"A revisão (do cumprimento das metas do acordo vigente) era para ser feita em junho, quando correspondia, ou será feita no próximo ano. Agora é preciso conversar com mercado", afirmou o ministro ao jornal La Nación.
A decisão do governo do presidente Néstor Kirchner foi conhecida um dia depois que o próprio Lavagna divulgou uma severa crítica ao FMI por sua atuação ante a crise argentina. O ministro afirmou, em um documento, que o Fundo comentou "erros crassos" no exame da crise que incluiu a desvalorização do peso, em janeiro de 2002, e disse que o instituto "não parece estar preparado para essas situações".
Nesta semana, o diretor-geral do FMI, Rodrigo de Rato, anunciou o adiamento para setembro da terceira revisão do desempenho argentino, segundo o programa acertado em setembro passado, o que implica uma demora nos empréstimos para a Argentina, que, apesar de tudo, conseguiu superar as metas trimestrais.
A resposta argentina imediata foi que, em setembro, com o aval do FMI ou sem ele, oferecerá formalmente aos credores a troca de seus títulos da dívida em 'default' desde dezembro de 2001 por bônus da dívida reestruturada com a proposta de desconto. Por isso Lavagna afirmou este sábado que agora "precisa conversar com o mercado".
Quanto ao adiamento proposto pelo diretor do FMI, o ministro assegurou que "não há problemas quanto a isso" e disse que a terceira revisão não deve se sobrepor à quarta, em setembro, quando, além disso, devem ser definidas as metas fiscais para 2005 e 2006.
A situação pode agravar-se ainda mais se a Argentina, como já fez em adiamentos anteriores do FMI na aprovação de revisões, se negar a continuar honrando seus compromissos junto ao organismo.
A Argentina, que no total deve USU 21 bilhões a organismos multilaterais, mas se mantém em dia com seus compromissos, tem vencimentos de US$ 1,8 bilhão no correr de 2004, equivalentes a 10% de suas reservas internacionais, dos quais US$ 700 milhões devem ser pagos agora em setembro.
Em setembro passado, a Argentina e o FMI alcançaram um acordo que transformou o país sul-americano no primeiro a não receber recursos extraordinários do sistema financeiro internacional ante uma situação de mora de sua dívida.
Então foram programados com minúcia de relojoeiro empréstimos de assistência do organismo quase simultâneos e pouco menos equivalentes aos pagamentos que a Argentina iria realizando para atender a seus vencimentos, com o que vai reduzindo sua dívida de maneira gradual.
Por isso, os adiamentos do organismo em analisar as contas argentinas prejudicam os interesses desse país, e já são considerados por Buenos Aires uma pressão em favor de uma melhor oferta aos credores privados e de medidas estruturais superiores ao desempenho macroeconômico.
Lavagna comentou diplomaticamente este sábado a posição fixada na véspera pelo subsecretário do Tesouro dos Estados Unidos, John Taylor, que disse que nem seu governo, nem o FMI devem interferir na negociação com os credores.
"Está em sintonia com a postura que deve adotar um organismo como o Tesouro", afirmou Lavagna, apesar de outras fontes de sua pasta falarem de um sentimento de decepção.
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