Além de conquistar público infantil, Carrossel se tornou
motivo de polêmica pelo número de anúncios que exibe
A novela Carrossel, do SBT, faz o maior sucesso. Há quem goste de conversar sobre os episódios e brincar de imitar os personagens. Mas o programa também tem chamado a atenção por outro motivo: o grande número de anúncios de produtos. A turma do 4º ano da Escola Stagium, de Diadema, notou isso. "Vi a propaganda de chocolate em uma cena do Carrossel e lembrei da história do livro No Tempo em que a Televisão Mandava no Carlinhos (de Ruth Rocha)", conta Jéssica Malvassora, 9 anos. Na obra, o garoto queria tudo o que via na TV. Ao comprar e comer demais o doce anunciado, ficou doente.
Isso também acontece na vida real. "Muitas coisas podem fazer mal, mas dá vontade de ter por causa do merchandising (estratégia para influenciar as pessoas a comprar algo)", afirma Pedro Andrade, 9, que descobriu o significado da palavra na escola.
Especialistas defendem que anúncios de produtos em programas e canais infantis sejam ruins. "Dá vontade de comprar algo só porque vemos alguém da novela falar que é bom. E nem sempre é assim", diz Isadora Conceição, 9. Na infância, somos influenciados com mais facilidade por personagens, artistas, bonecos e músicas que aparecem nos comerciais. Se a professora Helena, por exemplo, diz que um produto é o melhor, a gente pode acreditar sem questionar se é verdade ou não.
O Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor) pediu ao SBT que parasse de divulgar marcas em Carrossel. No Brasil, o Código de Defesa do Consumidor proíbe publicidade em programas cujo público-alvo - nesse caso, o infantil - tenha dificuldade em percebê-la. Também exige que fique claro ao telespectador quando uma cena é, na realidade, propaganda. Quem critica a novela afirma que não dá para identificar os anúncios porque estão integrados à trama. A emissora ainda não parou de mostrá-los e, agora, corre o risco de receber multa.
Se você curte Carrossel, não precisa parar de assistir. "Já aprendi que não posso ser influenciada pela televisão. Agora, é só ficar esperta", diz Ana Beatriz Lima, 9. O ideal é ver a novela acompanhado por um adulto. "Os pais podem ajudar a perceber quando é propaganda e explicar que aquele brinquedo pode não ser o melhor", diz Rafael Saraiva, 9.
É legal
- Os personagens mostram educação. Em geral, respeitam e obedecem a professora, dizem bom dia, boa tarde, com licença, por favor e obrigado.
- O mau comportamento de um personagem pode mostrar o que é certo ou errado.
- É oportunidade de assistir à TV com os familiares, que podem alertar quando a cena é anúncio.
- A novela valoriza a infância. Mostra que é divertido ir para a escola, brincar com os amigos e aproveitar essa fase da vida.
- Ensina que amigos podem discutir e brigar, mas depois fazem as pazes.
Não é bacana
- O excesso de publicidade na novela incentiva o consumismo, hábito que pode ser formado durante a infância.
- Quem não tem dinheiro para comprar os produtos anunciados na telinha pode ficar muito triste e decepcionado.
- Por ser programa infantil e de classificação livre, os pais entendem que não precisam se preocupar com o conteúdo. Por isso, muitos deixam seus filhos assistirem sozinhos. No entanto, a companhia do adulto para ver a novela é indispensável.
- Muitas vezes é preciso diferenciar situações imaginárias, que se passam na novela, do que ocorre na vida real. Na infância, essa tarefa nem sempre é fácil.
Saiba mais
Está marcado para 24 de novembro o Dia de Não Comprar Nada (Buy Nothing Day, em inglês). Todos os anos, a última sexta-feira de novembro é usada para protestar contra o consumismo. O movimento internacional começou em 1993 em Vancouver, no Canadá, e já está presente em 65 países.
Acredita-se que humanidade gaste um terço a mais dos recursos naturais que a Terra é capaz de renovar. Um dos motivos é que 25% da população mundial consomem acima de suas necessidades.
Crianças brasileiras são as que passam mais tempo na frente da TV, cerca de 4 horas e 54 minutos por dia.
Consultoria de Ekaterine Karageorgiadis, advogada do Instituto Alana, e Maria Regina Domingues de Azevedo, psicóloga e professora da Faculdade de Medicina do ABC.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.