D+ Titulo
Paquerar é uma arte e
levar um fora faz parte
Marcela Munhoz
Do Diário do Grande ABC
10/04/2011 | 07:01
Compartilhar notícia


No dicionário, xavecar significa ter comportamento imoral, enquanto paquerar é demonstrar interesse amoroso (engraçado, não?). Independentemente da palavra que se usa, o objetivo é o mesmo: conquistar. E assim como dançar, cantar, pintar e atuar, xavecar também é uma arte e requer observação e muita paciência.

"Conquistar alguém é como jogar videogame: os pontos vão sendo acumulados, os segredos descobertos e as fases vencidas aos poucos até zerar o jogo", compara Ailton Amélio da Silva, psicólogo especializado em relacionamento amoroso. Segundo ele, é uma etapa importante que não deve ser realizada com pressa. "É empolgante. Dá frio gostoso na barriga. Por isso, não custa treinar. O máximo que pode acontecer é levar um fora."

Para o jornalista Fabiano Rampazzo, que tem livros e dá palestras sobre o assunto, paquerar é como andar de bicicleta: depois que se leva alguns tombos (foras), vai se aprendendo as técnicas. "Viver diferentes histórias é importante para saber como lidar com reações diversas."

Se na adolescência há a liberdade de experimentar sem compromisso, ao mesmo tempo é uma fase de muita insegurança e timidez, o que pode atrapalhar na hora da paquera. Portanto, a dica do jornalista é: permita-se errar. "O medo da rejeição faz com que as pessoas não arrisquem, mas até os mais populares já foram rejeitados uma vez na vida."

Pensando assim, vale até chegar junto dos ‘mais mais' da escola, por que não? Justamente por existir o mito do inatingível, ninguém arrisca. Seja diferente, surpreenda, saia do óbvio. "Trate a pessoa como alguém comum, como realmente ela é. Às vezes, está tão cansada de gente babando ovo, que vai achar bem legal a sua atitude e reparar em você", ensina Fabiano.

SEGURANÇA É TUDO

Meninos e meninas reparam muito na aparência física, não há como negar. Mas no jogo da paquera outras qualidades também contam pontos. Um exemplo é o personagem Sherk. O ogro feio e grosso conquistou a princesa mais linda do reino. Como? Com sua generosidade e sinceridade. "Ele potencializou suas principais qualidades e mostrou segurança", explica Fabiano Rampazzo. Mas, claro, se depois de um tempo não rolar um climinha e química, não adianta nem gastar a lábia. A melhor coisa é partir para outra.

Decifrando os sinais - Cada caso é um caso e isso também vale para o xaveco. Mas há sinais que podem significar se a pessoa está ou não a fim. De acordo com o ‘personal paquera' Daniel Madeira (ele dá workshops para meninos acima de 18 anos sobre como xavecar) a comunicação deve ser 90% da investida, sendo o restante dividido entre o que se fala (7%) e o tom da voz (3%). "O corpo mostra interesse, é preciso observar. Se a pessoa está a fim, sorri. Se não está curtindo, cruza os braços", diz.

Outra dica é não se aproximar muito. O ideal é manter cerca de 50 centímetros de distância, já que, especialmente a garota, não gosta de se sentir invadida. Tocar sem nem perguntar o nome também não é legal. Há uma escala de toques na lista do personal que deve ser seguida: primeiro beijo no rosto, depois encosta ‘sem querer' no punho, na mão, no braço e solta. Quando percebe que a pessoa está correspondendo, é hora de arriscar um beijo. "Não adianta só ficar na conversa e não partir para o ataque. Se demora muito, esfria e acaba virando amizade."

Então, o que falar durante o bate-papo? Para o especialista Fabiano Rampazzo, quanto mais autêntico o xavequeiro (a) for, melhor, já que ninguém desempenha melhor o papel de si mesmo do que a própria pessoa. "Diga o que pensa, mas ouça também. Discretamente, busque o máximo de informações da paquera para ter o que conversar."

Já para Daniel Madeira, umas mentirinhas de leve não fazem mal. "Xavecar é contar histórias até que a pessoa crie empatia. Nada mais chato do que papo que parece entrevista de emprego", diz o personal, que acredita que essa técnica funciona mais em balada. "Na escola, por exemplo, há mais tempo para conhecer a pessoa. Tem de ter mais paciência."

E a pergunta que não quer calar: as meninas podem tomar a iniciativa? Para Fabiano Rampazzo, é importante que a abordagem venha dos garotos porque o homem precisa se sentir no comando. "Malandra é a menina que consegue fazer com que o cara ache que foi tudo mérito dele." Mas o psicólogo Ailton Amélio da Silva acredita que os mais tímidos, especialmente, adoram quando são paquerados, desde que a abordagem não seja 100% direta. "É preciso jogar um charme antes."

 

Internet ajuda, mas real é essencial - De acordo com pesquisa do Badoo.com (que une rede social com site de relacionamento), Santo André é a cidade em que mais se paquera no Brasil (na frente de Desterro, Campinas e São Bernardo). A Liga Nacional do Flerte levou em consideração o número de paqueras on-line iniciadas por mês. Realmente a internet facilitou a vida dos xavequeiros e xavequeiras. "É bem mais fácil conversar por MSN ou Facebook. Não dá tanta vergonha", conta Heitor Kubota, 14 anos, que acredita que a web sirva mais para conhecer a pessoa. "Depois precisa marcar um encontro na vida real para ver se dá certo."

O ator de Rede Social Jesse Eisenberg, que acabou de passar pelo Brasil para o lançamento da animação Rio, declarou que a melhor maneira de dizer que tem sentimentos por alguém é mandando uma mensagem de texto e, se possível, com um emoticon. Segundo ele, se levar um fora é só falar para a pessoa que estava brincando e que seu dedo escorregou na hora de enviar.

Mas, para o escritor do livro Xaveco Virtual, Fabiano Rampazzo, há sinais a serem decifrados também na rede. Segundo ele, quando há interesse, é importante a conversa virar particular, com mensagens diretas. "Não dá para convidar a pessoa publicamente para ir ao cinema no Face, por exemplo. Além disso, outras chances de xaveco com possíveis candidatos (as) não são eliminadas. Ninguém curte meninos e meninas que chamam um monte de gente para sair ao mesmo tempo."

 

Dicas dos caras - Não dá para falar sobre xaveco sem trocar ideia com uma galera que está descobrindo a arte. O D+ visitou o Instituto Educacional Cecília Meireles, em Santo André, para conversar com meninos e meninas que estão com o assunto na ponta da língua. Muita gente ficou vermelha de vergonha e alguns segredos de conquista foram revelados.

De um lado, os meninos defendem a ideia de que as meninas curtem mesmo os caras mais velhos. "É raro a gente chegar nas mais velhas. Nas mais novas é garantido", acredita Henrique Torazzi, 14 anos. Outra coisa que eles batem o pé é na questão da beleza. "Não dá para mentir: a garota precisa ser bonita", acredita.

Inventar mentirinhas para deixar a conversa interessante e pensar em desculpas rápidas na hora de dispensar alguém também fazem parte do manual de paquera dos garotos. "Ih, minha mãe está chegando para me buscar é uma desculpa muito usada", revela Vitor de Moraes, 14, que tenta xavecos prontos de vez em quando. "Uma vez disse para uma menina: ‘Estava procurando a garota mais gata da balada e encontrei você'. Deu certo". Já "Me chama de Restart que eu te levo comigo" e "Você se machucou? Porque parece um anjo que caiu no céu" estão riscadas definitivamente da lista deles.

 

Dicas das Minas - Do outro lado, meninas dizem que a idade não é o mais importante e, sim, a maturidade. "Na conversa, já dá para saber qual é a do garoto, como age e o que pensa", garante Julia Galhardo, 14 anos. Bárbara Mendes, 14, inclusive, já ficou com um menino mais novo. "A gente se conhecia da escola e rolou troca de olhares. Ficamos com a ajuda de um empurrãozinho dos amigos."

A beleza também é fundamental para as garotas, mas o que mais chama a atenção mesmo é se eles estão cheirosos e arrumados. Elas também curtem os educados e românticos, e se asfastam daqueles que se consideram os especialistas da pegação. "É chato menino que fica se achando. A maior parte do que falam é mentira", acredita Alice de Lima, 14.

Quando o assunto é a menina tomar iniciativa, elas admiram quem tem coragem, mas gostam de deixar claro que atitude vulgar é bem diferente. "Não dá para chegar agarrando, fica feio", diz Bárbara Mendes, 14. O mesmo pensa Lilia Conselho, 16. Ela gostava de um garoto e resolveu escrever uma carta para ele. "O menino não respondeu. Mesmo assim foi importante ter feito isso, pelo menos descobri que ele não estava a fim." Só uma observação: os meninos entrevistados acham que mandar carta é brega. Cadê o romantismo hein garotos?




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.

Mais Lidas

;