O mercado aposta que a situação das contas externas vai piorar ainda mais. Na primeira pesquisa Focus realizada após o Brasil receber o grau de investimento, analistas reduziram as estimativas para o câmbio e pioraram as projeções para o indicador que mede o saldo entre entrada e saída de dólares do País.

Na inflação, a aposta para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em 2008 subiu pela sexta vez seguida, e se aproxima de 5%.
Com a melhora da nota anunciada pela agência Standard & Poor's, há expectativa de que mais investidores aloquem recursos no Brasil.

Isso traz mais dólares para o País, o que reduz as cotações da moeda americana. Com o câmbio favorável e crescimento interno, avalia o mercado, as importações aumentam e as exportações diminuem.

Diante dessa avaliação, o mercado reforçou a aposta de que o câmbio deve permanecer valorizado e a estimativa para o dólar no final de 2008 caiu de R$ 1,75 para R$ 1,74. Para 2009, o número recuou de R$ 1,82 para R$ 1,80.

Os números deflagraram ajustes do quadro para as contas externas: a estimativa de déficit em conta corrente em 2008 aumentou de US$ 16,6 bilhões para US$ 18 bilhões. A piora foi mais acentuada na projeção de déficit para 2009, que saltou de US$ 22 bilhões para US$ 25 bilhões.
"O grau de investimento reforça a expectativa de mais dólares no País. Isso acelera a deterioração das contas externas", diz o economista-chefe da Corretora Souza Barros, Clodoir Vieira.

Sobre a reavaliação dos números, ele lembra que o grau de investimento foi anunciado na quarta-feira à tarde, véspera de feriado. Por isso, muitas instituições financeiras ainda não revisaram o cenário.
"Por isso, esperamos que a deterioração das previsões pode continuar nas próximas semanas. Sempre demora um pouco para que todo o mercado faça o ajuste", diz.

O superintendente do Banco Banif, Rodrigo Trotta, diz que a piora das projeções também reflete dados divulgados na semana passada. Em 28 de abril, o Banco Central anunciou o resultado das transações correntes no primeiro trimestre, que veio pior que o esperado e acentuou o pessimismo entre analistas. "Em três meses, temos déficit de mais de US$ 10 bilhões, quase o esperado para todo o ano", diz.