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Inflação fecha o ano em 10,67%, a maior elevação desde o governo FHC

Aumento no custo de vida foi puxado por reajustes na conta de luz, combustíveis e água

Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
09/01/2016 | 07:00
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O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial de inflação no Brasil, fechou 2015 em 10,67%, maior taxa desde 2002 – último ano da gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Foi a primeira vez entre 2002 e o ano passado que a inflação superou o rendimento da poupança. No mês, a variação foi de 0,96%, 0,05 ponto percentual a menos do que o registrado em novembro pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A pressão sobre o custo de vida foi provocada, principalmente, por preços administrados pelo governo federal, como energia elétrica (51%), combustíveis automotivos (21,43%) e gás para uso domiciliar (o botijão caseiro subiu 22,55%). As tarifas de água e esgoto também tiveram elevação média de 14,75% em todo o País. No Estado de São Paulo, as altas foram ainda maiores: a conta de luz ficou 70,97% mais cara. Os combustíveis tiveram variação de 24,09% e as taxas de água e esgoto, de 19,73%.

Os reajustes aplicados pelo governo tiveram como objetivo corrigir os preços cobrados, já que ficaram represados nos últimos anos – justamente em uma tentativa da equipe econômica da presidente Dilma Rousseff (PT) de conter a inflação. Entretanto, os aumentos ficaram concentrados no primeiro trimestre. Entre janeiro e março, o IPCA acumulou 3,83%, e a taxa veio caindo nos períodos seguintes: 2,17% entre abril e junho e 1,39% de julho a setembro. Porém, voltou a crescer nos últimos três meses de 2015, atingindo 2,82%.

O economista Agostinho Pascalicchio, professor da Universidade Mackenzie, cita que o governo está em situação delicada para tentar trazer de volta a inflação para baixo dos dois dígitos. “O mecanismo que vem sendo utilizado pelo Banco Central para combater a pressão inflacionária é a elevação da Selic (taxa básica de juros). O problema é que isso aumenta a dívida pública, que já é alta”, comenta.

Ele acrescenta que os juros elevados também prejudicam o crescimento do País, já que isso diminui o consumo por parte da população em geral e há menor volume de riquezas em circulação, o que provoca queda do PIB (Produto Interno Bruto). A expectativa do mercado financeiro é de que a economia brasileira tenha encolhido 3,71% em 2015 (os dados oficiais ainda não foram divulgados). Para 2016, os especialistas projetam nova queda, de 2,95%.

Com a retração, a arrecadação diminui ainda mais, o que dificulta a gestão da dívida. Segundo o último balanço divulgado pelo Banco Central, em dezembro, o deficit primário do governo foi de R$ 52,4 bilhões (0,89% do PIB) no acumulado de 12 meses até novembro. “Ou seja, o cachorro está mordendo o próprio rabo. Se elevar os juros para conter a inflação, as contas públicas pioram. Por outro lado, não se pode deixar que a inflação se descontrole ainda mais. É um círculo não virtuoso”, salienta Pascalicchio.

Outro fator que contribui para a aceleração da inflação, continua o especialista, é a taxa cambial. Entre janeiro e dezembro do ano passado, o dólar comercial subiu 46,5%, de R$ 2,69 para R$ 3,94. A alta na moeda norte-americana, além de encarecer os produtos importados ou que contenham peças fabricadas fora do País, gera subida de preços em razão da concorrência internacional no caso de mercadorias como as commodities, que têm bom desempenho no mercado exterior. Exemplos são as carnes e os derivados da cana-de-açúcar, como o etanol e o açúcar refinado.

PREVISÕES

Para 2016, o mercado financeiro projeta o IPCA acumulado em 6,87% ao fim do ano. Acima, portanto, do teto da meta de inflação definida pelo Banco Central, de 6,5%. Os dados são do Relatório Focus, boletim semanal com os prognósticos do setor para a economia. No início de 2015, os analistas previam elevação de 6,6%. No último documento do ano, a expectativa foi corrigida para 10,72%. 




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