Ao solicitar meu passaporte e consultar a reserva durante o check in, a recepcionista do hotel Balmoral, um dos mais luxuosos de Edimburgo, na Escócia, abriu um sorriso de fora a fora do rosto e disse: “Uau, você está na J.K. Rowling Suite. Venha comigo, eu vou te acompanhar”.
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Minutos depois, já no quinto andar do empreendimento, um longo e estreito corredor tomado por portas brancas revelou-se à minha frente. De cara, meus olhos foram atraídos para o final dele, onde, em uma esquina, despontava uma porta roxa, com detalhes dourados. Entre eles, uma coruja, o número do quarto, 552, e a placa com os dizeres “J.K. Rowling Suite”.
Foi ali que a escritora britânica se hospedou por seis meses, do fim de 2006 ao início de 2007, para terminar de escrever “Harry Potter e as Relíquias da Morte”, o último livro da saga do bruxinho. Cansada das interrupções cotidianas em sua casa, Rowling aproveitou-se do fato de que já acumulava uma grande fortuna e se mandou, de mala e cuia, para o Balmoral, hotel em que ele sempre gostou de ficar quando visitava Edimburgo.
Durante o período em que ali esteve, a autora de Harry Potter encantou-se com a discrição dos funcionários. Foram muitos dias de hospedagem e, mesmo assim, praticamente ninguém ficou sabendo de seu “refúgio secreto”, o que deu a ela a tranquilidade necessária para terminar a obra.
Como uma espécie de “contribuição”, pouco antes de sair do hotel, Rowling deixou um recado escondido atrás de um busto do deus grego Hermes, que enfeitava o quarto. Ela lapidou na pedra a mensagem: “JK Rowling terminou de escrever Harry Potter e as Relíquias da Morte neste quarto de hotel (552), em 11 de janeiro de 2007″.
Bastou a escritora revelar a brincadeira tempos depois – inclusive com uma solicitação do tipo “nunca façam isso” – para que a suíte 552 do Balmoral se transformasse em objeto de desejo de fãs do mundo inteiro, que chegam a pagar entre 1.000 e 2.500 libras por diária para se hospedar no mesmo local em que a história do bruxinho foi finalizada. E ali, eles encontram muita diversão.
Com os privilégios de um repórter de turismo, lá estava eu com o cartão magnético em mãos para acessar a suíte, onde me hospedaria por duas noites. Assim que a porta roxa se abriu, a recepcionista do Balmoral me contou a história da ilustre celebridade que lá esteve e me apontou um quadro, no qual há uma gravura de Harry Potter e, logo abaixo, a transcrição do recado deixado por Rowling no quarto.
O famoso busto com a mensagem original também está ali, logo ao lado, entre três pequenas janelas e, agora, protegido por uma redoma de vidro. É preciso olhar com atenção na parte de trás da obra para enxergar o recado, hoje praticamente apagado.
Por anos, a escrivaninha original em que Rowling acabou de escrever a saga também foi mantida na suíte 552 do Balmoral, mas os móveis foram trocados após uma reforma em 2016. Em compensação, diversas outras referências a Harry Potter foram inseridas na suíte, a começar pela pintura roxa da porta. A nova decoração do quarto foi projetada pela designer Olga Polizzi.
Hoje, quem entra na acomodação de 17 metros quadrados encontra um estreito hall de entrada revestido com um papel de parede com desenhos de estrelas, colocado ali justamente para que o hóspede absorva de cara um certo clima de magia. Adiante, uma porta dá acesso a um lavabo e, em seguida, surge a sala principal da suíte, com uma linda mesa de jantar de madeira, um pequeno corredor com binóculos para quem deseja apreciar a vista, sofás, poltrona, TVs, escrivaninha, cômoda e o busto de Hermes.
Neste espaço, o papel de parede remete a uma floresta, com muitos galhos e folhas. Travesseiros laranjas são usados na decoração, bem como estantes com prateleiras vermelhas, onde há objetos como corujas, globos terrestres, máquina de datilografar e livros, muitos livros. Inclusive, todos da saga Harry Potter.
À direita da sala, justamente ao lado de onde ficava a escrivaninha usada pela famosa escritora, está o quarto principal da J.K. Rowling Suite, com cama king size da Glencraft (mesma empresa que projeta as camas da monarquia britânica no Castelo de Balmoral, na Escócia), TV, poltrona e alguns móveis de antiquário. Há ainda um pequeno closet e o banheiro principal, amplo, com chuveiro e banheira em mármore Carrara. Os amenities são da conceituada grife Asprey.
Devo confessar que é um grande barato passar o tempo ali, imaginando os passos e os costumes de J.K. Rowling enquanto ela colocava no papel o final de Harry Potter.
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Mais divertido ainda é abrir a porta roxa de vez em quando e ver alguns hóspedes curiosos do Balmoral ali parados, muitas vezes assustados com o movimento repentino e sem conseguir esconder a expressão de: “nossa, quem será esse aí que conseguiu se hospedar nesta suíte tão badalada?”.
Diante daquela cena, eu sempre ria e pensava baixinho: calma, minha gente, não é ninguém especial. Na verdade, é só mais um trouxa!
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