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Timidez na adolescência é prejudicial
Daniele Torres
Márcio Silva
21/12/2009 | 07:03
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O que fazer quando a timidez atrapalha o convívio com a família e com os amigos? Pior que isso, quando ser tímido pode refletir de maneira negativa no trabalho? Estas questões estão inseridas na sociedade. Pessoas de todas as idades sofrem com a timidez e procuram meios para amenizá-la.

Estudos recentes mostram que 48% da população mundial se considera tímido. Apesar de não ser uma doença, a timidez pode se tornar crônica em alguns casos e ser prejudicial para quem sofre dela. Na adolescência, quando o jovem começa a transição para a fase adulta, isso pode ser decisivo para o resto da vida.

Antes mesmo de procurar um emprego, a maioria dos jovens enfrenta os bancos das universidades. O que para muitos pode ser uma etapa normal da vida, para outros a situação não é tão simples assim.

A professora e coordenadora da Escola de Comunicação da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Ana Claudia Marques Govatto, aponta algumas medidas que podem facilitar, nesse caso, a relação com o aluno. "O professor pode criar debates, apresentar conteúdos de uma forma diferente que estimule a participação de todos."

Conversar com os alunos tímidos é uma boa ideia. Entretanto, é preciso avaliar se este jovem é introspectivo, atento aos assuntos discutidos em sala de aula mesmo que não participe ativamente, ou se ele sofre de timidez perante os demais colegas, por não se encaixar no perfil da turma ou por medo de repressão.

O estudante de jornalismo Jackson Viapiana, 22 anos, destaca o quanto a insegurança perante as outras pessoas é capaz de influenciar no aumento da timidez. "Eu simplesmente ‘travo' quando me vejo diante de situações que exigem muito de mim e eu não tenho certeza se sou capaz de fazer", diz Jackson.

Sobre procurar ajuda profissional ou alguma atividade esportiva para aliviar o estresse do dia a dia, ele afirma que encontrou uma solução muito eficaz. "O remédio é um só: preparação. Uma vez preparado, me sinto seguro. E se estou seguro de mim, não há gagueira."

POTENCIAL - São muitas as preocupações sobre como esses jovens vão enfrentar uma entrevista de emprego, sendo que em determinado momento o universitário precisará lidar com situações do tipo. A professora Ana Claudia observa que "nas dinâmicas, os avaliadores focalizam em quem lidera a equipe, ou se manifesta mais, e diante disso, terá dificuldades em notar o potencial dos tímidos."

A timidez pode estar inserida na formação da personalidade de cada pessoa, sendo assim, é preciso testar os limites no próprio convívio social, mesmo porque, a principal preocupação é com a opinião e aceitação dos demais.

A psicóloga Marina Alves Tarsitano argumenta sobre a importância de se arriscar aos poucos em situações que exijam contato direto com as pessoas. "A grande maioria lida com a esquiva, o afastamento social, então é preciso ousar, atravessar a barreira da timidez."

Marina aponta também algumas dicas para os professores que, eventualmente, irão encontrar em suas salas de aula alunos reclusos. "Os professores não devem focalizar a timidez como um problema, devem ter o controle sobre a classe caso apresentem comportamentos repressores e reforçar comportamentos adequados, fazendo assim com que o aluno tímido se sinta seguro e à vontade diante dos colegas", afirma.

Procurar atividades para melhorar os relacionamentos é uma das alternativas para jovens e adultos que sentem a necessidade de controlar a timidez. "Qualquer atividade física vai proporcionar o envolvimento com pessoas novas, o que é um ótimo desafio", concluiu a psicóloga.

Artes cênicas ajudam na hora de combater inibição

Quem pensa que aulas de teatro são apenas para aqueles amigos mais engraçados e desinibidos está enganado. A Escola Nacional de Teatro, em Santo André, elaborou curso exclusivo para quem é mais tímido.

Jovens e adultos que se consideram com essas dificuldades e possuam entre 25 e 35 anos, são bem-vindos no palco. A responsável pelas aulas é a diretora de teatro Andréa Weber. "Uma grande ferramenta do teatro é a exposição. Nas aulas o fator lúdico ajuda os alunos, sem contar que os jogos teatrais relaxam e ajudam a desenvolver a confiança", disse Andréa.

O objetivo não é formar atores, mas sim melhorar os contatos pessoal e profissional dos que frequentam as aulas. Dentre o perfil das pessoas que participam do curso ‘Teatro para Não Atores', a maioria procurou ajuda para melhorar o dia a dia com a família, amigos e até mesmo a rotina com os colegas de trabalho.

"É preciso trabalhar no sentido progressivo, porém não pode ser nada agressivo. Somente após distribuir os objetivos individuais de cada um é que começam, de fato, as aulas", afirma a professora de teatro.

DIFICULDADES - Eduardo Fernandes Junior, 21 anos, auxiliar de escrita fiscal e ator, sofre problemas com a timidez desde a infância. Foi a partir do momento que ingressou no mercado de trabalho que percebeu que precisava de ajuda.

Em sua primeira entrevista não teve muitos problemas, pois foi seu pai que lhe ajudou a conseguir um emprego com um amigo da família. Porém, para ingressar em outro trabalho foi mais complicado. "Eu tinha vergonha até de atender o telefone. Falar em público jamais", conta Eduardo.

A professora Andréa enfatiza que a procura pelas aulas é muito grande, pois é para um perfil específico. "As pessoas querem desenvolver o lado pessoal para refletir no lado profissional", completa.

"Percebi essas dificuldades no trabalho e fui atrás de alguma coisa para melhorar, descobri que tinha essas aulas, inclusive só para tímidos, e resolvi tentar", conta Eduardo.

Após o fim do curso de teatro, que durou seis meses, a família, os amigos e o pessoal do trabalho de Eduardo notaram melhoras em seu comportamento. Foi a partir daí que ele decidiu seguir nas aulas de preparação para atores.

Para ficar exposto diante de um grande público foi preciso coragem e o dia da estreia foi tenso, mas Eduardo foi em frente e se apresentou em sua primeira peça teatral no fim do ano passado. Hoje ele está terminando a formação para atores e pretende seguir carreira.

"Minha vida melhorou no sentido de fazer amizades, de ser mais sociável. Descobri no curso que a gente não perde a timidez, porque isso faz parte da personalidade, mas é possível aprender a conviver com isso, a ter autoconfiança e não se prejudicar por ser tímido", afirma Eduardo.

Essas mudanças são resultados significativos que comprovam que qualquer tipo de atividade, seja aulas de teatro, dança, esportes ou mesmo cursos de idiomas, são capazes de motivar e influenciar os tímidos a se sociabilizarem melhor, e aprender a interagir com as demais pessoas.

O conteúdo editorial desta página é de inteira responsabilidade da Universidade de São Caetano do Sul, com supervisão editorial dos jornalistas Eduardo Borga e Nelson Tucci, da Comunicação da USCS.




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