Salvatores, que já ganhou até Oscar (por Mediterrâneo, em 1992), oferece uma viagem por diferentes etapas do medo – ou da paura, como dizia a nona – sem fazer necessariamente um filme de gênero, de terror. Seu ponto de partida é o medo íntimo motivado pelo desconhecido; já seu ponto de chegada é o inverso, o medo desconhecido resultante do íntimo.
Essa turnê pelo pavor infantil começa durante uma brincadeira de Michele e seus amigos nas ruínas de uma casa. Na base de um buraco cavado aos fundos do lugar, o garoto divisa um pé humano e passa a imaginar histórias fantásticas, feéricas, para justificar a estranha presença do membro. Intrigado, inicia visitas freqüentes às bordas da cova; descobre que o pé se mexe, portanto não é de um cadáver; descobre que o calcanhar tem dono, um menino que de tão desfigurado aparenta ser um monstro; descobre então que o tal ser escabroso é gente e pode ser vítima de um crime.
Por meio da TV e de escusas conversas em sua casa, intui que o tal crime envolve seus pais, assim como todos os adultos que habitam o vilarejo. Salvatores propõe medos oscilantes e diapasões variados do qual emanam esses pavores. Nessa mesma viagem, sugere uma ida da superficialidade à profundidade, tanto em descobertas progressivas sobre o amigo subterrâneo de Michele quanto na descida deste ao fundo do buraco. Sua narrativa, no entanto, empaca na superficialidade mais sentimentalóide.
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