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'Shoppings tiveram aprendizado com a pandemia da Covid'
Evaldo Novelini
Do Diário do Grande ABC
24/01/2022 | 08:19
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Divulgação


Os shoppings entraram com o pé direito em 2022. Após perder R$ 90 bilhões em vendas nos últimos dois anos, por causa das restrições de funcionamento impostas pela pandemia, o setor recuperou o otimismo. Nem mesmo a varianteômicron do novo coronavírus é capaz de conter o entusiasmo. "Estamos confiantes no avanço da vacinação", sintetiza Claudio Nembri, coordenador de administração geral da AD Shopping, que possui três unidades no Grande ABC, duas em Santo André (ABC e Atrium) e uma em Diadema (Praça da Moça). Em entrevista ao Diário, o executivo fala do aprendizado dos últimos meses e do futuro, onde quer portas abertas:

O avanço da vacinação contra a Covid-19, que permite vislumbrar o controle da pandemia, anima o setor?

Estamos confiantes no avanço da vacinação e no desenvolvimento de medicamentos que possam combater o vírus e suas variantes.

Unidades administradas pela AD comportam postos de vacinação contra a Covid, como em Santo André. Por que resolveram aderir a esta estratégia?

A estratégia da AD como um todo é sempre fortalecer os laços com a esfera pública e, neste aspecto, todos os shoppings do grupo têm praticado essa gestão e essa estratégia, já faz parte do nosso DNA, seja em momentos de crise ou não.

O Shopping ABC, em Santo André, anunciou há alguns dias que, em breve, vai inaugurar um laboratório do Hospital Brasil, da Rede D''Or, seguindo caminho já trilhado por outros empreendimentos, de agregar serviços de saúde ao portfólio. O movimento se acentuou por causa da pandemia?

A gente, como gestores, precisa cada vez mais completar o mix. Estamos sempre em busca da complementação. O Shopping ABC é cercado de hospitais, clínicas e laboratórios. Decidimos então trazer o laboratório do Hospital Brasil para dar mais conforto ao nosso cliente, para que ele resolva tudo em um só lugar. Essa visão sempre fez parte do nosso DNA, mas pode-se dizer que se potencializou com a pandemia. O setor de saúde ficou com mais evidência. As pessoas ficaram mais preocupadas com a saúde.

Qual o legado da pandemia para o setor?

O que se aprendeu com os percalços sofridos em 2020 e 2021? Tivemos diversos aprendizados, podemos citar vários, destacaria a importância cada vez maior de estarmos próximos dos nossos lojistas, colaboradores e clientes, protocolos rigorosos para darmos segurança a todos, convergência necessária entre o on-line e o offline, o fidigital, os shoppings servindo como hubs logísticos, além de ter uma associação robusta como a Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers) para representar a indústria de shopping como um todo.

Como o sr. analisa o surgimento da variante ômicron do novo coronavírus no momento em que o segmento ensaiava uma retomada?

Para quem trabalha em varejo onde já passamos por diversos planos e várias circunstâncias não planejadas, isso é mais um desafio, pois demonstra o quão rápido somos para administrarmos os imprevistos e como também inovamos nestes momentos.

Como o sr. entende que as autoridades devam lidar com o aumento dos casos de contaminação no que diz respeito às restrições sanitárias? O setor teme os efeitos de um novo lockdown?

Estamos acompanhando e apoiando todas as deliberações das autoridades e atualmente não tememos, pois não acreditamos que as restrições sejam uma solução para o problema neste momento. A Abrasce apoia a campanha #nãoaceitamosnovofechamentos, contra as medidas restritivas de funcionamento por causa da pandemia. Diz que os lockdowns provocaram perda de R$ 90 bilhões em vendas.

Como tem sido o diálogo com as esferas governamentais?

Houve evolução, com certeza. No ano passado, em março e abril, ficamos praticamente fechados. Este ano não vai haver fechamento. Lockdown não é a solução. Assim como horários reduzidos não funcionam para evitar aglomerações. Pelo contrário, para evitar aglomeração o ideal seria aumentar o horário de funcionamento dos shoppings e não diminuir. Fecham os shoppings, mas a aglomeração continua nos transportes públicos, por exemplo. Nós apostamos na adoção de protocolos rigorosos de controle sanitário para garantir a segurança dos usuários. As medidas que seguimos foram chanceladas pelo (hospital) Sírio-Libanês.

Em quanto tempo o sr. estima que o setor vai se recuperar das perdas sofridas nos últimos dois anos? Quanto o setor deixou de faturar por causa das restrições impostas pela pandemia? Quantas lojas foram fechadas? Há algum recorte regional desses números?

No último trimestre já estávamos praticando números pré pandemia. Os números ainda estão sendo coletados, mas as perdas ocorreram principalmente nos meses de março/abril quando tivemos o pico das restrições. Em relação às lojas fechadas, no Shopping ABC, passamos pela crise com um número bem maior de entradas do que saídas mostrando a força do empreendimento, a confiança dos nossos clientes em relação aos protocolos muito rígidos que implantamos e, principalmente, a confiança de todos, clientes e lojistas em nossa gestão.

Qual segmento tem maior potencial para retomar a clientela? Cinema, lojas, serviços, brinquedos?

O cinema mostrou uma reação muito forte em dezembro principalmente com o lançamento do filme Homem-Aranha (Sem Volta para Casa)! De uma maneira geral, vários segmentos têm maior potencial, podemos destacar: entretenimento, vestuário/calçados, turismo, serviços, brinquedos, cosméticos, joias/relojoarias etc. Os shoppings do Grande ABC disputam o mesmo cliente dos empreendimentos da Capital.

Quais as estratégias dos endereços locais para atrair e fidelizar os consumidores que moram na região?

Temos peculiaridades no Grande ABC que nos distinguem da Capital e nossa estratégia é manter o nosso empreendimento sempre desejável para os nossos clientes. No ano de 2021, enquanto os shoppings do Brasil cresceram 11% em relação ao ano anterior, o Shopping ABC cresceu 38%.

O sr. acha que ainda existe espaço para a abertura de shoppings no Grande ABC ou entende que o segmento já esteja bem representado nas sete cidades?

Temos 601 shoppings no Brasil com 5.568 municípios e assim temos um enorme potencial de crescimento da indústria de shoppings no País como um todo. Como o setor encara a concorrência cada vez maior do comércio eletrônico? Não vemos o comércio eletrônico como concorrentes. Entendemos que, cada vez mais, irá haver convergências, haja visto que os melhores resultados do e-commerce são em marcas que já possuem lojas no ambiente físico. Estudo recente, da Canuma Capital, aponta que o comércio digital no Brasil, no ano passado, movimentou R$ 260 bilhões contra R$ 175 bilhões dos shoppings.

É possível recuperar a dianteira ou se trata de uma tendência?

Prefiro falar em termos proporcionais. As vendas do comércio eletrônico, em relação às globais, giravam em torno de 5%. Com a pandemia, o número aumentou para 10%. Minha percepção é que vai se estabilizar em 7%, 8%. Como já disse, acredito em complementaridade. O cliente compra na internet e retira em um shopping perto de sua casa.

Um executivo que conhece o mercado, Marcelo Vainstein, disse recentemente que "os shoppings terão de se reinventar para ter a mesma receita por metro quadrado". O sr. concorda?

Sim, concordo. Todos teremos de nos reinventar. O mundo está mudando rapidamente. A Microsoft comprou a Activision, uma empresa de games, por US$ 70 bilhões.Por quê? Os clientes estão cada vez mais exigentes e nós vamos moldando as nossas operações de acordo com as exigências dos nossos clientes. Mas também há visão mais cética. Muitas coisas que apareceram, como os óculos de realidade virtual do Facebook, não aconteceram. É preciso cuidado com essas avaliações.

Quais as armas do comércio físico na batalha pelo cliente em um mundo cada vez mais virtual?

O cliente quer cada vez mais experiências, quer pesquisar, mas quer o contato, quer sentir o calor de um excelente atendimento, quer sentir o perfume das lojas que mais gosta, quer usufruir da segurança, da ambiência, das opções do mix, da conveniência de fazer tudo o que ele precisa em um só local, do restaurante que ele mais gosta, e de todas as opções que ele somente poderá ter dentro de um shopping.

Como o sr. imagina os shoppings daqui a uma década?

Analisando os shoppings no mercado asiático, europeu, americano e outros, percebemos tendências de espaços mais abertos, com diversas experiências para tornar a visita em um momento prazeroso, com muita convergência entre o físico e o digital, em um ambiente mais tecnológico, iluminado, mais humano, com mais inclusão, sustentável, com muita complementaridade em seu mix, gastronomia/entretenimento em alta, e o metaverso sendo cada vez mais uma realidade.

Como o sr. avalia o desempenho da economia brasileira?

Percebemos que estamos perdendo oportunidades de reformas estruturantes, oportunidades de privatizações, concessões e de aprendermos com boas experiências que o mundo ocidental nos mostra. O governo federal vem fazendo, na sua opinião, tudo o que pode para garantir um ambiente saudável ao desenvolvimento dos setores varejista e de serviços no Brasil? Percebemos muitas oportunidades, mas apoiamos a Abrasce para continuar nos representando e buscando cada vez mais fazer o nosso papel. 

RAIO X

Nome: Claudio Guimarães Nembri 

Local de nascimento: Rio de Janeiro

Formação: Formado em Administração com especialização em Computação pela PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)

Hobby: Futebol, surfe, música e piano

Local predileto: Praia Livro que recomenda: Oportunidades Disfarçadas: Histórias Reais de Empresas que Transformaram Problemas em Grandes Oportunidades, de Carlos Domingos

Profissão: Administrador

Onde trabalha: AD Shopping, em São Paulo




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