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Cardozo atua para investigar aliados
Sergio Kapustan
Do Diário do Grande ABC
24/07/2005 | 08:28
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Seis anos depois de presidir a CPI da Máfia dos Fiscais – cuja investigação levou à cassação e prisão de políticos envolvidos em denúncias de corrupção na Prefeitura de São Paulo – o deputado federal José Eduardo Martins Cardozo (PT-SP) atua em nova CPI, a dos Correios, com a mesma missão. Mas desta vez os investigados não são adversários, mas petistas e aliados do governo Lula. "Investigar para cortar o seu próprio corpo é uma coisa muito dolorosa que gera contrangimentos e tensões", diz Cardozo ao Diário ao analisar a crise mais séria do partido em 25 anos de história.

Cardozo havia participado das investigações dos casos Lubeca e CPEM (Consultoria para Empresas e Municípios) envolvendo petistas quando eram de oposição. O caso Lubeca foi denunciado na corrida eleitoral de 1989 pelo então candidato Ronaldo Caiado, que era do partido ruralista. Segundo Caiado, a incoporadora Lubeca teria repassado U$ 200 mil à campanha de Lula. O caso CPEM voltou a ser denunciado em 1997 pelo economista e então petista Paulo de Tarso Venceslau. Segundo o economista, Lula teria pressionado prefeituras do PT para contratar a empresa que teria ligações com o seu compadre Roberto Teixeira da Costa. A Justiça não apurou nenhuma ilegalidade nos dois casos.

Em ambas situações, recorda Cardozo, o partido investigou a fundo, agora, quando é governo, tudou mudou. As denúncias envolvem dirigente históricos como José Genoino (ex-presidente do partido) e José Dirceu (ex-ministro-chefe da Casa Civil) criando um ambiente de "tensão aguda", jamais visto no partido. "Não tem como fazer comparação porque os fatos revelados agora são mais dolorosos do ponto de vista ético. A situação atual é muito mais grave".

O deputado garante que a postura, a começar do presidente Lula, é de cortar a própria carne para redimir e unir a legenda. "O fato de um dirigente ter agido mal não atinge todo o grupo. Mais: a contaminação de uma parte não leva a contaminação do todo, mas é preciso evitar ao máximo o confronto de posturas divergentes para maximizarmos as convergências. O importante é a unidade necessária para o PT superar esse momento", declara o petista.

Caixa dois – Opositor do malufismo quando vereador na Câmara de São Paulo, o deputado afirma que a CPI da Máfia dos Fiscais e a CPI dos Correios possuem semelhanças por envolver cargos – elementos de negociação do Executivo com o Legislativo para obter base de apoio e sustentação política – e recursos para campanhas eleitorais (caixa 2) e o bolso próprio. "Isso representa um mecanismo bastante estrábico de estrutura de organização do governo. Na prática, você tem o amesquinhamento do poder Legislativo que passa a integrar o poder Executivo", completa o deputado.

Na sua avaliação, ao defender profunda mudança no sistema político-eleitoral nacional, a CPI da Máfia identificou "uma verdadeira quadrilha que tomou conta da administração paulistana". Ao comparar as duas CPIs, Cardozo diz que a linha de investigação é semelhante por mostrar as deficiências da montagem da máquina administrativa pública e do sistema político-eleitoral.




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