Economia Titulo Dia da Mulher
Equiparação salarial ainda é desafio

Atriz Patricia Arquette retomou discussão sobre o
tema no Oscar; na região, diferença é quase o dobro

Marília Montich
Do Diário OnLine
08/03/2015 | 07:00
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Fernandes/DGABC


Em meio aos tradicionais agradecimentos durante a cerimônia de premiação do Oscar, um discurso em especial chamou a atenção este ano. Ao defender os direitos das mulheres, Patricia Arquette, considerada a melhor atriz coadjuvante pela academia, arrancou aplausos calorosos da plateia e fez renascer a discussão sobre igualdade entre os sexos.

"A todas as mulheres que deram à luz, todo pagador de impostos e cidadão desta nação. Nós temos lutado pelos direitos igualitários de todos os outros. É nossa vez de ter salários iguais de uma vez por todas e direitos iguais para mulheres nos Estados Unidos da América", disse Patricia, que interpretou uma mãe solteira no filme Boyhood.

A luta não é apenas das norte-americanas. Em geral, a mulher ainda recebe menos do que o homem no mercado de trabalho. Há que se reconhecer avanços sociais, porém ainda há um longo caminho pela frente na busca por uma sociedade mais igualitária. “No Brasil, a participação das mulheres aumentou nos últimos 20 anos, mas ainda temos preconceito não somente da sociedade, como por parte de algumas empresas que entendem que as mulheres tem aquela inconveniente possibilidade de gravidez, de licença maternidade e entendem isso como um empecilho”, afirma a professora de Psicologia da Universidade Metodista de São Paulo Valquíria Rossi.

De forma geral, no Grande ABC os homens ganham cerca de 1,8 vezes mais do que as mulheres em média, segundo dados de 2014 da pesquisa Socioeconômica INPES-USCS, instituto de pesquisa aplicada da Universidade Municipal de São Caetano do Sul. Os número englobam todo o tipo de trabalho, formal e informal. “Não se trata necessariamente de maiores salários, mas sim de diferença de ocupações. Assim, talvez a diferença ocorre no sentido de que ainda há mais homens em atividades mais bem remuneradas do que as mulheres”, explica o gestor do instituto, Leandro Prearo.

O cenário, contudo, vem mudando gradativamente. Em 2010, essa proporção de 1,8 era de 2,0. “Ou seja, há uma tendência de redução dessa diferença, porém bastante lenta”, completa Prearo.

Ainda no que diz respeito à região, a pesquisa aponta que 67% das mulheres estão ocupadas no setor de serviço. Entre os homens, essa proporção é de 49%. O contrário ocorre na indústria, que ocupa 37,4% dos homens e 13,9% das mulheres. Quanto ao grau de escolaridade, 16,9% dos homens têm ensino superior completo. Já entre as mulheres, a proporção é de 15,9%, o que revela que, pelo menos nesse sentido, há uma expectativa de equiparação.

A equipe do Diário foi ao Shopping ABC, em Santo André, para ouvir a opinião das mulheres sobre a condição feminina no mercado de trabalho. Clique aqui para conferir.  

Por um futuro mais justo – Para que se estabeleça um novo cenário social, onde a mulher e o homem estejam em pé de igualdade no mercado de trabalho, é necessário que o pensamento coletivo sofra mudanças, como afirma Valquíria. “Creio que a mulher não precisa hoje provar mais nada para ninguém. Ela é capaz de se destacar nas mais diversas áreas de trabalho, inclusive naquelas áreas onde o domínio era masculino. É preciso, contudo, romper com alguns dogmas do passado, que destinavam a mulher a cuidar da casa e filhos”, diz a professora, que ressalta que se deve trazer os homens para a discussão. “Ter um filho não dura uma licença maternidade, é para sempre. E tanto o pai como a mãe devem fazer parte da vida dele.”

Ainda segundo Valquíria, ações práticas por parte do governo e instituições também são fundamentais para que a sociedade caminhe. “É preciso investir em melhores estruturas de creche públicas e, quando privadas, que tenham preços mais acessíveis, e garantir a inserção da mulher nas organizações. Em países desenvolvidos como a Holanda, por exemplo, existe a possibilidade do horário flexível para os trabalhadores, o que pode auxiliar muito a mulher profissional.”

E os desafios não param por aqui. Para a professora, a próxima geração de mulheres terá de cada vez mais estabelecer o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. “É trabalhar com as trocas, com as concessões. Se eu vou a festa na escola, não vou no aniversário da melhor amiga. Se vou a palestra de um doutor na minha área de atuação profissional, posso não chegar a tempo de dar boa noite ao meu filho. Novamente, aparece o diálogo em todas as relações.”
 




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