As interrupções na fabricação de veículos se devem ao desaquecimento do mercado. De acordo com números do último dia 31 de agosto, fábricas e redes de concessionárias em todo o país tinham 204,5 mil unidades em estoque ou 47 dias de vendas. Em 31 de janeiro, eram 144,1 mil unidades, que correspondiam a 36 dias de vendas. Nesta semana, apenas a Volkswagen tinha em estoque (veículos da montadora mais a rede) 49 mil unidades, e esse número era equivalente a quase a metade dos veículos vendidos por todas as fabricantes em agosto.
Em agosto, as vendas totais de veículos automotivos caíram 5,42% em relação a agosto do ano passado, de acordo com dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Foi a primeira retração do mercado no ano. Segundo o consultor Fernando Rolim, da Rolim Consult, especializado no setor, o mercado demorou a cair na comparação com outros segmentos que já mostravam desaceleração. “Com suas campanhas, taxas especiais e propagandas, os fabricantes conseguiram prolongar o consumo de forma artificial.”
A retração, segundo Rolim, já era esperada, por conta de fatores externos, como a instabilidade argentina e agora os atentados nos Estados Unidos. “A venda de automóvel tem um componente emocional muito forte. Nos EUA, a queda no setor foi de 30%.” Mas ele é otimista: “Em dois meses, voltaremos a crescer, em ritmo mais realista. Teremos um choque de oferta negativo, e as pessoas voltarão a consumir.” Ele projeta que o setor chegue a 1,74 milhão de veículos vendidos em 2001, bem menos do que os 1,9 milhão projetados pelo setor no início deste ano.
Ainda de acordo com o consultor, as montadoras, nos últimos cinco anos, agregaram uma capacidade de produção muito grande, principalmente com a entrada de novos fabricantes (como Renault, Peugeot e Audi). Atualmente, a capacidade atual do segmento é de 3 milhões de veículos. “As novas iniciativas geraram um volume que no curto prazo não terá como ser escoado.” Ele estima que nem nos próximos três anos será possível alcançar 2 milhões de veículos vendidos.
Ao mesmo tempo em que anunciam as paradas, as fabricantes se reúnem com os trabalhadores para negociar a campanha salarial deste ano.
Nesta quinta houve mais uma rodada que não chegou a nenhuma definição e na próxima quarta feira, haverá nova reunião. Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Marinho, a queda na demanda do setor “agrega dificuldade à negociação”. Mas ele não acredita que haverá cortes e aposta em um acordo satisfatório para os empregados, que sinalizaria positivamente para a confiança na economia do país. A entidade reivindica reposição da inflação (7,5%) mais um aumento real a ser negociado. A General Motors deverá abrir novo plano de demissões voluntárias (PDV) tão logo os funcionários das linhas de produção voltem das férias coletivas no final de outubro. O início das férias será dia 15. De acordo com o coordenador da Confederação Nacional dos Metalúrgicos, Turíbio Liberato, a informação é que, mesmo depois das férias, o ritmo de produção continuará o mesmo do atual (24 carros por hora), volume inferior à capacidade normal (38 carros/hora).
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