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Ministra do Planejamento cobra discussão do pré-sal
Beto Silva
Enviado especial a Brasília
03/01/2011 | 09:47
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Miriam Belchior, ministra do Planejamento do governo Dilma Rousseff (PT), cobrou a retomada das discussões no Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, para que a região esteja atenta e não perca "o bonde" dos benefícios do pré-sal. O alerta foi dado em entrevista no Palácio do Planalto sexta-feira, véspera da posse da primeira mulher a comandar a Nação. "É uma oportunidade para o País e o Grande ABC já tem uma vantagem em relação a isso, pelo fato de já ter o Polo Petroquímico e a indústria relacionada na região. Se conseguir se preparar para pegar um marco de desenvolvimento que o pré-sal vai dar ao País, eu acredito que o futuro da região pode estar garantido por aí." Miriam, ex-secretária de gestões municipais petistas em Santo André, não descarta encabeçar chapa do PT na eleição municipal de 2012. "Eu tenho ido pouco lá (a Santo André), mas o que me dizem é que estão com saudade da gente. Eu não sei qual papel eu terei, mas certamente vou participar do processo de sucessão." A ministra também falou de reforma da Previdência, aumento do salário-mínimo, PAC e possíveis cortes no Orçamento da União e disse que o Grande ABC agora tem "um embaixador como poucos", referindo-se a Lula. Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

DIÁRIO - A previsão de corte de R$ 3 bi no Orçamento da União preocupa Planejamento de 2011?
MIRIAM BELCHIOR - Certamente o Orçamento que voltou do Congresso tem previsão de receita superior à estimada pelo governo e portanto não podemos começar a executar um orçamento nessas condições. Vamos ter de fazer algum ajuste como todo ano é feito, não tem nada de novo. Não mexi ainda nisso, minha primeira reunião é terça-feira (amanhã), mas é corriqueiro e não vejo isso como problema.

DIÁRIO - Como será relacionamento na equipe econômica, na qual normalmente se mostra divergente entre Banco Central, Fazenda e Planejamento?
MIRIAM - Acredito que a presidente Dilma escolheu a equipe e deu a todos recomendação bastante clara de trabalhar para convergir nos principais temas. Esse é o objetivo dela, para fazer com que o País continue crescendo, colocou como meta reduzir juros. Conheço muito bem o ministro Guido (Mantega, da Fazenda), tenho relação bastante próxima, então não vejo nenhuma dificuldade com ele. O novo presidente do Banco Central (Alexandre Tombini) conheço pouco, tive pouco contato, mas me pareceu uma pessoa bastante afável e será possível conduzir as coisas com tranquilidade. A mudança das equipes ajuda a desmontar eventuais tensões e a disposição que eu vejo dos três integrantes da equipe econômica é de trabalhar de maneira muito sintonizada, mesmo tendo visões diferentes sobre o problema.

DIÁRIO - O governo espera pressão do Congresso e da sociedade para aumentar a previsão do salário-mínimo (a estimativa é de que passará de R$ 510 para R$ 540) e como vai lidar com essa situação?
MIRIAM - Suponho que haja pressão sim da sociedade, mas precisamos ter maturidade nessa discussão. Quando o presidente Lula conduziu as negociações de regra permanente para o salário-mínimo, foi muito positivo. E os R$ 540 são a aplicação da regra. Não dá para fazer só a regra de ganhar: quando o PIB cresce, o mínimo cresce, e quando o PIB não cresce, continua o crescimento do salário. As receitas são limitadas, o impacto do salário-mínimo é muito grande nas contas públicas. A orientação do presidente Lula é a que a presidente Dilma vai seguir. O Congresso é que dará a palavra final sobre o assunto. Agora, eu espero que haja ponderação nessa questão.

DIÁRIO - O ano de 2011 não deve ser dos melhores para a economia mundial. A sra. acha que o Brasil está blindado e que o desenvolvimento do País tem um caminho sem volta?
MIRIAM - Acredito que temos bases muito sólidas. O governo mostrou que foi capaz de lidar com o momento mais difícil da crise. Nada indica que 2011 será pior do que 2009. Desse ponto de vista, acredito que vamos enfrentar bem qualquer dificuldade que apareça. Agora, nós estaremos atentos, essa é a questão fundamental. A equipe atual foi muito atenta a isso e passamos bem pela crise internacional. Assim, podemos continuar nesse crescimento que desfrutamos nos últimos anos no Brasil e que tem dado tanta esperança no governo.

DIÁRIO - Sob o aspecto regional, qual o impacto do PAC 1 no Grande ABC e qual a previsão de novos investimentos?
MIRIAM - O balanço é muito positivo. Temos obras na área de Petroquímica, por conta do Polo e a participação do governo federal foi fundamental para viabilizar o Rodoanel. Nós tivemos no PAC 1 volume significativo para reurbanização de favela e para saneamento. São R$ 9,6 bilhões em todo o Grande ABC quando considero os R$ 3,6 bilhões do Rodoanel. E já começamos o PAC 2, que depois do lançamento temos previsão de aporte para a continuação do Rodoanel e infraestrutra de gasodutos. Estamos fazendo a seleção do que chamamos de eixo de infraestrutura social e urbana. Nós selecionamos metade dos recursos e para essas áreas são R$ 1 bilhão (13 UBSs, uma UPA, 5 praças, pavimentação e drenagem, habitação e saneamento), dos R$ 5 bilhões do total que será destinado ao Grande ABC.

DIÁRIO - A maior parte desses investimentos é para prefeituras comandadas pelo PT. A questão política ainda está presente na seleção ou tem de ter bons projetos?
MIRIAM - O que vale são os projetos, essa premissa está errada, não vai para prefeitura que é do PT. Infelizmente fiquei muito chocada quando fiz a seleção de projetos porque São Caetano não pediu nada. Chamamos todos os municípios, explicamos o calendário. Eu fiz reunião com os 500 maiores municípios do País, o grupo 1 que o Grande ABC faz parte, depois fiz com o grupo 2 com mais 200 municípios e videoconferência com todos os demais, explicando o cronograma, como fazia para participar. Nós temos condições de atender quem tem projeto, essa é uma questão fundamental, e quem de fato se candidata. Fizemos questão de atender ao menos uma demanda de cada cidade, mas São Caetano e Rio Grande da Serra não pediram. A prefeitura de São Paulo é atendida e é do DEM. Queremos enfrentar os problemas das regiões metropolitanas.

DIÁRIO - Dilma dará mesma atenção para o Grande ABC como o Lula?
MIRIAM - A Dilma não é do Grande ABC, então não é a mesma coisa que ele, o carinho que ele tem com o ABC é o carinho que a gente tem com a casa da gente. Agora, a presidente DiIma tem absoluto conhecimento da realidade da região, sabe da importância e dos limites. Acredito que o ABC precisa retomar com força a discussão regional, claro que o Consórcio e a Câmara (Regional) são espaços institucionais importantes para fazer essa discussão. O ABC precisava retomar a discussão e precisava olhar a questão do pré-sal, que é uma oportunidade para o País e o Grande ABC já tem uma vantagem em relação a isso, pelo fato de já ter o Polo Petroquímico e a indústria relacionada na região. Se conseguir se preparar para pegar um marco de desenvolvimento que o pré-sal vai dar ao País, eu acredito que o futuro da região pode estar garantido por aí. A despeito de não ter o mesmo sentimento pela região, o presidente (Lula) vai continuar lá. O Grande ABC tem um embaixador como poucos.

DIÁRIO - Essa preparação pode ser feita de que forma?
MIRIAM - Essa é uma discussão a ser feita. O secretário de Diadema Luiz Paulo Bresciani (de Desenvolvimento Econômico e Trabalho) me pediu ajuda para contatos iniciais com a Petrobras para identificar dentro da cadeia necessária do pré-sal onde Diadema se encaixa. Esse é um trabalho que precisa ser feito. Tem um leque de possibilidades que o Grande ABC precisa estar atento para não perder o bonde.

DIÁRIO - Presidente Lula tem dito que gostaria de pegar o governo como a Dilma vai pegar agora. A responsabilidade fica ainda maior, e é uma obrigação fazer um governo melhor?
MIRIAM - Acredito que sim, que é uma situação que vamos ter de nos desdobrar ainda mais. Mas tem muito a ser feito. Para mim foi uma honra enorme trabalhar nesses oito anos... foi uma oportunidade única na vida (com voz embargada) e agradeço muito por isso. Nesse País há muita coisa a ser feita, mas é claro que as condições são muito melhores e o desafio de fazer um governo melhor é mais difícil.

DIÁRIO - Qual será o papel do Lula no governo Dilma?
MIRIAM - Ela tem uma confiança brutal nele. É uma confiança pessoal, ele é extremamente carinhoso, sabe apoiar muito nos momentos difíceis, ele tem essa capacidade. A confiança é pessoal e política. Ele é um líder excepcional. Não vejo outra tarefa que não seja um grande conselheiro, a quem ela possa consultar nos momentos que ela considere adequados.

DIÁRIO - A Previdência Social sofreu processo de modernização e informatização, mas fala-se em deficit de R$ 40 bilhões. Há possibilidade de reforma no sistema previdenciário?
MIRIAM - Essa não é a minha área, mas é importante deixar claro que a premissa não está correta. A Previdência tinha dois desafios. Um, acho que a gente conseguiu resolver, que é a questão do atendimento. Quem diria há oito anos que a gente iria chegar agora com uma situação completamente diferente, em que as pessoas conseguem ser atendidas com dignidade, marcando hora por telefone. O outro é o chamado deficit da Previdência. É importante dizer que - e eu agora não tenho os dados de cabeça - tem de separar a Previdência do que é o auxílio social, como a Previdência Rural em que a pessoa nunca contribuiu e tem, ao chegar aos 60 anos, o direito ao benefício. Se tirar isso a Previdência não tem o mesmo problema de deficit. É uma opção de política social que se adotou na Constituição de 1988. O que houve no País foi uma progressiva formação do trabalho, o que aumentou as contribuições previdenciárias. (A reforma) não está na pauta, a presidente respondeu isso durante a campanha. Esse é um tema que a sociedade precisa discutir. A nossa sociedade está envelhecendo, o que significa que cada vez mais teremos menos jovens para sustentar a Previdência de mais idosos. Essa é uma discussão que o País vai ter de enfrentar menos dia, mais dia.

DIÁRIO - O nome da sra. sempre é citado quando o assunto é a sucessão municipal de 2012 em Santo André. Aceitaria a missão de postular a Prefeitura pelo PT, deixaria o Ministério para isso?
MIRIAM - Tenho uma tarefa para a qual eu fui convidada que é ser ministra do Planejamento. Estou focada nessa tarefa agora. Isso (deixar a Pasta) não está no meu horizonte hoje. Claro que eu tenho interesse no que está acontecendo em Santo André e eu espero que o meu partido retome a Prefeitura porque a gente fez um excelente trabalho. Eu tenho ido pouco lá, mas o que me dizem é que estão com saudade da gente. Eu não sei qual papel eu terei, mas certamente vou participar do processo de sucessão em Santo André.

DIÁRIO - Como a sra. avalia o racha do partido (nas prévias de 2007 entre Ivete Garcia e Vanderlei Siraque) que culminou na perda do Paço?
MIRIAM - Ele deve servir de lição para o próximo momento. O partido precisa estar unido, e quando está unido consegue melhores resultados e acho que a cidade perdeu com a saída do PT do governo.

DIÁRIO - O PT não terá prévia para escolher o candidato em 2012?
MIRIAM - Não tenho bola de cristal, não dá pra dizer determinadas coisas. O tempo passou e uma parte das feridas se cura com isso. Nós perdemos o governo e vemos o custo que isso tem para a cidade. Nós temos todas as razões para construir um candidato na cidade.

 




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