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Lula, como nunca antes na história
Beto Silva
Do Diário do Grande ABC
01/01/2011 | 07:32
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Caçula de sete filhos, conheceu o pai aos sete anos. Passou fome. Apanhou do pai. Ainda criança, viajou treze dias e treze noites, num caminhão pau-de-arara, do sertão nordestino para São Paulo. Aos 26 anos viu a morte de sua mulher e seu filho no parto. Perdeu o dedo mínimo da mão esquerda aos 35. Foi engraxate, telefonista, office-boy e metalúrgico. Virou sindicalista. Virou político. Foi preso. Moveu multidões. Foi derrotado em três eleições antes de chegar, em 2003, aos 58 anos, à Presidência da República. A trajetória de vida de Luiz Inácio Lula da Silva, hoje com 64 anos, renderia um livro, um filme. E rendeu. Ambas as obras foram produzidas e veiculadas.

Luiz Inácio da Silva incorporou o apelido Lula ao nome em 1982, para concorrer ao governo de São Paulo. O presidente Lula se transformou em mito após oito anos no comando do Palácio do Planalto e ao eleger neste ano a primeira mulher chefe da Nação tupiniquim.

O petista termina sua passagem por Brasília com 87% de aprovação popular. Um recorde na história do País. Suas principais obras foram na área social, em que o programa Bolsa Família, de transferência direta de renda às camadas mais humildes da população, foi o carro-chefe.

Antes de se consagrar como um dos mais importantes políticos que o Brasil já viu, o pernambucano de Caetés (antigo distrito de Garanhuns, a 250 quilômetros da capital Recife), nascido em outubro de 1945, passou por momentos de dificuldade, como muitos brasileiros de ontem, de hoje e de amanhã.

Cresceu numa casa de chão de terra, quarto e sala, sem banheiro. O banho era semanal. Era alimentado com farinha e angu, e comia com as mãos. Ainda pequeno, foi levado por sua mãe, dona Lindu, de Caetés para o litoral paulista, onde morava seu pai, Aristides.

Com dificuldades, sua família passou por São Paulo, São Caetano, até fincar raízes em São Bernardo. Na adolescência atuou em subempregos. Foi, inclusive, telefonista numa tinturaria no bairro paulistano da Vila Carioca, mas, por ironia do destino, não se firmou por ser muito tímido e falar pouco. Hoje, ao contrário daquela época, é um dos grandes oradores mundiais.

Desenvolveu essa habilidade no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, entidade que conheceu por intermédio de seu irmão Frei Chico. Após fazer curso de torneiro mecânico no Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), se estabeleceu como metalúrgico e começou a participar das reuniões do sindicato. Foi diretor e chegou ao comando da instituição em 1972, com 92% dos votos.

Em 1978, Lula foi reeleito para organizar as famosas greves por melhores condições de trabalho, que lhe deram fama e notoriedade. Uma delas, em março de 1979, reuniu 170 mil metalúrgicos que pararam o Grande ABC. Houve repressão policial ao movimento. A falta de políticos que representassem os trabalhadores no Congresso foi o combustível para a idealização do Partido dos Trabalhadores, que seria fundado em fevereiro de 1980.

A militância de Lula transcendeu os interesses dos metalúrgicos. Ele também lutou pela redemocratização do Brasil (nas Diretas Já) que se concretizou em 1985. No ano seguinte, foi eleito o deputado federal mais votado do País para a Assembleia Constituinte.

Participou das eleições presidenciais de 1989 (a primeira por voto direto após o golpe militar de 1964), 1994 e 1998, mas amargou duras derrotas. No dia 27 de outubro de 2002, com 57 anos, Luiz Inácio Lula da Silva foi finalmente eleito com quase 53 milhões de votos.

Pela primeira vez um representante da classe trabalhadora chegou ao poder. "A esperança venceu o medo", eternizou em seu discurso. Em 29 de outubro de 2006, o petista se reelegeu com mais de 58 milhões de votos.

 

 

Petista esteve na região 59 vezes; FHC veio só uma

 

Economia estável, criação de 15 milhões de empregos formais e quase 30 milhões de brasileiros ingressaram na classe média. São alguns números que mostram que a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva foi boa para o Brasil. E, consequentemente, para o Grande ABC.

Em 2.920 dias de governo, Lula esteve em missão oficial na região, seu reduto político, em 59 oportunidades. Inaugurou obras, lançou programas, fez campanha, visitou fábricas e participou de festividades. Uma clara mostra da diferença das administrações petista e tucana, na qual Fernando Henrique Cardoso foi o mentor, de 1995 a 2002. Nesse período, o sociólogo esteve no Grande ABC apenas uma vez, em 1997, na Ford, para o lançamento do KA.

Economistas e especialistas evitam comparar os dois governos. Foram momentos diferentes. O próprio Lula reconheceu que os oito anos que o antecederam foram mais difíceis. Agora, o petista entrega o cargo para Dilma Rousseff. Com ele, e com 190 milhões de cidadãos, a esperança de que o Brasil amadureça, evolua e se desenvolva ainda mais, como nunca antes na história deste País.(BS)




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