, José Valentim Seraphim foi preso em 21 de setembro de 2009 acusado de integrar rede de exploração de bingos pela internet. Investigação da Polícia Federal apontou que o grupo movimentava cerca de R$ 5 milhões por mês em todo o País. A quadrilha foi acusada de manipular o resultado dos jogos e de pagar propina a agentes públicos para evitar fiscalizações.

Seraphim foi exonerado dois dias após a prisão e responde ao processo em liberdade. Atualmente, é o presidente municipal do PV, partido do prefeito Clóvis Volpi.

Outro secretário preso no Grande ABC foi Ricardo Orsini (DEM), titular de Serviços Urbanos de Rio Grande da Serra. Em novembro de 2010, ele resistiu à ordem judicial, após entrar em conflito com um oficial de Justiça. Orsini pagou fiança de R$ 100 e responde ao processo em liberdade. Ao contrário de Seraphim, ele conseguiu se manter no posto.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;