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Um show de águas em Santo André
Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
01/01/2003 | 16:12
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Mata fechada com córregos, pedras escorregadias, lama, cobras e trechos estreitos que beiram um precipício, onde um passo em falso pode pôr um ponto final no passeio. Apesar de alguns riscos e da falta de sinalização – que leva muitos ecoturistas desavisados a se perder no caminho –, percorrer as trilhas da Serra do Mar, na divisa entre Santo André e Cubatão, garante momentos de aventura e uma das paisagens mais belas de toda a região do Grande ABC: a Cachoeira da Fumaça, vista de cima dos seus imponentes 45 m de queda d’água.

Para chegar até ela, pode-se percorrer a Trilha das Tartarugas ou a da própria Cachoeira da Fumaça, num percurso total de aproximadamente 11 km. A primeira segue o curso de um dos riachos que dão origem à cascata, sendo necessário cumprir a maior parte do trajeto com os pés dentro da água. Nesse caso, calçados antiderrapantes são fundamentais para evitar tombos sobre as pedras, sempre lisas e cobertas de musgo.

Já a trilha da Cachoeira da Fumaça é feita em terra firme – pelo menos, quando não há chuva para transformar tudo num grande lamaçal. Mas, em compensação, apresenta maior perigo de o ecoturista rolar barranco abaixo em meio à vegetação fechada. Alguns trechos em torno do precipício são tão apertados que agarrar-se às árvores torna-se irresistível, apesar do risco de ocorrer ferimentos com uma planta chamada tucum, cujos espinhos provocam inflamação e pus na área atingida.

Por isso, para evitar contratempos durante a aventura, o acompanhamento de guias com experiência no trajeto é imprescindível, não só devido aos obstáculos naturais como também para prevenir assaltos. “É preciso ir com segurança porque existem vários pontos específicos onde costuma haver roubos”, diz Ivan Bonadio, instrutor do Instituto Acqua, ONG que promove passeios pela região.

Para um grupo de dez ecoturistas, por exemplo, o instituto utiliza-se de, no mínimo, três instrutores. “Um ou dois membros da equipe vão na frente e avisam pelo rádio se houver deslizamentos, obstáculos ou pessoas mal-intencionadas no caminho. No meio, vai sempre um monitor que ajuda a coordenar o grupo e, atrás, um integrante, chamado cerra-fila, que averigua se algum objeto ficou perdido para trás e procura equilibrar a velocidade da caminhada pedindo para as pessoas acelerarem ou não o passo”, afirma Bonadio.

Mas engana-se quem pensa que os assaltos são o único temor da trilha. Passado esse receio, surge outro ainda maior: o de encarar os 45 m da Cachoeira da Fumaça suspenso em uma corda, atividade conhecida como cascading. Nesse caso, apesar dos equipamentos de segurança, não há como evitar que um frio tome conta do estômago, enquanto as pernas do iniciante, trêmulas, procuram vencer a força da água na vã tentativa de firmar-se contra a rocha vertical, formando um ângulo de 90º. Assim como também é inevitável lembrar-se de que uma pergunta deixou de ser feita: por que, afinal de contas, o local onde a cachoeira se encontra é conhecido como Vale da Morte? A essa altura das circunstâncias – e da cachoeira –, é melhor nem saber... O que vale é a sensação de ter vencido os limites do próprio medo.




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