Economia Titulo Moeda
Inflação do real em 20 anos atinge 369%
Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
04/01/2015 | 07:00
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Divulgação


O real entrou em circulação em julho de 1994 no País. Era visto como a moeda da estabilidade. Junto ao seu plano econômico, foi criado para segurar a inflação, que na verdade apesar de perder a figura do dragão de antigamente, continua um animal indomável, que avança ano a ano. Tanto que já acumula, desde o nascimento da moeda, 369,90% de alta, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou por meio do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) referente a novembro. Esta média de variação abrange os preços às famílias com renda mensal entre um e 40 salários mínimos, o mesmo que R$ 724 a R$ 28.960.

Basicamente, a inflação tem o poder de corroer o poder de compra de uma moeda. Para se ter noção do que significa isso, se um doce custava R$ 1, em julho de 1994, hoje o seu preço é de R$ 4,69. Outra maneira de visualizar essa corrosão é comparar o valor real. Basta entender que R$ 0,21 daquela época é o mesmo que R$ 1 atualmente. 

Mesmo com a moeda perdendo poder de compra, o brasileiro já passou por sufoco ainda maior antes que o real começasse a circular. A inflação acumulada nos seus 20 anos representou apenas 14% dos 2.477% visto no ano de 1993.

HISTÓRICO

Depois de alguns meses de transição, em 1º de julho de 1994, o então presidente Itamar Franco lançou o Plano Real. A equipe do Diário publicou a instituição da nova moeda nacional e explicou como o moradores deveriam fazer a conversão, tendo em vista que R$ 1 era o mesmo que CR$ 2.750 (cruzeiros reais).

Para se ter noção das dificuldades que as famílias enfrentaram, um dos principais problemas era fazer a conta de cabeça para a conversão. Isso gerou outro risco financeiro à população da região: a falta de noção sobre o que era caro ou barato.

Consumidores relataram à equipe do Diário, no mês da transição, a dificuldade para saber quanto pagariam pelas passagens de ônibus, por exemplo. O cafezinho, outro produto muito consumido pelos trabalhadores nas entradas das fábricas, passou de CR$ 900 para R$ 0,33. E justamente essa conversão de casas criava a confusão sobre o poder de compra da moeda.

Esses problemas acabaram sendo interpretados como muito pequenos perto do principal benefício que o real gerou no Grande ABC. A inflação na região, medida na época pelo IMES (atual Universidade Municipal de São Caetano), atingiu no primeiro mês do real 6,82%. Nos meses anteriores, o consumidor tinha visto variações mensais em variações de centenas.

Além disso, a inflação no comércio do Grande ABC, conforme economistas e pesquisadores consultados na época, ocorreu de modo diferente. Não foi a maior demanda que fez com que os preços aumentassem. O problema foi que os empresários, na hora de converter valores de URV (Unidade Real de Valor), que era utilizada para que o País acostumasse com a nova moeda, elevaram os seus preços. Um produto que custava URV 5,23, por exemplo, no primeiro mês de circulação do real foi arredondado para R$ 5,50, ou seja, engordurava, neste caso, 5% só na conversão.

  

IMPORTAÇÃO 

A região viu também um fenômeno diferente ao que estava acostumada. Os produtos importados estavam mais baratos do que os nacionais. O dólar foi desvalorizado quando o real foi instituído. A ideia do governo federal era deixar R$ 1 valendo US$ 1. Carros importados eram mais baratos do que os produzidos nas montadoras da região.

NO GUICHÊ

Os bancos iniciaram uma força tarefa para realizar a troca das moedas. A Febraban (Federação Brasileira de Bancos), na época, informou que as principais agências das cidades ficariam abertas em alguns domingos para dar conta da mudança.

De 1994 até hoje, a equipe do Diário segue noticiando o caminho da moeda nacional. Inflações como a de 1993, de 2.477,15% no ano, nunca mais foram vistas. Em 1994, foi a última vez que o leitor acompanhou o IPCA variar em centenas, com alta de 916%, com sobra de inflação dos meses anteriores ao real. Em 1995, como o prometido pelo governo, a estabilidade do poder de compra do real estava próxima, apesar de nunca chegar, mas houve alta média dos preços de 22,4%. 

Após esse período, com exceção de 2002, quando o indicador atingiu 12,53%, o consumidor da região nunca mais viu a sua moeda perder mais do que 10% do seu poder de compra. 




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