Quando chegou à escola, a ministra da Igualdade Racial Matilde Ribeiro já o esperava. Avamileno desceu do Vectra verde, segurando firme as mãos da esposa, e foi cercado pela imprensa. Entrou na escola e ficou parado um tempo em frente às escadas, respondendo aos jornalistas. Vestia roupa discreta, calça cinza chumbo e camisa de mangas curtas, também em tons de cinza, o que ressaltava a estrela vermelha que levava no peito.
O otimismo e confiança de João Avamileno também eram evidentes, e o candidato tentava medir as palavras. “As pesquisas são diagnósticos importantes, e espero que realmente a expectativa se realize. Só houve até agora um confronto direto com o Newton Brandão em eleições, e o Celso Daniel ganhou. Eu era o vice. Hoje, é o João quem vai ganhar do Brandão.”
O prefeito reclamou do tucano e disse que a campanha da Frente Andreense usou negativamente o nome do ex-prefeito Celso Daniel, morto em 2002. “Eles nunca fizeram nada pelo Celso. Nós fizemos. Continuamos o trabalho dele.” Empolgado, disse que dedicaria uma possível vitória nas urnas domingo ao povo de Santo André. “E ao governo Lula”, enfatizou.
Supersticioso declarado, João Avamileno seguiria o mesmo esquema das eleições de 3 de outubro, quando venceu o adversário, ainda que por uma margem de menos de 5% dos votos válidos. O cortejo vermelho contou com as mesmas figuras do primeiro turno: Gilberto Carvalho, chefe de gabinete da Presidência da República; Miriam Belchior, assessora especial de Lula; Luiz Carlos da Silva, o professor Luizinho, deputado federal e líder do governo; e Vanderlei Siraque, deputado estadual. Comitiva que, ao lado de Matilde Ribeiro, formou de novo o pelotão de elite dos eleitores de Avamileno. O prefeito acompanhou cada um deles até suas zonas eleitorais, além da esposa e de sua vice, Ivete Garcia.
Provocação – Ao todo, percorreram oito escolas. Mas Avamileno não seguiu à risca o cronograma, porque uma fofoca o tirou do sério. Pulga atrás da orelha, que não deu para ignorar. Ele recebeu a notícia de que militantes tucanos haviam espalhado o boato de que o PT teve a candidatura impugnada também em Santo André, assim como o amigo Márcio Chaves, de Mauá. “Estão pedindo para votar 45, e não 13, dizendo que não sou mais candidato. Como pode?” – repetia, sem parar, o prefeito.
Ficou difícil para Avamileno manter o humor. Decidiu que o pelotão se separaria para visitar algumas escolas e ver se os eleitores acreditaram no boato. Só depois de entrar numa escola no Parque João Ramalho, o candidato liberou a tensão, perceptível pela testa franzida. Mas em nenhum momento alterou o tom de voz. Mais calmo, depois de ouvir de militantes petistas que ali a mentirinha de última hora não havia colado, ele parou alguns minutos para descansar. Recusou o cafezinho, mas aceitou a bolacha.
Em seguida, Avamileno retomou os planos iniciais e antes parou para o almoço numa churrascaria no bairro Jardim. A mesma do outro domingo eleitoral. Quando a comitiva se preparava para acompanhar os companheiros que ainda não tinham votado, o petista Márcio Chaves entrou no restaurante. Visivelmente abatido, ele recebeu palavras de apoio do grupo do prefeito. “Nunca imaginei que este domingo seria assim. Estou muito frustrado”, desabafou o candidato de Mauá.
Futuro – Avamileno não antecipou nada a respeito de um possível próximo mandato. Contido, uma vez mais lembrou de Celso Daniel, e enrrugou a testa de novo. “Em 2000, quando nos elegemos, já sabia da possibilidade de me candidatar à prefeito nestas eleições. Celso esperava assumir um ministério no governo Lula. A diferença é que esperava que hoje ele estivesse aqui, me acompanhando na decisão.”
Sobre a situação do PT no Grande ABC, Avamileno se diz tranqüilo. “Acredito que os prefeitos que já foram eleitos estão comprometidos com a articulação regional e com as melhorias. Vou me esforçar para conter os atritos”, garantiu.
Ele reconhece que, nas últimas eleições municipais, foi mais fácil para o PT garantir a vitória, quando Celso Daniel venceu ainda no primeiro turno. Se não fala do que vai acontecer dentro de dois meses, ele até comenta, com gosto, os planos para o final do dia. “Se eu ganhar, nesta segunda-feira à noite vamos ter festa no Clube de Portugal.” Comemoração que deve ser regada a vinho tinto seco, bebida preferida de João Avamileno.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.