Bastante curioso observar saltos como o de Nick Cassavetes, filho do legendário cineasta John Cassavetes (1929-1989) e da atriz Gena Rowlands. Diretor de seis longas, Nick ejetou de uma firme reconstituição do amor como forma e conteúdo (o recente Diário de uma Paixão, de 2004) para um réquiem audiovisual sobre o anti-herói, este novo Alpha Dog.

Para a mídia de variedades, interessa ver o desempenho do cantor Justin Timberlake como ator, em seu segundo longa num papel de destaque depois de Edison – Poder e Corrupção (2005). Para matar logo o assunto, Timberlake não frustra – embora em um ou outro instante faça o tipo bandidão poser. Interpreta com satisfação Frankie, sujeito meio capanga meio amigo do protagonista Johnny Truelove (Emile Hirsch). Este, delinqüente juvenil com o visto de permanência no inferno já aprovado, é um traficante de drogas que, para afligir um de seus devedores, seqüestra o irmão caçula dele (Anton Yelchin). Portador da síndrome de Estocolmo, o seqüestrado se dá bem com os seqüestradores e começa a submergir no hedonismo vigente nos bastidores do narcotráfico.

A mudança tão abrupta tomada por Nick Cassavetes leva a uma leitura de sua obra recente como tentativa de reconstituição de outros olhares. Havia o amor como eixo e baliza em Diário de uma Paixão, agora há o anti-heroísmo de Caminhos Perigosos (1973, um dos primeiros filmes de Martin Scorsese) que reverbera em cada fotograma de Alpha Dog.

Aparece ratificado no poder juvenil sem mestres, sem disciplinadores, poder autodidata e auto-suficiente. E, por outro lado, aparece retificado na análise que Cassavetes faz desse anti-heroísmo, dessa cafajestagem adolescente no mundo de hoje. Contesta o anti-herói como figura invejável, na relação entre refém e traficantes, e protesta também contra a adoção (comum) desse tipo de personagem para estereotipar traumas da adolescência.