Ano passado,o problema mais recorrente dos recalls automotivos envolveu os sistemas de airbags
Por Vinicius Melo*
O recall passou a fazer parte da vida do brasileiro. No ano passado foram realizadas 107 campanhas automotivas (não incluindo motos e caminhões), que envolveram 192 modelos de 25 fabricantes. Só em janeiro de 2020 nove fabricantes convocaram nove chamados diferentes, que englobaram 25 modelos.
No entanto, dados da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) do Ministério da Justiça e Segurança Pública mostram que a adesão dos brasileiros ao chamamento deixa a desejar. É aí que mora o problema. O instituto do recall tem por objetivo proteger o consumidor. Vale reproduzir o que diz o primeiro parágrafo do artigo 10 do Código de Defesa do Consumidor: “O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários”.
No ano passado, por exemplo, o problema mais recorrente dos recalls automotivos envolveu os sistemas de airbags. Em segundo lugar ficaram problemas com softwares. Em terceiro, a necessidade de reparos em sistemas elétricos e de direção.
A baixa adesão às campanhas levou o governo a determinar, em julho de 2019, que a não adesão a um chamamento até um ano depois da sua divulgação irá gerar um registro de recall pendente no licenciamento do veículo. Por conta dos recalls registrados em anos anteriores, já existem CRLVs sendo entregues no Brasil com registro pendente.
Não é demais reforçar que a convocação é feita nos casos em que há ameaça de riscos à saúde e à segurança do consumidor e de terceiros. Por isso, é importante o proprietário não use o veículo até que o problema seja solucionado.
Deixar de atender um recall coloca em risco quem está no seu veículo, nas ruas e em outros automóveis. Agora, portanto, é mais imperativo ainda ouvir o pedido das montadoras e levar seu carro para ser reparado. Pensem no caso do Honda Civic fatal ocorrido recentemente no Rio de Janeiro (RJ).
*Vinicius Melo é CEO do Papa Recall, aplicativo que avisa o motorista se o automóvel cadastrado teve algum chamado da fabricante para conserto ou troca de peças.
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De dedo decepado a combustão espontânea: confira os recalls mais bizarros do Brasil e do mundo:
Fiat Tipo: depois que algumas unidades pegaram fogo sozinhas, a Fiat convocou um recall para substituir o tubo convergedor de ar quente do motor. Mesmo com a manutenção, alguns veículos continuaram pegando fogo, e foi preciso fazer um segundo chamado para consertar vazamentos de fluido da direção hidráulica, já que o líquido vazava pelo escapamento e provocava os incêndios
Ford Pinto: o veículo, que foi barrado no Brasil por conta do nome sugestivo, protagonizou um recall polêmico nos Estados Unidos. Se o carro sofresse uma colisão traseira, o tanque de gasolina podia quebrar e causar uma explosão. Antes de colocar o modelo no mercado, a Ford já sabia do problema, mas fez as contas e percebeu que indenizar possíveis mortes e casos de queimaduras sairia bem mais barato do que regularizar a linha de produção. No final, depois de mortes e ferimentos graves, a montadora convocou as unidades para recall e teve que pagar milhões em indenizações | Foto: 2000Scooby via VisualHunt.com / CC BY-NC-ND
Ford Pinto | Foto: France1978 via Visualhunt.com / CC BY-SA
Citroën C3 Picasso: em 2011, 22 unidades da Inglaterra foram chamadas para recall por conta de um motivo um tanto o quanto exótico: quando o passageiro da frente pisava com força no assoalho do carro, era possível acionar o sistema de frenagem sem querer. Isso acontecia porque as versões inglesas tinham os volantes e pedais migrados para o lado direito da cabine, mas o mecanismo continuava passando por baixo do forro do assoalho da parte esquerda (do passageiro). A solução foi reforçar o isolamento dos fios | Foto: RL GNZLZ via VisualHunt / CC BY-SA
Citroën C3 Picasso | Foto: RL GNZLZ via VisualHunt.com / CC BY-SA
Mercedes-Benz Classe A: durante seu lançamento mundial em 1997, o modelo capotou quando participava do “teste do desvio do alce". Para evitar que a situação se repetisse, a montadora implantou um sistema eletrônico de estabilidade e fez mudanças na suspensão sem alterar o valor final do carro | Foto: Carlos Octavio Uranga via Visualhunt.com / CC BY-NC-ND
Mercedes-Benz Classe A | Foto: Carlos Octavio Uranga via Visual hunt / CC BY-NC-ND
Airbags mortais: Ao menos 16 pessoas morreram por conta das bolsas infláveis defeituosas da empresa japonesa Takata. Os itens projetaram fragmentos contra os ocupantes. O escândalo foi revelado em 2014 e já atingiu grandes montadoras, como Honda, Toyota, BMW e General Motors, que precisaram realizar convocações para recall de seus carros | Foto: Divulgação
Toyota Corolla: a má fixação do tapete do carro fazia o item deslizar e travar o pedal de aceleração do veículo. Algumas unidades aceleraram sozinhas e causaram acidentes graves. A Toyota convocou mais de 100 mil unidades brasileiras para fazer manutenções no sistema de fixação dos tapetes e explicar a forma ideal de posicioná-los | Foto: Divulgação
Ford F-150: em 2015, a Ford chamou mais de 12 mil unidades para recall por conta de um problema no sistema de direção. A falha podia provocar a perda de controle da caminhonete e causar acidentes graves | Foto: Divulgação
Chevrolet Sonic: logo após o lançamento do modelo nos Estados Unidos, a GM percebeu que mais de quatro mil unidades saíram de fábrica sem as pastilhas de freio. A falha afetava o desempenho do carro e virou motivo de recall | Foto: Divulgação
Volkswagen Fox: mais de 500 mil unidades vendidas no Brasil contavam com um defeito que decepava a ponta dos dedos das pessoas que tentavam rebater os bancos do carro. Isso porque o sistema era um pouco “arisco” e funcionava como uma guilhotina. A montadora convocou o recall, modificou o sistema e incluiu avisos indicando a maneira correta de posicionar as mãos e os dedos durante a ação | Foto: Divulgação
Chevrolet Saturn Ion, Pontiac Pursuit, Pontiac G5, Cobalt, Saturn Ion, HHRs, Pontiac Solstice e Saturn Sky: outro caso polêmic é o recall de mais de um milhão de unidades da GM nos Estados Unidos. A montadora demorou mais de 10 anos para divulgar que os veículos tinham um defeito na ignição. A falha está relacionada a cerca de 13 mortes acidentais e rendeu uma multa de US$ 35 milhões à empresa norte-americana | Foto: Divulgação
Fiat Stilo: algumas unidades fabricadas entre 2004 e 2010 tinham um defeito que podia causar a soltura das rodas traseiras durante a condução. Depois do registro de acidentes, a Fiat convocou um recall imediato para substituir o conjunto do cubo da roda. A montadora ainda teve que pagar uma multa de R$ 3 milhões por colocar um produto com defeito de fabricação no mercado | Foto: Divulgação
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