Em um livro que está para ser publicado, a crítica de arte Rita Wildegans afirma ter descoberto muitas lacunas na popular versão do incidente, segundo a qual o pintor holandês teria cortado a própria orelha em um acesso de loucura, durante a noite de Natal de 1888.

"Não afirmo ter 100% de certeza de que minha teoria esteja correta. Nenhum historiador o faria", diz Wildegans. "Mas a soma de uma série de pequenos indícios é reveladora. Tudo que sabemos do ocorrido provém de Gauguin. E Gauguin era um mentiroso inveterado".

Wildegans conta em seu livro que os dois pintores começaram a discutir quando Gauguin disse a Van Gogh que deixaria Arles (sul da França). Van Gogh alimentava a esperança de fundar com Gauguin uma comunidade artística em Arles.

Na discussão, acalorada pelo álcool, Gauguin teria cortado a orelha de seu amigo, sugere a crítica, que fundamenta sua hipótese no fato de Van Gogh, encontrado banhado em sangue no dia seguinte, não ter idéia do que ocorreu na véspera.

Para explicar tudo isso, conta com as afirmações de Gauguin, que disse ter visto Van Gogh com uma navalha na mão, algo que não declarou em seus primeiros depoimentos para a polícia local.

Para a crítica alemã, também é muito suspeito que Gauguin tenha partido de Arles com grande precipitação no mesmo dia, sem esperar que chegasse o irmão de Van Gogh, que, no entanto, já sabia da iminência de sua viagem a Arles por meio de um telegrama.

Há também o fato de que Gauguin pediu por correio que suas coisas fossem enviadas a Paris e, entre os objetos pessoais, seu equipamento de esgrima. No entanto, não pediu que lhe enviassem a espada. Dessa forma, a crítica alemã deduz que, para disfarçar, a havia levado consigo.