Áudio mostra que Ronaldo Lacerda admite que candidatura de Thaina Alves, de zero voto, serviu só para não tirar homens da chapa
Dissidentes da cúpula do PDT de Diadema denunciaram à Justiça Eleitoral da cidade que o partido lançou candidata ‘laranja’ na eleição do ano passado a fim de burlar a cota legal de gênero na chapa. Ex-dirigentes da sigla apontam que o projeto de Thaina Alves (PDT), que concorreu à vereança e teve zero voto, serviu apenas para preservar a presença de outros candidatos homens na disputa. Na peça há transcrição de áudio no qual o prefeiturável do partido, Ronaldo Lacerda, admite a manobra.
A denúncia, que tramita na 222ª Zona Eleitoral da cidade, sustenta que Thaina, na verdade, era cabo eleitoral do hoje vereador eleito Jeferson Leite (PDT) e que nem sequer pediu votos a ela própria. O pedetista foi o único do partido que venceu o pleito, com 3.340 votos. Durante a eleição, Thaina foi fotografada ao lado de Jeferson e de diversos integrantes da campanha do hoje vereador, com o adesivo do pedetista colado ao corpo.
Há outros indícios que alimentam a denúncia de que Thaina teria sido candidata ‘laranja’. Ex-presidente do PDT diademense, Roberto Holanda encaminhou à equipe de reportagem do Diário ata notorial (documento formulado em cartório que autentica a ocorrência de fatos) em que há a transcrição de áudios trocados no WhatsApp entre o ex-tesoureiro do partido Luciano da Silva Justi e o ex-vereador Ronaldo Lacerda, que foi candidato a prefeito do PDT no pleito de novembro.
Na conversa, Luciano envia a Lacerda imagem da intimação feita pelo Ministério Público de São Paulo a Holanda para prestar esclarecimentos sobre o caso. Em resposta, Lacerda teria confirmado que Thaina foi lançada candidata para garantir a presença de mais homens na chapa, apesar de negar configurar a prática como ‘laranja’: “Thaina não foi candidata ‘laranja’, não. Foi candidata para garantir a permanência de dois candidatos homens. Se você não sabe, o presidente sabe disso, foi conversado lá e o presidente estava ciente e inclusive você estava ciente. Ou a gente colocava uma candidata mulher ou cortava dois homens (da chapa). Foi uma posição que a gente tomou para manter a chapa, (para) não tirar esses dois companheiros”, teria dito Lacerda, que assumiu o comando da Secretaria de Habitação do governo do prefeito José de Filippi Júnior (PT) em troca do apoio dado no segundo turno.
Ao Diário, Sarti confirmou a conversa e encaminhou os áudios transcritos na ata. A voz é idêntica à de Lacerda. Procurado, o ex-prefeiturável não quis se manifestar porque, segundo ele, não teve conhecimento da denúncia. Único vereador da legenda, Jeferson Leite não retornou aos contatos do Diário para falar sobre o assunto.
A legislação eleitoral impõe cota mínima de 30% de qualquer um dos gêneros para a formação de chapas de candidatos a vereador. Essa fração, porém, é comumente destinada às mulheres. Embora não comprove por si só se tratar de candidata laranja, o fato de Thaina ter tido zero voto e sua campanha ter declarado que não teve uma despesa sequer na campanha provocou a abertura de investigação no MP.
Desde 2019, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) entende que, uma vez comprovada a existência de candidatura laranja, a conduta leva à cassação de toda a chapa de candidatos a vereador, inclusive eleitos, já que a comprovação de eventual projeto irregular desfalca as exigências mínimas que cada partido tem de cumprir para ir às urnas.
Holanda deixou o comando da legenda e rachou com Lacerda depois da indicação do ex-vereador para a gestão do petista.
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