Alguns indivíduos permanecem magros durante toda a vida, seja por apresentarem perfil metabólico “gastador”, ou porque são geridos por centros da fome e saciedade resistentes às substâncias modificantes e com isso, estes setores permanecem intactos para impor ingesta alimentar comedida. Em qualquer destas duas hipóteses, o sortudo é um privilegiado pela natureza e a contribuição que pode ceder para protocolos de perda ponderal é permitir que a ciência o estude, mas o que pensa sobre como fazer para perder peso tem pouca importância.
Quando alguém resume o emagrecimento como simples decisão pessoal de assumir novos hábitos alimentares e praticar exercícios, muito provavelmente o falastrão é magro (das exceções supracitadas), desavisado, ou, mal-intencionado. Naqueles do primeiro exemplo, faltam-lhes a humildade para reconhecer que suas magrezas não são resultantes de seus arbítrios. Os desavisados carecem do auto senso investigativo e replicam aquilo que lhes parece lógico.
O que verdadeiramente preocupa é a imensa “indústria” promovida por doutrinadores midiáticos, ou não, que vendem condutas e conceitos emagrecedores, para os quais a ciência, em quase um século de pesquisas, jamais chancelou resultados sustentados.
Vemos comumente esses atores contabilizando gastos calóricos de acordo com a atividade física praticada, que além de desconsiderarem as individualidades de perfis metabólicos, fazem imaginar ser possível impedir que o organismo reponha a energia consumida. No pior de seus desserviços, esses ditos especialistas, ensinam ginásticas com movimentos mágicos para a retirada de depósitos de gorduras localizados atrás do joelho, abaixo do umbigo e nos locais que o cliente demandar.
Mesmo diante da compreensão, que a maior parte das intolerâncias alimentares não corrigidas levam ao emagrecimento, não faltam gênios que procurem, à exaustão, algum desses males para justificar a obesidade de seu paciente. Os estudos demonstram não haver diferença para o decréscimo de peso, se o mesmo conteúdo calórico é consumido de uma só vez, ou dividido em 2 ou 10 refeições, contudo, alguns cardápios “salvadores” impõem horários inegociáveis para as ingestas alimentares.
A determinação do tipo sanguíneo é de grande importância clínica, mas não possui qualquer conexão emagrecedora com grupos específicos de alimentos, ainda assim, vemos frequentemente suas indicações.
As causas da obesidade são múltiplas e seguramente possuem relação com o sedentarismo do mundo contemporâneo, mas é importante que saibamos que não fazer atividade física favorece acúmulo gorduroso e a sua realização protege desta malquista aquisição (entre tantos benefícios), porém, se corrobora para perda de peso, não é pelo gasto calórico.
Embora alguns obesos tenham estado acima do peso desde a primeira infância, a maior parte deles experimentou muitos anos de boa forma e despreocupação com a silhueta. É provável que a principal causa da engorda planetária seja a alteração de nossos centros gestores (localizados no cérebro) da fome e saciedade, provocada por componentes químicos do meio ambiente, estejam no ar, alimentos ultra processados, agrotóxicos, medicamentos, plásticos, cosméticos e tantos outros produtos.
Readequar a dieta com produtos não processados, manter bom equilíbrio entre carboidratos, gorduras e proteínas, consumir boa quantidade de fibras, não utilizar bebidas açucaradas e praticar exercícios rotineiramente, é a verdade a ser entregue, não para emagrecer, mas para não engordar.
Por outro lado, diminuir racionalmente a ingestão destes bons alimentos e negar o sedentarismo, pode resultar em pequenos e sustentáveis realinhamentos nos ponteiros da balança, suficientes para importante melhora clínica em muitas patologias.
Porém, grandes reduções ponderais passam por condutas médicas muito mais complexas e a sustentabilidade do sucesso alcançado não pode ficar sob a tutela de hipóteses ou crendices.
Antonio Carlos do Nascimento é doutor em Endocrinologia pela Faculdade de Medicina da USP e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.
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