Economia Titulo Crise internacional
Pão francês pode ficar mais caro na região

Devido à variação cambial, os custos da farinha de trigo já subiram mais de 20% nos últimos 20 dias

Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
21/10/2008 | 07:04
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Com a crise financeira internacional, que levou a uma recente alta do dólar no País, o preço do pãozinho francês pode ser a ‘próxima vítima'. Segundo o Sipan (Sindicato da Indústria de Panificação de Santo André e Região), por enquanto, tem sido possível segurar o valor do produto, mas os custos da principal matéria-prima (a farinha de trigo) já subiram mais de 20% nos últimos 20 dias, devido à variação cambial.

"Estamos tentando manter pelo menos até o final do mês", disse o presidente do Sipan, Antônio Carlos Henriques. Ele explica que o câmbio está oscilando muito e a perspectiva é de que se estabilize em breve e haja uma baixa no valor da farinha.

O trigo utilizado no País é em grande parte importado e, por isso, tem cotação no Brasil atrelada à variação da moeda norte-americana.

Henriques cita que o valor da matéria-prima pode ter um ajuste para baixo não apenas em função do câmbio mas também por que a cotação internacional do trigo está em queda e houve, no mês passado, a colheita da safra no Brasil.

O dirigente acrescenta que a saca de 50 kg da farinha, que saía por cerca de R$ 55 no mês passado, atualmente está em R$ 70, uma alta de 27%.

ESPERA
Outros empresários do setor de panificação do Grande ABC também aguardam que a situação de instabilidade nos custos melhore para que não seja preciso elevar os preços.

Segundo dados do Sipan, na média, as padarias da região cobram de R$ 6 a R$ 6,20 o kg (o que corresponde a R$ 0,30 a R$ 0,31 a unidade de 50 g) o pãozinho francês.

Em alguns casos, a compra da farinha ainda ocorreu com o preço anterior à da mais recente majoração. Foi o caso da Panificadora Nova Geração, de São Bernardo. "Fizemos a compra faz uns 20 dias, com o preço programado, por isso não tivemos alta de custos", afirmou o proprietário, Tiago Silveira Ferreira.

O estabelecimento adquiriu o insumo a R$ 52,90 o saco de 50 kg, mas ele já teve informação de que já está perto de R$ 70.

Na Lindo Pão, de São Caetano, compra recente foi feita em que se observou uma alta de 25%. Segundo o gerente, Emerson Pereira da Silva, mesmo com o aumento do custo, a padaria mantém o preço do pãozinho em R$ 6,50 o kg. "Enquanto a moeda (o dólar) não se estabiliza, devido à crise, optamos por não aumentar os preços", afirmou.

Produto já teve alta de 31% neste ano

O pãozinho foi um item da cesta básica que sofreu forte elevação neste ano. De acordo com pesquisa da Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André), desde dezembro de 2007 até o mês passado, o produto já subiu 31,25%. Foi bem acima da taxa inflacionária, que subiu 5% no acumulado do ano até setembro - pelo IPC-USCS (Índice de Preços ao Consumidor da Universidade Municipal de São Caetano).

Pelo levantamento, o valor do produto passou de R$ 0,16 a unidade (de 50 g), para R$ 0,21. O preço observado pela Craisa é menor do que o registrado pelo Sipan, já que os dados da pesquisa se referem ao praticado nos supermercados da região. Esses estabelecimentos, de modo geral, têm produção própria de pães e conseguem oferecer o produto a valor inferior ao das padarias.

Para Abitrigo, não há motivo para reajuste

Para a Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria do Trigo), entidade que representa os moinhos no País, a nova alta da farinha de trigo não deve representar problema para as padarias, já que o segmento teria se beneficiado em junho de uma baixa de até 30% no valor do insumo - que não teria sido repassada ao consumidor.

A diminuição do custo ocorreu porque o governo editou naquele mês a MP (medida provisória) 433, que isentou os moinhos de PIS/Cofins e acabou com a taxa de 25% cobrada pelo frete nas importações do grão. Pelos cálculos da associação, os preços caíram até 30% na época.

O Moinho São Jorge, de Santo André, informou que a expectativa é de estabilidade do preço, já que a alta do dólar colabora para elevar o valor do produto importado, mas a retração da cotação internacional ajudará a compensar a variação cambial.

A isenção do PIS/Cofins beneficiaria também a produção de pão, mas as padarias, em grande parte microempresas, recolhem pelo Simples (regime simplificado) e por isso não usufruem dessa vantagem.




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