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Em dois anos, empresas
demitem 980 funcionários
Vinicius Gorczeski
Especial para o Diário
22/10/2011 | 07:20
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Companhias do Grande ABC demitiram 980 trabalhadores do setor metalmecânico como decorrência de falências ou incapacidade financeira desde 2009. Há dois anos os demitidos somavam 385, sendo a Makita, de São Bernardo, responsável por 315. No ano passado, foram 525, sendo que 435 eram empregados da Phillips, na mesma cidade. Neste ano, mais 70 trabalhadores, da metalúrgica Qualytools, de Mauá. Estatística que não conta empresas de pequeno porte e firmas que demitiram por conta dos impactos da crise econômica mundial de 2008.

A estatística deve ganhar peso caso a planta da Magneti Marelli, em São Bernardo, que produz camisas de cilindro, feche suas portas em dezembro, como a direção da empresa prometeu ontem.

Metalúrgicos, sindicalistas e Prefeitura buscam dialogar com os gestores da empresa para evitá-la. A decisão foi comunicada na semana passada aos funcionários. Como resposta, trabalhadores votaram em assembleia realizada ontem a paralisação das atividades até segunda-feira, quando retornam às 6h. A fábrica soma 450 trabalhadores diretos e 150 terceirizados. Porém, afirmam que vão honrar as entregas previstas para 2012. A MM não respondeu à reportagem sobre os prejuízos com o ato.

Como justificativa para a decisão, a empresa, subsidiária da Fiat, disse que a crise de 2008 foi o motor que deu a partida no declínio da produção. Tanto que, no ano anterior ao início dessa turbulência, que foi a maior desde 1929, a empresa produzia na planta 1 milhão de peças. Volume caiu no segundo semestre do ano seguinte a 200 mil, ou apenas 20% da venda de 2007.

Com o abalo financeiro, os Estados Unidos e o México, principais compradores da unidade reduziram a demanda, cujo mercado representava 80%. Situação se agravou com a valorização do real frente ao dólar, que foi minando o balanço financeiro da empresa, encarecendo a exportação.

Hoje, a companhia depende do mercado interno e sofre para manter a produção. Um funcionário da Magneti que não quis se identificar disse que fabricam 460 mil peças por mês. "Com a alta do dólar, era como se produzíssemos uma peça que custa R$ 12, mas é vendida a R$ 8."

O diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Carlos Alberto Gonçalvez, o Krika, disse que há necessidade de se buscar uma saída para que a empresa mude sua estratégia, diversificando a produção. "Acreditamos que será praticamente impossível recuperar o mercado interno." Ele assinala que o sindicato enviou pedido de reunião nesta semana com a Petrobras. A ideia é criar conversas para que as portas sejam abertas à Magneti Marelli, possivelmente enviando peças para a companhia, aproveitando o filão do pré-sal.

Com a Prefeitura de São Bernardo houve conversas para buscar uma saída ao fechamento da empresa. É o que confirma o secretário de Coordenação Governamental Tarcísio Secoli, afirmando que a empresa tem capacidade de usar sua instalação industrial para produzir junto à fábrica da Fiat de Betim, em Minas Gerais. Outra possibilidade é terceirizar a indústria para outros segmentos.

"Todas soluções no curto prazo são viáveis. O melhor caminho seria mudar a posição (da MM), mas eles não querem gastar em desenvolvimento de novos produtos", afirma Secoli. "Eles falam que produzir com Betim não é seu foco, mas a empresa pode assumir outros setores, pois não tem exportação à vista. Vai fechar se ela quiser."

 

Sindicalistas buscam indústria da defesa como solução

Sindicalistas buscam o filão da indústria da defesa como alternativa ao fechamento da Magneti Marelli. Iniciativa é ancorada pela renovação da frota de caças militares no Brasil e que tem São Bernardo como cidade potencial para abrigar parque industrial. Já conta com parceria da sueca Saab, que disputa o contrato com a União, e que inaugurou em maio centro de pesquisa. Também há sondagens pela francesa Rafale, especialmente se for escolhida, entre o trio completado pela norte-americana Boeing.

O secretário Secoli frisou que essa é uma saída de médio prazo, dado o longo processo até a firmação de um contrato do Brasil com uma fabricante, mas que há interesse da Prefeitura em manter a MM de portas abertas para esse nicho. O presidente da CUT-SP, Adi dos Santos Lima, disse que a empresa cometeu um erro de estratégia, quando o real estava supervalorizado, ao não buscar diversificar sua produção. "Agora pagam um preço alto."

Segunda-feira, quando voltam os trabalhadores, deve marcar o início de agenda entre as partes a fim de evitar o fechamento da empresa.




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