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Pesquisa: China poderá ter um desequilíbrio populacional
Da AFP
04/12/2003 | 14:08
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A política de um filho por casal na China, segundo a qual muitos têm preferência por meninos, é a causa de um potencialmente perigoso desequilíbrio entre homens e mulheres na população, conforme um estudo publicado nesta quinta-feira.

Médicos italianos compararam a diferença na proporção de nascimentos entre chineses residentes na China continental e imigrantes na região da Toscana, centro da Itália. Entre os exilados, a diferença dos nascimentos entre meninos e meninas foi semelhante à da população italiana e dos países industrializados em geral.

Os cientistas observaram que o número de meninos superou o de meninas por uma pequena maioria: 0,65% ou menos. Enquanto isso, na China, dados do censo oficial de 2000 indicam um abismo entre homens e mulheres de cerca de 17%, segundo o estudo, publicado no Jornal de Epidemiologia e Comunidade (JEC), órgão da Associação Médica Britânica (AMB).

"A regra de 'um filho por família' parece ser uma causa importante do aumento da proporção de nascimento de bebês do sexo masculino, observada na China nos últimos 20 anos", continuou o estudo.

O medo da punição pela política demográfica de 1979 está levando as famílias a fazer o aborto seletivo de fetos do sexo feminino ou ocultar o registro de bebês meninas, destacou.

O estudo se baseou nos registros de nascimentos na Toscana entre 1992-2002, durante um programa de acompanhamento da fibrose cística. Imigrantes da República Popular da China mudaram-se constantemente para a região na última década e chegavam a 17,4 mil pessoas no final de 2002 entre uma população de 3,4 milhões.

Os autores, dirigidos por Filippo Festini, do Hospital Pediátrico Meyer, na Universidade de Florença, notaram que as proporções de gênero na Toscana eram as mesmas, mesmo não havendo evidências de que os imigrantes chineses haviam abandonado suas preferências culturais por um filho homem e tendo acesso à ultrasonografia, à assistência médica durante a gravidez e aborto de graça.

Festini disse que os dados não incluíram o tamanho padrão de uma família de imigrantes. Mas a evidência curiosa é que as famílias de imigrantes são maiores do que na China. Como não são regidos por leis chinesas, os imigrantes tendem a ter, em média, "dois filhos ou até mais. Eles tentam de novo até ter um menino", disse Festini.

"Você pode argumentar que a política de um filho por família salvou a China de muitos problemas relativos a recursos e superpopulação, mas ao mesmo tempo, você não pode ignorar o problema de estritas proporções de gênero", afirmou.

O equilíbrio entre meninos e meninas tende a decair gradativamente, devido à maior mortalidade dos meninos na infância e na adolescência.

"No entanto, até 2010, a cada ano haverá mais um milhão de adultos na China que não conseguirá encontrar um parceiro. Pode-se imaginar as conseqüências sociais disso", continuou. Em agosto passado, a China lançou uma campanha em sua rede de clínicas de planejamento familiar para tentar reprimir a prática de abortos de fetos femininos.

A preferência por meninos é profundamente fixada na cultura chinesa, especialmente na área rural. Herdeiros homens tradicionalmente cuidam do dote da família, enquanto as mulheres o levam para outra família ao se casarem.




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