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Mil línguas, um só país
Marcela Munhoz
Do Diário do Grande ABC
16/05/2010 | 07:09
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Você sabe o que ‘peço penico', ‘cair na pilha', ‘bater o 31', ‘pão careca', ‘zói' e ‘prenda' têm em comum? São expressões e palavras brasileiras. A diferença é que cada uma é usada num determinado Estado. ‘Peço penico' é ‘eu desisto', no Ceará; ‘cair na pilha' é falado pelo carioca com o sentido de ‘fui enganado'; quem ‘bateu o 31' no Maranhão é porque morreu. ‘Pão careca' no Pará é pão francês; ‘zói' são olhos em Minas Gerais; ‘prenda' pode ser joia ou menina bonita no Rio Grande do Sul.

Toda língua é o meio de comunicação de um grupo de pessoas em particular, de uma comunidade específica, de um povo ou de uma nação. Existe até um dia para homenagear a língua nacional, é 21 de maio. Até 1798, o Brasil era bilíngue, falava-se o tupi e o português, o qual só se tornou língua oficial naquele ano, por determinação do Marquês de Pombal. Antes disso, eram falados cerca de 1.300 dialetos indígenas, sendo que só 180 persistem até hoje. A chegada de imigrantes italianos, alemães, japoneses, holandeses e franceses também interferiu no idioma, fazendo com que cada região adquirisse suas particularidades.

"A mudança é inevitável em toda língua viva. Nenhuma fica estática no tempo. Seria estranho alguém querer falar hoje o português do século 18", explica Odilon Soares Leme, especialista em Língua Portuguesa e professor do Anglo Vestibulares. Segundo ele, todo brasileiro deveria ser bilíngue: além do português do dia a dia, deveria ser capaz de empregar a língua-padrão nas circunstâncias em que ela é exigida. Mas essa língua-padrão só se adquire por meio da escolaridade. Na redação de vestibular, por exemplo, não se emprega a língua coloquial. Em livros, documentos e redações é preciso escrever para que todos entendam. O mesmo vale na hora de se comunicar com os mais velhos e superiores. O ‘internetês' com suas abreviações só deve ser usado na net.

Sotaques e expressões na mala
Karina Wanzeler, 16 anos, agora em Santo André, já morou em sete cidades: Barcarena (Pará), onde nasceu, Ipatinga (Minas Gerais), Salvador (Bahia), Fortaleza (Ceará), Goiânia (Goiás), São Luiz (Maranhão) e Vitória (Espírito Santo). Além da experiência de conhecer pessoas e lugares diferentes, leva na mala sotaques, gírias e expressões de cada lugar por onde passou. "Falo tudo misturado. Às vezes, nem eu me entendo", diz a menina, que já viveu situações engraçadas. "Fui pedir ‘pão careca' na padaria e a moça ficou sem entender que eu queria pão frâncês."

Na escola, os colegas ainda estranham. "Não conseguia fazer um trabalho e disse ‘égua'. Minha amiga olhou com cara de interrogação." Égua no Pará é ‘poxa vida'. "Depois que descobriram o que é, também estão falando", conta Karina, que adora exercitar o idioma. "Tento sempre escrever na forma correta, até na internet. Devemos tratar a língua com respeito."




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