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Faltou empatia em recital de Witkowski, em Sto.André
Joao Marcos Coelho
Especial para o Diário
05/12/1999 | 17:17
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O que é e em que consiste a interpretaçao; o que sao as notas além de um mero roteiro que ajuda o intérprete a recriar a obra de arte; e, mais precisamente, o que diferencia uma execuçao simplória de uma grande interpretaçao?. Estas foram algumas das perguntas que ficaram no ar, após o recital do jovem pianista Fábio Witkowski no Teatro Municipal de Santo André na sexta-feira passada, dentro da série Concertos Grande ABC.

Vamos aos fatos: Fábio é tecnicamente talentoso, competente e entusiasmado. Seu currículo nos autoriza a esperar um bom recital, pois nada havia de errado com o programa escolhido: uma sonata de Mozart, três peças de Chopin e a Grande Sonata em si menor de Liszt.

Impossível subestimar sua inteligência, mas parece óbvio que ele entendeu pouquíssima coisa das peças constantes do programa. Aparentemente, só as notas. Embora sejam a matéria-prima concreta da música, as notas nem de longe têm a pretensao de expressá-la. É preciso enxergar além delas. A Sonata em dó menor, k. 457, de Mozart, por exemplo. Fábio tocou os seus três movimentos como se fossem peças independentes - e elas integram uma obra com começo, meio e fim. Nao se pode escrever uma frase assim: O rato. Roeu. A Roupa. Do. Rei. De Roma (com pontos finais). Com a frase musical acontece a mesma coisa.

Todo intérprete também deve construir uma visao pessoal da peça, porém depois de estudar, pesquisar e entender em sua plenitude nao só o estilo musical da época como a posiçao que ocupa a peça no conjunto da obra e evoluçao técnica do compositor. Ou seja: jogar-se inteiro na interpretaçao, sim. Mas com conhecimento de causa. E isto certamente faltou nas três peças de Chopin e sobretudo na Grande Sonata de Liszt.

Uma série de variáveis, no entanto, pode ter contribuído para uma performance dessas. Talvez Fábio nao estivesse em seus melhores dias (é a primeira apresentaçao sua a que assisto). Ou, até mesmo, pode ser que ele nao tenha trabalhado suficientemente este repertório. Já vi muito pianista de livre trânsito internacional em performances decepcionantes (caso específico do Arthur Moreira Lima, um notável pianista que dia sim, dia nao apresenta-se sem ter estudado o repertório, provocando verdadeiros desastres).

Ora, isso nao invalida o imenso talento de Moreira Lima. Nem o de Witkowski, que tem uma carreira pela frente. Condiçoes técnicas ele possui. Se trabalhar direito poderá chegar lá.




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