Cinco índios da aldeia Panambizinho, a 25 quilômetros da cidade de Dourados, no sul do Mato Grosso do Sul, tentaram o suicídio nessa quarta-feira (08). Eles beberam cachaça misturada com os herbicidas Novacron e Secante. Morreram
três - Sivone Aquino, de 15 anos, Sulmara Arce, 12 anos, e
Valdelen Juca Pedro, 20. Os corpos foram sepultados nesta quinta-feira (9) no
cemitério da aldeia.
O grupo ainda chegou com vida ao Hospital da Missao
Evangélicas Kaiowas, em Dourados. Luciene Arce, de 15 anos, está
internado em coma e um índio nao identificado recebeu tratamento
e foi dispensado.
Segundo o chefe do núcleo da Fundaçao Nacional do Indio
(Funai) em Dourados, Wilson Matos, os cinco índios resolveram
juntos o envenenamento. Este ano já foram registrados quatro
suicídios na mesma aldeia. Matos atribui as mortes à tensao na
aldeia por causa da falta de espaço para que os índios possam
viver com dignidade. O ambiente tenso foi confirmado pelo chefe
do posto indígena da Panambizinho, Alexandre Croner de Abreu.
Em Dourados vivem 7 mil índios em pouco mais 6 mil hectares e bem próximos da área urbana. Essa aproximaçao facilita a introduçao de bebidas alcóolicas na aldeia. Quanto à
facilidade de se conseguir veneno para os suicídios Abreu
explicou que os produtores rurais da regiao nao dao a destinaçao
adequada às embalagens de agrotóxicos, deixando-as jogadas no
campo com restos de produtos.
Os dois funcionários da Funai explicaram que há 40 anos a aldeia Panambizinho ficou sem 1.180 hectares de área,
transformados em assentamento da reforma Agrária pelo entao
presidente Getúlio Vargas, O governo de Vargas dividiu os 1.180
hectares em 38 lotes, concedendo títulos definitivos das terras
para o mesmo número de colonos. Sao 38 produtores brancos
ocupando quase 1.200 hectares e 250 índios guarani-kaiowa
vivendo em apenas 60 hectares. A Funai delimitou a área que é
contígua à aldeia, registrou e liberou para os índios. Mas
decisao do ex-ministro da Justiça Nelson Jobim reconsiderou o
direito dos fazendeiros de permanecer na área.
No final do mês passado, um grupo de 200 guarani-kaiowas deteve três funcionários do governo na aldeia. Os servidores estaduais foram avisar os índios sobre o cancelamento da visita
do ministro da Justiça, José Carlos Dias, que havia prometido ir
à aldeia resolver o problema. Com os reféns, os kaiowas
negociaram uma outra data para a visita do ministro, que seria
dia 4 último, também cancelada.
Os produtores rurais querem indenizaçoes das
benfeitorias, cerca de R$ 5 milhoes para deixar o local. Segundo
Wilson Matos um comunicado recebido no início desta semana
informa que o Ministério da Justiça vai comprar a Fazenda Sao
Paulo, vizinha da aldeia, para assentar os colonos e liberar a
gleba para os índios. Segundo informaçoes obtidas no Conselho
Indigenista Missionário existem na regiao nove áreas indígenas
que foram usadas para assentamentos naépoca de Getúlio Vargas.