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Coronavírus deve gerar perdas de até 10% no faturamento

Indústrias da região já sofrem com falta de componentes importados; entidades estimam prejuízo de R$ 2,5 bi

Yara Ferraz
do Diário do Grande ABC
12/03/2020 | 00:10
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O novo coronavírus foi elevado ao estágio de pandemia conforme anúncio de ontem da OMS (Organização Mundial da Saúde). A doença já provoca desaceleração em toda a economia mundial e também no mercado financeiro (leia mais abaixo), de modo que a indústria regional já projeta perdas no faturamento de 2020, que podem chegar a 10%, dependendo do setor. Considerando a estimativa, as fábricas podem amargar prejuízo de R$ 2,5 bilhões, já que o valor adicionado na região, pela produção, chega a aproximadamente R$ 25 bilhões ao ano.

A estimativa é do diretor titular do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de São Bernardo, Cláudio Barberini Júnior, que relatou as dificuldades das empresas que importam insumos da China. “A sorte é que os empresários se programam para o feriado do ano novo chinês, em fevereiro, quando os trabalhadores param de 15 a 20 dias.”

Segundo o empresário, que também precisou fazer ajustes e deve voltar a produzir aqui peça (canaleta para instalação elétrica) com custo de 30% a mais, o estoque da maioria é para esse período. “Buracos de faturamento vão acontecer porque vamos deixar de ter o produto e, consequentemente, de vender. Tem peças que não se encontra fornecedor, o que acaba inviabilizando a operação”, comentou.

Segundo ele, setores como o de eletrônicos e elétricos tendem a sofrer mais. “Apesar de ainda não acontecer, tem empresas que podem reduzir a produção a zero. A gente não sabe o que vai acontecer”, disse o diretor do Ciesp Diadema, Anuar Dequech Júnior.

O coordenador do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Jefferson José da Conceição, afirmou que a crise do coronavírus atinge economia que já vinha enfraquecida. “Em 2019, o PIB (Produto Interno Bruto) do País cresceu apenas 1,1%. Esperava-se uma recuperação de 2,5% neste ano, entretanto, com a crise, já se fala entre 1% e 1,5%. É fundamental que o País execute uma política anticíclica, de forma a ativar a economia. Defendo a suspensão da lei do teto dos gastos públicos e investimentos pesados em áreas como saúde, construção, educação e pesquisa e desenvolvimento. Sozinha, dificilmente a região conseguirá escapar da crise.”

Dados da balança comercial da região, disponibilizados pelo Ministério da Economia e tabulados pelo Diário, mostram que nos primeiros dois meses do ano o deficit chegou a US$ 96,26 milhões (veja mais na arte acima), o que corresponde a cerca de R$ 454,3 milhões, de acordo com o dólar comercial (cotado a R$ 4,72, ontem).

“O cenário causa insegurança nos investimentos em todo o mercado e alguns deles podem ser suspensos. Pode ser desencadeado um processo de crise”, disse o diretor titular do Ciesp Santo André, que também inclui Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, Norberto Perrella.

“A região, como polo industrial, ainda vai ser bastante afetada”, finalizou o coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero.

CVC informa às lojas cancelamento de cruzeiro da MSC com destino à Itália

Em comunicado interno, destinado às lojas franqueadas, a CVC Corp, operadora de turismo sediada em Santo André, informou o cancelamento de cruzeiro da MSC com destino à cidade de Veneza, na Itália, e embarque a partir de 13 de março. Os clientes que viajariam terão direito a uma carta de crédito.

De acordo com o documento, ao qual o Diário teve acesso, todas as lojas devem fazer o cancelamento para clientes do MSC Sintonia. Nos próximos dias, a empresa afirmou que deve entrar em contato para orientações sobre procedimento de demais navios com roteiros pela Itália.

“Essa viagem de travessia que teria como destino final a cidade de Veneza e com embarques em Santos, Itajaí e Nordeste foi cancelada pela MSC Cruzeiros devido à proibição de viagens para a Itália. A empresa está oferecendo a todos os passageiros carta de crédito, para que o consumidor realize nova viagem até maio de 2021”, informou a CVC.

A MSC informou que, além do Sintonia, alterou o itinerário do Grand Voyage do MSC Fantasia (da Itália para a França, com opção de desembarque em Portugal ou na Espanha). A empresa também destacou que não teve casos de Covid-19 nos navios.

Ibovespa volta a fechar em queda e dólar tem aumento

O pânico voltou a dominar o mercado financeiro ontem, por causa da expansão do novo coronavírus. A classificação de pandemia pela OMS (Organização Mundial da Saúde) levou a B3 a interromper suas operações pela segunda vez em três dias. No mercado de câmbio, o dólar subiu 1,62% e terminou o dia cotado a R$ 4,72.

Depois do anúncio, a bolsa brasileira chegou a cair 12%, mas conseguiu reduzir as perdas e terminou o dia com desvalorização de 7,64%, em 85.171 pontos. No ano, a B3 acumula retração de 26,35%, o que significa R$ 1,03 trilhão. Só a Petrobras perdeu quase R$ 200 bilhões. A bolsa acionou o mecanismo de circuit breaker pela segunda vez na semana e paralisou os negócios pouco depois das 15h, momento em que o dólar bateu em R$ 4,75

As bolsas de Nova York também intensificaram as perdas e o Dow Jones entrou no chamado bear market (mercado de urso), quando os índices caem mais de 20% da máxima histórica, disse o estrategista-chefe da Davos Financial Partnership, Mauro Morelli. Nem o anúncio do FED (Federal Reserve, banco central norte-americano) de elevação de limites para as operações de recompra surtiu efeito.

No mercado de câmbio, o dólar subiu 1,62% e terminou cotado a R$ 4,72. A valorização da moeda ante o real em 2020 está em 17,72%. A divisa subiu de forma generalizada no mercado internacional e ganhou força sobretudo ante moedas da América Latina. (do Estadão Conteúdo) 




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