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PF deflagra ação contra suspeita de cartel entre cegonheiros

Operação Pacto busca desmantelar esquema e atinge as cidades de Sto.André e S.Bernardo

Raphael Rocha
do Diário do Grande ABC
18/10/2019 | 07:19
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André Henriques/DGABC


A PF (Polícia Federal) deflagrou ontem pela manhã a Operação Pacto, que busca investigar suposta formação de cartel entre empresas de transporte rodoviário de veículos novos, conhecidas como cegonheiros. Houve mandados de busca e apreensão em Santo André e em São Bernardo – uma das firmas foi a Tegma, que conta com unidade no bairro Demarchi, em São Bernardo.

A força-tarefa contou com participação de agentes da PF, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público estadual e do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Foram deslocados 60 agentes para cumprimento de dez mandados de busca e apreensão. Além das cidades do Grande ABC, a operação ocorreu nos municípios de Serra, no Espírito Santo, Betim, em Minas Gerais, e Simões Filho, na Bahia.

Segundo a PF, a investigação avançou para existência de acordo anticompetitivo entre empresas que atuam no setor. As companhias acertavam previamente o valor do frete de veículos zero-quilômetro e dividiram o território brasileiro de forma a impedir a concorrência – e, consequentemente, o barateamento dos preços.

“A estratégia adotada elimina a livre-concorrência e impede a entrada de novas empresas no mercado, o que eleva substancialmente o valor do serviço. Vale destacar que o custo do frete constitui parcela relevante do preço final dos veículos zero-quilômetro”, informou a PF, por nota. O órgão não divulgou, até o fechamento desta edição, balanço final da operação deflagrada ontem. A OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), conforme relatório do Cade, indica que existência de cartéis “gera um sobrepreço estimado entre 10% e 20% comparado ao preço em um mercado competitivo”.

Os envolvidos podem responder pelos crimes contra ordem econômica e organização criminosa. As penas, somadas, podem chegar a 13 anos de detenção.

A Tegma confirmou que sua unidade em São Bernardo foi alvo da Operação Pacto depois que as ações da empresa na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, chegaram a cair na ordem de 14% – fechou a cotação com retração de 11,56%. A companhia publicou fato relevante ao mercado relatando a busca e apreensão nas dependências da empresa. “Informaremos assim que tivermos detalhes relevantes sobre o assunto”, disse a Tegma.

O Sinaceg (Sindicato Nacional dos Cegonheiros) publicou nota na qual rejeita relação da entidade com as acusações feitas pela PF. O sindicato argumentou que “há quase duas décadas” enfrenta “saraivada de infundadas e inverídicas acusações partidárias de pessoas interessadas na ampliação de sua participação no mercado de transporte rodoviário de veículos novos”. “A participação em cartel tem sido (a acusação) mais leve delas.” O Sinaceg declarou ainda que “a inveracidade” das denúncias será comprovada. (com Agências)

Possível troca para Julio Simões gerou greve na Volks em 2015

O setor das empresas de transporte rodoviário de veículos novos, conhecidas como cegonheiros, no Grande ABC viveu dias de crise em 2015 e em 2016, quando a Volkswagen, com planta na Via Anchieta, em São Bernardo, cogitou possibilidade de mudança nos contratos para escoamento da produção.

A montadora alemã dispunha de acordo com quatro firmas – Brazul, Tegma (alvo da Operação Pacto, deflagrada ontem pela Polícia Federal), Transauto e Tranzero –, mas estava disposta a centralizar a operação nas mãos da JSL, do grupo Julio Simões, envolvida em escândalos nacionais, entre eles a suspeita de superfaturamento de viaturas da PM (Polícia Militar) do Rio de Janeiro.

Diante da possibilidade, os cegonheiros cruzaram os braços em greve que durou quatro dias em julho de 2015.  




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