Vitória para lavar a alma petista andreense. Após derrota desgastante em 2008 e quatro anos de hiato na administração, o PT reconquistou ontem o poder do Paço de Santo André com a vitória do deputado estadual Carlos Grana. O petista venceu o prefeito Aidan Ravin (PTB) ao obter 204,5 mil votos (53,92%) no segundo turno, ante 174 mil sufrágios (46,08%) do adversário, fechando uma diferença de 29,7 mil votos e retornando ao Executivo local pelo qual já comandou por 16 anos.

Com a vitória, Grana compareceu ao diretório do PT, onde se reuniu com as principais lideranças da legenda. Aos prantos, o ex-prefeito João Avamileno (PT), um dos filiados mais atuantes na campanha, afirmou que o êxito do correligionário significa a redenção pessoal e partidária. "Em 2008, com o racha do PT, fui considerado o vilão da história. Hoje me sinto de alma lavada."

Depois de 12 anos consecutivos de gestão, uma prévia interna provocou fissura na legenda, culminando na derrota para Aidan, à época no primeiro mandato de vereador.

O deputado federal Vanderlei Siraque (PT), candidato derrotado há quatro anos, sustentou que o resultado é o resgate da dignidade, honra e da verdade, relembrando os percalços de 2008. Segundo o parlamentar, o petebista fez "mandato catapora, que só dá uma vez".

O parlamentar discorreu ainda que o prefeito petebista fez governo sem planejamento, sem capacidade de gestão, o que representou um atraso, além de só mentir. "Ele é pessoa mau caráter, cafajeste e covarde. Apelou com campanha baixa em 2008, me atacou, e agora também. Mas o azar dele é que estamos unidos."

Articulador regional do PT, o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, avaliou que o governo Aidan figura a ausência de visão e solidariedade. Para o chefe do Executivo, o petebista pode ser "bom médico e ter boa vontade", mas faltou experiência política e equipe de governo. "O resultado foi governo de preguiça e piada." Marinho tende a ser o mentor de Grana, que deve usar o vizinho como referência de gestão.

Grana representa sucesso eleitoral da interlocução do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, assim como em São Paulo, com Fernando Haddad, indicou o preferido para encabeçar a chapa majoritária.

A predileção de Lula por quadros de renovação deu certo na cidade. Ele agiu diretamente para que o afilhado político fosse escolhido o candidato do PT por consenso há um ano, evitando assim disputa interna. Aos 46 anos, Grana foi constituído sob o mesmo berço de Lula e Marinho, formado no sindicalismo.

O agora prefeito eleito disse que fará um governo sem ódio, criando novo ciclo, que buscará unir a cidade em torno da retomada do desenvolvimento, dando continuidade às gestões petistas de Celso Daniel (morto em 2002) e Avamileno.

Os petistas lotaram a Rua Coronel Abílio Soares, com cerca de 5.000 pessoas, para comemorar a vitória. Grana alfinetou Aidan, que atribui a derrota a campanha suja. "Ele dormiu quatro anos e agora arruma desculpa. Ele falou em ‘onda azul' e vejo que essa onda não passou de marolinha", frisou em tom de ironia. "Ao vencedor, a comemoração. Ao perdedor, vai chorar na cama que é lugar quente", completou.

O deputado colocará como metas resgatar projetos vencedores do PT, porém, sem perder parcerias, principalmente com o governo federal. "Pretendo fazer o que fiz a vida toda: muito trabalho." Grana não descartou aproveitar projetos de Aidan. "Estou tentando descobrir algum, mas, se tiver projeto bom, vamos manter. O que eu lembro que ele realizou foram as academias ao ar livre, que pretendo dar atenção", afirmou, ao salientar que espera colaboração do prefeito para começar nesta semana processo de transição.