Economia Titulo Novo presidente
Eleição de Trump não deve impactar região

Estados Unidos são o 3º maior comprador de produtos do Grande ABC, que devem valer mais

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
10/11/2016 | 07:10
Compartilhar notícia
Divulgação


A vida imitou a arte nos Estados Unidos. Ou, ao menos, mimetizou a animação. Em episódio de Os Simpsons transmitido no ano 2000, o empresário bilionário Donald Trump era o então presidente norte-americano que deixava orçamento bastante apertado à sua sucessora, Lisa Simpson. À época, o programa se utilizou do personagem para fazer sátira em torno de cenário um tanto improvável, mas que ontem se confirmou. E, assim como no desenho, 16 anos mais tarde há o temor de que as ideias protecionistas de Trump possam afetar as relações comerciais internacionais do país.

Embora as ações que Trump deva adotar, na prática, ainda sejam imprevisíveis, haja vista que os seus discursos durante a campanha eleitoral e no dia da vitória já mudaram de tom, com menor dose de radicalismo, especialistas ouvidos pelo Diário acreditam que elas não devem afetar as exportações da região para o país. Os Estados Unidos são importante parceiro das sete cidades que, juntas, venderam neste ano, até setembro, US$ 312,7 milhões ao destino, o terceiro maior mercado consumidor do Grande ABC. Quanto às importações, a nação figura na segunda posição, tendo enviado para cá US$ 384 milhões. A região se destaca no comércio de peças e componentes da cadeia automotiva e de produtos químicos.

“Os próximos passos de Trump ainda são nebulosos. Não sabemos se era um ator e agora pôs os pés no chão e vai trabalhar como se deve. Mas, se chegou aonde chegou, não deve ser louco, e deve seguir estimulando as relações comerciais. Creio que o protecionismo deva se concentrar na geração de emprego no país”, afirma José Rufino, diretor do departamento de comércio exterior do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de São Bernardo. Seu negócio, que fabrica ferramentas para perfuração de rochas, depende de metal que vem dos Estados Unidos.

Para o coordenador do Observatório Econômico da Universidade Metodista, Sandro Maskio, justamente essa audácia que o presidente eleito mostra pode ser interessante, pois ele pode ter coragem de lançar mão de ações que outros tiveram receio. “Faço um paralelo com o Fernando Collor de Mello, que nos anos 1990 realizou grande mudança ao abrir a economia brasileira ao mercado externo. A forma como o processo foi conduzido pode gerar discussões, mas o impacto gerado para a modernização da nossa indústria é inegável”, compara. “Pelo que disse até agora, Trump deve trabalhar para garantir a valorização do dólar. Se olharmos de 2008 para cá, os bancos centrais norte-americano e europeus vieram trabalhando para recuperar a economia em crise, o que fez com que suas moedas desvalorizassem muito. Caso o republicano consiga atingir essa meta, para o exportador brasileiro é muito melhor, já que o nosso produto chegará aos Estados Unidos com preço mais atrativo, e o retorno ao empresário será maior, o que pode estimular nossa economia.”

Além disso, Maskio pontua que quando o republicano fala de protecionismo, ele se refere mais à China e ao México do que ao Brasil, que não causa ameaça, é um player acessório. “O que gerava temor aos Estados Unidos era a nossa indústria siderúrgica, pois o Brasil detém uma das melhores tecnologias do mundo. Mas isso já está bem taxado e há muitos anos. Quem será mais afetado será aquele que tem forte atuação em setor que Trump quiser proteger.”

O coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero, concorda. “Os parceiros asiáticos devem ter mais problema porque, além de serem competitivos, compartilham mão de obra de empresas norte-americanas, devido ao custo menor fora do país. Ainda assim, com a China deve haver cautela, já que a nação é a maior credora de dívidas norte-americanas, equivalente a US$ 4 trilhões. E o México é alvo por conta da intensa imigração e também pela migração de emprego”, avalia.

Em relação aos produtos que o Grande ABC vendem aos Estados Unidos, o país precisa deles, afirma Balistiero. “E, historicamente, com presidentes republicanos tivemos maior inserção comercial. Sem contar que, nos próximos quatro anos, a economia brasileira estará recuperada e voltará a crescer, e será mercado consumidor extraordinário ao país. Acredito que ele tentará fortalecer os laços comerciais.”

Questionados sobre possíveis respingos de outros países que possam sofrer embargo, os especialistas não acreditam que deve afetar a demanda. “Trump não vai fechar a economia norte-americana, senão ele a destrói. E do jeito que ela vem sendo conduzida surgiram Google, Apple e Microsoft”, diz Balistiero.


Destino pode encarecer ao brasileiro

Os Estados Unidos e, principalmente, o Estado da Flórida, são destinos que atraem milhares de brasileiros todos os anos, capitaneados por Miami e Orlando – onde estão os parques de diversões da Disney. E, na avaliação dos especialistas ouvidos pelo Diário, esse trânsito deve continuar ascendente. Embora com chances de custar mais ao bolso do turista.

“Ao que tudo indica, Donald Trump deve endurecer as exigências para que estrangeiros ingressem nos Estados Unidos, na tentativa de evitar aumento de imigração, ainda mais a ilegal. Porém, para o turista, ainda mais o brasileiro, que consome bastante no país, acredito que não haverá problema”, assinala o diretor do Ciesp de São Bernardo, Mauro Miaguti.

Para o economista Sandro Maskio, existe tendência de a viagem custar mais cara ao bolso brasileiro com o esforço de valorização da moeda. “Mesmo assim, num lugar em que o mapa da Disney é disponível também em português do Brasil, devido às boas divisas que os turistas deixam lá, a entrada de brasileiros não deve ser dificultada.”

MERCADO - O dólar subiu 1,38%, cotado a R$ 3,21. O principal índice da BM&FBovespa recuou 1,4%, aos 63.258 pontos. No entanto, especialistas dizem que ainda é cedo para apurar os impactos no mercado.
 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;