Fernando Henrique evitou entretanto, como aconteceu nos últimos dias, criticar diretamente a manifestaçao contrária ao governo, deixando esse papel para os líderes e aliados políticos e ministros do governo.
Uma fala direta do presidente sobre o ato deverá acontecer só na quinta-feira (26), dia da marcha. Ao lado dos assessores do Planalto, o presidente irá acompanhar a evoluçao da manifestaçao para se pronunciar.
"Se a manifestaçao fluir democraticamente, de forma pacífica e tranqüila, o presidente ressaltará a maturidade do País e a manutençao da linha de atuaçao democrática do governo" contou um interlocutor do presidente. "Se o ato fugir ao controle, houver baderna, o presidente dirá que o país nao pode conviver com este tipo de manifestaçao, que tem como propósito desestabilizar o país."
Fernando Henrique fez a relaçao entre os pensamentos de Nabuco, traduzidos no livro "O Abolicionismo", e o momento atual em solenidade de comemoraçao dos 150 anos de nascimento do escritor, realizada no Itamaraty. Em discurso acadêmico, o presidente afirmou que o melhor tributo a ser prestado ao abolicionista seria a aposta no "método democrático" para a superaçao "definitiva" das mazelas sociais do Brasil.
"Que saibamos continuar a fazer o congraçamento democrático a melhor arma contra a pobreza, contra a indesculpável indigência material em que continuam a viver milhoes de brasileiros", disse. Fernando Henrique lembrou que Nabuco fazia "a apologia do que chamava política com P grande, política que é história" e afirmava "que a açao política nao deveria jamais prescindir da reflexao da análise prévia e cuidadosa dos fatos".
Em outro trecho do discurso, lembrou a crítica do escritor Mário de Andrade - favorável ao "abrasileiramento" do Brasil - às posiçoes "cosmopolitas" de Nabuco. "Os novos tempos parecem-me depor mais a favor de Joaquim Nabuco do que de Mário de Andrade", afirmou. O presidente também salientou a contestaçao veemente do abolicionista no uso do princípio da soberania nacional como forma de defender o tráfico de negros durante a época do império brasileiro.
Para Fernando Henrique, os argumentos dos abolicionistas ainda têm interesse para o debate de nesta terça-feira sobre os limites da soberania porque "antecipam questoes relevantes para a proteçao internacional dos direitos humanos". Segundo ele, Nabuco insistia que a soberania nacional tem limites e deve se sujeitar a "leis morais" que têm como fonte de legitimidade a consciência internacional, a humanidade, e que a violaçao dos limites deve ser objeto de sançao.
"Sabemos que, atualizados à linguagem atual (sic), os preceitos enunciados por Nabuco ainda encontram resistência", disse o presidente, explicando: "Incomodam aqueles que desejam fazer da soberania uma garantia da impunidade, um amparo que permita o desrespeito a direitos básicos da pessoa humana, a degradaçao do meio ambiente, a deteriorizaçao da imagem externa do país; se, até hoje, encontramos apóstolos da barbárie, podemos imaginar a oposiçao que sofreu Nabuco num momento em que se consolidava o Estado-Naçao."
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