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'Meu Amigo Hindu', de Babenco, encarna espírito da 39ª Mostra de Cinema
21/10/2015 | 08:00
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É uma longa de história de afeto, a de Hector Babenco e a Mostra. Em 1977, o jovem Babenco, com 31 anos, recebeu o prêmio do público na primeira edição do evento criado por Leon Cakoff. O filme era Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia. Em 2007, Babenco criou o cartaz da 31ª Mostra e, para muita gente, é um dos mais belos.

Caracterizado de Leon Cakoff, o diretor deixou-se fotografar como um homem-sanduíche, carregando um cartaz em que anuncia comprar ouro. A metáfora era clara - Cakoff, através da Mostra, garimpava ouro, isso é, grandes filmes, onde eles estivessem. Naquele ano, foi um filme dele que inaugurou o evento - O Passado, uma adaptação do livro de Alan Pauls.

Cabe agora, de novo, a Hector Babenco a honra e a responsabilidade de abrir o maior evento de cinema da cidade, um dos maiores do Brasil (e da America Latina). A Mostra fez história. Familiarizou o cinéfilo paulistano (e brasileiro) com novas tendências e autores e, ao fazer, revolucionou o mercado. Isso para não falar do combate à censura do regime militar. Hoje, fazem parte da lenda da Mostra histórias de como Cakoff usava a mala diplomática de embaixadas amigas para contrabandear filmes proibidos no País. A Mostra é essa história de amor pelo cinema, que Renata de Almeida prossegue, com brilho e tenacidade.

Sua escolha para abrir a 39ª Mostra, na noite desta quarta-feira, 21, numa sessão exclusiva para convidados - no Auditório Ibirapuera -, é a prova. Meu Amigo Hindu, o novo Babenco, inspira-se em histórias da vida do cineasta. Todo mundo sabe da luta de Babenco contra o câncer. O amigo hindu, que ele nem sabe se sobreviveu, era um garoto que dividia com ele a sala de quimio, num hospital nos EUA. Em um novo momento difícil de sua vida, quando achou que ia (de novo) morrer, Babenco entrou numa depressão violenta. Salvaram-no os diálogos imaginários com o amigo hindu, que virou seu interlocutor. Salvou-o, também, e mais ainda, o amor ao cinema. O desejo de voltar a filmar - nem que fosse o último filme.

Meu Amigo Hindu é esse ato de amor ao cinema. Que melhor filme para abrir a Mostra de 2015? "Acho que você vai gostar, é um filme cheio de referências ao cinema", explica Babenco na sala de sua casa, na Vila Nova Conceição. É um filme tão pessoal que parte dele foi rodado no Hospital Sírio-Libanês, onde Babenco já passou por sucessivas internações, e em sua casa. "Aqui se passam 40% das cenas", ele contabilizou numa entrevista realizada em sua casa.

Apontou para o jardim, onde foi clicado. "Por aqui sai a morte." A morte é personagem de Meu Amigo Hindu, jogando xadrez com o protagonista, como no clássico de Ingmar Bergman, O Sétimo Selo. "São várias referências. Meus amigos se divertem tentando se identificar na tela, mas, para o cinéfilo, o jogo é outro. Não cito todos os filmes que me marcaram, mas alguns poderão ser identificados por quem conhece."

Babenco agradece o golpe de sorte. Foi ver a montagem de Bob Wilson com Willem Dafoe e Mikhail Baryshnikov no Sesc Pinheiros, The Old Woman. Saiu para jantar com o elenco. Sentou-se ao lado de Dafoe. Trocaram gentilezas, mas algo houve, de mais profundo. Dafoe conhecia seu trabalho. Queria saber de novos projetos. Babenco falou do Amigo Hindu. Dafoe pediu para ler o roteiro. O diretor disse que ainda estava sendo traduzido, ia demorar um pouco. Achou que o assunto morria ali. Ao chegar em casa, havia um recado do tradutor, dizendo que conseguira terminar a tradução para o inglês.

Num impulso, Babenco deixou uma cópia no hotel, com um bilhete. Em três semanas, Dafoe entrou em contato com ele. Queria fazer o filme. Filmaram em São Paulo entre 27 de novembro do ano passado e 6 de fevereiro deste ano. Maria Fernanda Cândido, Bárbara Paz e Reynaldo Gianecchini estão no elenco, o último como Drauzio Varela. A morte que serve como afirmação da vida, e o amor pelo cinema.

Na quinta-feira, 22, a Mostra começa para o público, com 312 filmes representando 62 países, em 22 pontos de exibição de São Paulo. Maratona, festa do cinema. Deem o nome que quiserem. É a Mostra. E com Babenco.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.




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