D+ Titulo Ocupações
Montada a resistência

Jovens da região se mobilizam em busca de respostas para o futuro de suas escolas

Caroline Ribeiro
Especial para o Diário
29/11/2015 | 07:10
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André Henriques/DGABC


No dia 26 de outubro, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo anunciou a ‘reorganização escolar’, projeto que visa a divisão de unidades escolares por ciclos de ensino, separando o Ensino Médio do Ensino Fundamental. Essa nova estrutura conta ainda com o fechamento de diversas escolas para a disponibilização do prédio para qualquer outro fim educacional, como a criação de creches ou Fatecs (Faculdades de Tecnologia do Estado de São Paulo), por exemplo. 

Ao todo, 340 mil alunos serão impactados com as ações e, ao que parece, quase ninguém sentiu-se satisfeito com a mudança. Em protesto à alteração imposta, pais, alunos, ex-alunos, integrantes da comunidade civil e de diversos movimentos sociais têm realizado ocupações na tentativa de impedir a ação. Mais de 180 escolas (segundo o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) em todo o Estado passam por agitações, sendo que 23 delas estão no Grande ABC. 

Em Mauá, a EE Professora Maria Elena Colônia, no Parque das Américas, está ocupada desde o dia 16. Cerca de 150 pessoas participam da ação. “Durante o dia promovemos saraus, aulas de zumba, break. O espaço é usado para recreação, aberto para quem quiser participar. A secretaria da escola está funcionando normalmente”, conta Andressa Ferreira, 19 anos, uma das organizadoras da ocupação. “Não é só é uma ocupação pacífica. Contamos com o apoio da comunidade, que, inclusive, é quem fornece alimentos para nós.”

“Os alunos têm direito à educação perto de casa. Tudo isso é previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente, e, mesmo assim, o governo agiu autoritariamente. Crianças de 12 e 13 anos vão ter de se locomover mais de 1,5 quilômetro para ter aula. Essa mudança só desestabiliza ainda mais a Educação e não traz melhorias”, comenta Marcelo Rocha, 19. 

Os jovens recordam que outros tipos de protestos já ocorreram, como ações em frente aos centros educacionais e pelas ruas. Segundo Henrique Vinícius Pinheiro de Barros, 16, “nada pareceu chamar atenção suficiente do governo para a situação, que não beneficia ninguém. Escolas estão sendo fechadas. A ocupação é nosso último recurso e não pretendemos desistir até que o nosso lugar seja garantido”. 

A EE Doutor Américo Brasiliense, no Centro, uma das mais tradicionais de Santo André, também foi tomada pelos alunos. Os estudantes se organizaram em comissões para fazer da ocupação um movimento legítimo. Dividindo funções entre comunicação, segurança, cultura, limpeza e cozinha, os adolescentes ocupam o colégio desde o dia 17.

“Muita gente acha que tomamos a escola para fazer arruaça, mas quem realmente acompanha vê que é bem diferente. Alunos, ex-alunos, pais, professores, vizinhos, membros da comunidade em geral, estão todos unidos pelo mesmo objetivo: a continuação da escola, do ensino”, explica Gabrielli Andrade, 16 anos. “A quadra, que estava precisando de cuidados, recebeu limpeza e grafites. Professores de universidades que se identificam com a causa apresentam aulas públicas. Há oficinas com tintas, malabares e diversas atividades. Quem é que imaginou ter que tomar a própria escola para que pudesse estudar nela?”, questiona.

A resolução do que irá acontecer depende de acordos que parecem não ter data certa para serem firmados. Enquanto isso, a resistência está montada.  




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