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Maluf usará 'nada a declarar' em depoimento a promotores
15/06/2004 | 00:05
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O pré-candidato a prefeito Paulo Maluf (PP) vai nesta terça-feira à Promotoria de Justiça da Cidadania, acatando intimação dos promotores que o investigam por suposto enriquecimento ilícito e improbidade administrativa, mas decidiu que não responderá a nenhuma pergunta que lhe fizerem - nem sobre denúncias que o vinculam a empreiteiras contratadas para grandes obras públicas da gestão dele na Prefeitura de São Paulo (1993-1996), muito menos sobre contas milionárias em paraísos fiscais, das quais seria o principal beneficiário.

A estratégia do ex-prefeito é ganhar tempo, livrar-se do cerco do Ministério Público (MP) e abrigar-se no rito moroso da Justiça. Orientado por advogados especialistas em direito civil e penal, Maluf deverá fazer uma única declaração: "vou prestar todas as informações à Justiça."

O silêncio - direito que lhe cabe na condição de investigado - foi adotado por Maluf no primeiro encontro que teve com os promotores, em outubro de 2001. Ele não respondeu ao interrogatório, mas foi surpreendido à saída por uma equipe da PF (Polícia Federal) que o escoltou até a Delegacia de Ordem Política e Social (Dops) para depor em inquérito sobre ilícitos eleitorais.

Naquela ocasião, no entanto, os promotores ainda não tinham em mãos documentação que indica ligação do ex-prefeito com a Blue Diamond, offshore das Ilhas Cayman que movimentou fortuna no Citibank de Genebra (Suíça) no período entre 1985 e 1997.

Os papéis bancários chegaram ao Brasil em março, depois de três anos de negociações judiciais e diplomáticas. Os promotores convocaram Maluf no início de maio, mas ele escapou do incômodo compromisso ao obter liminar em habeas-corpus concedida pelo presidente do TRE (Tribunal Regional Eleitoral), desembargador Álvaro Lazzarini. A medida que desobrigou o ex-prefeito de depor sobre ativos financeiros no exterior foi revogada há duas semanas, por decisão unânime do Pleno do TRE, que acolheu voto da desembargadora Suzana Camargo.

Garagem - Nesta segunda-feira, a defesa de Maluf confirmou a ida dele à Promotoria. Um dos advogados pediu ao promotor Sílvio Marques - que conduz inquérito civil sobre o dinheiro que Maluf teria desviado do Tesouro municipal - autorização para que o ex-prefeito pudesse estacionar o carro, um blindado Nissan Máxima, na garagem do MP - exatamente onde os promotores guardam os veículos. Marques disse que não era a autoridade competente para decidir sobre a questão e sugeriu ao defensor de Maluf que encaminhasse o pedido à Procuradoria-Geral de Justiça, o que não ocorreu.

Os promotores reservam muitas perguntas a Maluf - ainda que o ex-prefeito ignore o interrogatório, as indagações serão formalmente registradas. Além das contas na Suíça e nas Ilhas Jersey, os promotores querem saber sobre esquema de propinas denunciado por testemunhas, entre elas Simeão Damacesno (ex-gerente financeiro da Mendes Jr), Armando Mellão Neto (ex-presidente da Câmara Municipal) e Nicéa Camargo (ex-primeira-dama do município).

"É mais uma oportunidade que o Ministério Público dá ao ex-prefeito para explicar ou rebater as gravíssimas acusações que pesam contra ele e sua família", avisa Marques, munido de dados obtidos com a quebra do sigilo de empreiteiras, doleiro, subempreiteiras e laranjas.




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