Economia Titulo Surpreendeu os comerciantes
Venda de motos chega a 80% do registrado no período pré-pandemia

Fatores como custo-benefício, ter transporte próprio e trabalhar com entregas impulsionam setor

Tauana Marin
Do Diário do Grande ABC
26/07/2020 | 00:01
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André Henriques/DGABC


A venda de motos no Grande ABC tem surpreendido os comerciantes do setor desde a reabertura gradual das lojas em horário reduzido. Exemplo disso é que, em alguns estabelecimentos, o faturamento em junho alcançou 80% do correspondente efetivo aos meses de janeiro e fevereiro, antes de a pandemia causada pelo novo coronavírus chegar ao País. Fatores como alternativa de emprego como entregador de aplicativo e opção de veículo para trabalhar, a fim de evitar o transporte público, fizeram com que a comercialização disparasse no mês passado.

“Abril com certeza foi nosso pior mês (do ano). As vendas caíram 70%. Só não foi ainda pior devido às vendas on-line e as realizadas pelo WhatsApp. Mas, com a retomada, a procura está maior do que antes”, diz o sócio-proprietário da loja da Yamaha Andreense Motos, de São Caetano, Ridel França de Oliveira. Ele completa que 30% dos negócios são feitos com pagamentos à vista, e os demais em financiamento, sendo maioria no cartão de crédito e não boleto.

Já o gerente de vendas da loja Japauto Santo André, Cleber Fabiano Cardoso Menezes, conta que na unidade, onde se comercializam motocicletas Honda, há fila de espera na compra pelo meio de transporte. “A fábrica, que fica localizada em Manaus (Amazonas), entrou em lockdown devido à quarentena e a produção parou por um período. E, com a retomada e reabertura das lojas, a demanda que ficou reprimida agora veio à tona, acumulando tudo. Se estivesse com estoque das motos, com certeza, já teria vendido mais do que nos dois primeiros meses do ano”, conta. 

Ainda segundo Menezes, a grande procura é por modelos cujo preços variam entre R$ 10.600 até R$ 12 mil. “Alguns fatores levaram as pessoas a escolherem por moto. Um deles é o custo-benefício, em relação ao carro, como manutenção, rentabilidade de combustível e maior agilidade para se locomover.”

Para o presidente da Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares), Marcos Fermanian, “a crise causada pela Covid-19 fez com que a procura pela motocicleta, que já era muito utilizada como meio de transporte e com presença significativa na frota brasileira, agora se acentuasse, por conta do baixo custo de aquisição e combustível, possibilitando que as pessoas evitem aglomerações no transporte público.”

Outro ponto é que, com o aumento do desemprego, muitas pessoas passaram a realizar entregas em aplicativos, como alternativa de geração de receita. De fato, conforme Alarico Assumpção Júnior, presidente da Fenabrave, um dos principais fatores que vêm fomentando a demanda por motocicletas, principalmente de até 250 cilindradas, é o aumento de pedidos de delivery, que estão sendo realizadas em maior número durante a pandemia como fonte de renda.

A linha de produção ainda não opera com toda sua capacidade, assinala Fermanian, “por conta da necessidade de se manter distanciamento e medidas protocolares nas fábricas, e com isso ainda não há perspectivas a curto prazo para plena retomada da atividade indústria.”

Comércio de carros também se mostra aquecido

As vendas de carros na região também têm sentido um aumento nas vendas após a reabertura das lojas na região, em junho. De acordo com Hermes Schincariol Junior, diretor da Rede Vigorito no Grande ABC, com cinco unidades entre Santo André, São Bernardo e Mauá, mesmo ainda não alcançando patamares normais, de antes da pandemia, as comercializações seguem em ritmo crescente. “As vendas chegam a 85% do que vendíamos antes de março deste ano. A proporção continua sendo: a cada dez veículos zero-quilômetros vendidos, comecializamos oito semi-novos.”

Schincariol Junior explica que o fato de os zero-quilômetro, que são mais caros, estarem na frente dos usados, se deve às campanhas feitas pelas montadoras, tornando a aquisição atrativa. “Há muitos planos com taxas zero. Além disso, com a queda da Selic (taxa básica de juros), que influencia diretamente o mercado de autos, os valores ficam mais atraentes.” No caso dos usados, o diretor da Vigorito fala que o consumidor acaba comprando na faixa entre R$ 30 mil e R$ 35 mil.

Cesar Fernando Alvares de Moura, diretor da Savol no Grande ABC, onde há dez lojas, aponta que, após um mês da reabertura das lojas, percebe-se que o fluxo de pessoas é menor do que antes da pandemia. No entanto, o volume de vendas já está quase chegando às marcas do início deste ano. “As montadoras estão fazendo ofertas, mas, para surpresa de todos, estão faltando carros no mercado, devido à ausência de estoque, causada pela paralisação das fábricas no período de quarentena (assim como as motos).” 

Segundo Moura, a época é propícia para quem deseja trocar de carro. “É um momento mais do que ideal, porque os seminovos também estão sendo bastante requisitados, afinal, ainda há, por muitos, a insegurança em usar o transporte público, preferindo o próprio.” No caso de compra dos zero-quilômetro, o diretor da Savol conta que os valores escolhidos ficam entre R$ 80 mil e R$ 90 mil.

Em comparação a 2019, emplacamentos têm queda

Mesmo com o mês de junho tendo sido bastante positivo para o setor, o fato de as lojas terem ficado fechadas por cerca de três meses reflete recuos nos dados da Fenabrave (Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automores), que apontam queda de 37,73% nos emplacamentos de moto na comparação de junho com o mesmo mês em 2019. Com relação ao acumulado do ano, nos primeiros seis meses de 2020 ante igual período em 2019, a baixa é ainda maior: 39,86% entre as sete cidades.

“Esperamos que, com a retomada da produção por parte das montadoras, e da regularização <CF51>(da planta)</CF> de Manaus, as concessionárias possam abastecer seus estoques, devendo ocorrer certa melhora neste mercado”, assinala [01.TXTNORMAL]<CF50>Alarico Assumpção Júnior,</CF>[/01.TXTNORMAL] presidente da Fenabrave. “Contudo, em razão da maior restrição de crédito, neste segmento, e da própria crise, que vem impactando na renda da população, a federação estima queda acumulada de 35,8%, com um total de 692.124 motos emplacadas até o fim do ano no Brasil. Até fevereiro, portanto, antes da pandemia, nossas expectativas eram positivas, quando estimávamos crescimento de 9% sobre 2019, e, que se fosse confirmado, chegaríamos a 1.174.585 motocicletas vendidas no País”, explica. 

O presidente da Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares), Marcos Fermanian, complementa que o mercado vinha numa recuperação de volumes desde 2017 e esse crescimento vinha se concretizando. “Porém, com a pandemia, ficamos praticamente dois meses sem produção, e, com isso, o estoque de motocicletas se tornou insuficiente para suprir a demanda. Essa interrupção fez com que a modalidade de consórcio, que representa praticamente 25% das vendas, apresentasse uma demanda reprimida de entregas de produtos.” 

Mesmo o cenário ainda não sendo o ideal, os lojistas acreditam que, até o fim do ano, o setor recupere boa parte das vendas. “Será algo gradual, que acompanhe a produção, mas efetiva”, diz o gerente da Japauto Santo André, Cleber Fabiano Cardoso Menezes.




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