Votação direta permitiria vitória de até 37
deputados, mas votos teriam de ser concentrados
O modelo distritão, no qual os mais votados são eleitos aos Parlamentos, abre possibilidade para o aumento da bancada regional na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal, mas os projetos políticos precisam evitar o êxodo de votos das sete cidades para candidatos de fora da região, além de se escorarem em forças eleitorais já colocadas. O sistema foi aprovado por comissão especial no Legislativo e irá ao plenário.
De acordo com levantamento feito pelo Diário, tomando como base o número de eleitores, votação do último colocado eleito diretamente em 2014 e abstenção registrada em 2016, que se aproximou dos 40%, a região poderia ter até 21 deputados estaduais e 16 federais, desde que todos os votos sejam dados em candidatos do Grande ABC. Hoje, são dois federais e quatro estaduais.
A região possui 2.068.802 eleitores, sendo que aproximadamente 1,2 milhão deles não anulou ou absteve-se no pleito do ano passado. Com o distritão, nomes das sete cidades precisariam mostrar força nas urnas sem depender de coligações proporcionais. Porém, para confirmar o êxito, necessitariam ser conhecidos ou ter a bênção de padrinho político poderoso ou máquina pública.
Caso o distritão estivesse em vigor no pleito de 2014, nove deputados estaduais perderiam o mandato para outras figuras. Na Câmara Federal, oito trocas seriam efetuadas. Essas mudanças, no entanto, não afetariam as figuras políticas do Grande ABC que registraram êxito nas urnas – os federais Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT) e Alex Manente (PPS) e os estaduais Luiz Turco, Luiz Fernando Teixeira, Ana do Carmo e Teonílio Barba (todos do PT), além de Orlando Morando (PSDB) e Atila Jacomussi (PSB), que foram eleitos prefeitos em 2016.
Na visão do especialista em marketing político e advogado Daniel Falcão, a nova proposta desfavorece as agremiações políticas. “Enfraquece os partidos políticos no Brasil, perde a possibilidade do voto em legenda e a tendência é de quem já tem mandato ficar, pois já tem know-how de campanha e isso beneficia os políticos.”
A mesma opinião é compartilhada pelo ex-deputado federal Vanderlei Siraque (PCdoB), que deve disputar o pleito do ano que vem. “A proposta despolitiza a política. Somente os grandes milionários se elegeriam. Muito menos cidadãos e cidadãs se arriscariam a serem candidatos e isso acaba, por tabela, com as cotas das mulheres.”
Por outro lado, Alex Manente defendeu a proposta do distritão. “Independentemente da região, é o modelo mais justo, pois elege os mais votados. Também considero a melhor maneira de transição para o modelo distrital, previsto para entrar em vigor em 2022.”
Para o especialista em Políticas Públicas da UFABC (Universidade Federal do ABC) Ivan Fernandes, os candidatos do Grande ABC possuem dificuldades por conta da proximidade com a Capital.
“Boa parte dos eleitores, até por conta da televisão, acaba envolvida mais nos debates de lá do que em temas locais. Na comparação com outras regiões, com Ribeirão Preto e São José do Rio Preto, isso acontece com menos frequência e questões paroquiais são melhor discutidas pela mídia”, explicou.
PT deve apostar na força de ex-prefeitos
Diante da possibilidade de mudança na regra eleitoral, o PT pretende apostar em nomes conhecidos para o ano que vem. A estratégia seria aproveitar o potencial eleitoral de ex-prefeitos como Donisete Braga, de Mauá, José de Filippi Júnior, de Diadema, e Luiz Marinho, de São Bernardo para impulsionar a bancada nos Parlamentos.
“Se vier o distritão, vamos lançar número pequeno de candidatos, seriam os 15 que já estão (na Assembleia Legislativa) e talvez mais uns dez”, afirmou o deputado estadual Luiz Fernando Teixeira (PT).
Por outro lado, o PSDB deve apostar em nomes novos, como o presidente da Câmara de São Bernardo, Pery Cartola, e os vereadores de Santo André Jobert Minhoca e Pedrinho Botaro. Há discussão de filiação de quadros destacados para o ano que vem, como o vice-prefeito de São Bernardo, Marcelo Lima (SD).
Outras apostas que devem ser feitas na região dizem respeito a projetos de políticos ligados a prefeitos, como os presidentes do Legislativo de Mauá, Admir Jacomussi (PRP), e de Marcos Michels (PSB), de Diadema. Almir Cicote (PSB), que comanda a Câmara de Santo André, também pretende lançar candidatura em 2018.
Para o especialista em políticas públicas da UFABC Ivan Fernandes, a estratégia de lançamento de candidaturas deve observar o tamanho do município. “Cidades maiores poderão ter vantagem, mas aumenta demais o custo de coordenação entre os partidos. Por exemplo, uma legenda pode ter dez nomes viáveis, mas apostar em dois candidatos que concentrariam os votos, evitando assim o aumento de custos da campanha”, definiu.
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