Se as experiências com seres humanos, que deverao começar logo, se revelarem positivas, o progresso será decisivo. Até agora, os únicos tratamentos anti-drogas sao constituídos por substitutos da droga, como a metadona ou o subutex -, o que absolutamente nao resolve, porque estes produtos nao diminuem a busca compulsiva da droga. Além disso, os pacientes, se efetivamente se libertam da cocaína ou do tabaco, tornam-se dependentes dos produtos de substituiçao, a metadona ou o subutex.
Os trabalhos das equipes francesas de Jean-Charles Schwartz e Pierre Solokoff abrem um caminho inédito. Levam em conta os "sinais" que induzem a pessoa dependente a consumir a droga - por exemplo, a vista de uma colher, de uma seringa, um cheiro de tabaco, etc, suficientes para que a pessoa seja obrigada a buscar sua droga.
Estes sinais (e portanto o desejo da droga) sao transmitidos por um neuro-transmissor (principalmente a dopamina) que chega a um neuro-receptor, um dos quais, recentemente descoberto, traz o nome de D3 e se encontra localizado numa zona precisa do cérebro.
A partir de entao, foi estabelecido um protocolo: partiu-se em busca de uma molécula apta a reduzir a atividade deste neuro-receptor D3. E, depois de centenas de testes, descobriu-se uma molécula idônea: a BP 897.
É entao que entram em cena os ratos "viciados em cocaína". Um laboratório de Oxford testou o BP 897 nos ratos "drogados" e treinados especialmente para buscar sua droga a partir de alguns sinais luminosos. Logo que um desses sinais começa a piscar, o rato drogado salta sobre uma alavanca e a abaixa para poder ingerir sua pequena dose de cocaína.
As experiências foram conclusivas: depois de absorver a molécula BP 897, o rato fica indiferente quando lhe sao enviados os sinais luminosos. A busca compulsiva da droga, a partir dos sinais, fica bloqueada pela nova molécula.
Outra vantagem deste caminho de pesquisa: enquanto todos os outros tratamentos sao adaptados a tal ou qual droga, e nao a todas, a molécula em questao agiria da mesma maneira sobre qualquer tipo de droga - cocaína, morfina, maconha e até mesmo o tabaco. E porque nao o álcool?
Naturalmente, os testes foram feitos apenas em ratos e sabemos que às vezes existe um abismo entre a reaçao dos seres humanos e as dos animais. Contudo, nesse caso, os especialistas da etologia médica garantem que o que teoricamente é bom para um rato, deveria ser bom para um homem. Efetivamente, diante das drogas, o animal tem reaçoes muito parecidas com as dos seres humanos: adora consumi-las, é sensível ao "ambiente da droga" e tem muita dificuldade para se livrar dela.
Nada se pareceria mais a um homem drogado do que um rato toxicômano.
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