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Jilmar Tatto: ‘Vou crescer e o PT sempre foi para o 2º turno’
Junior Carvalho
Do Diário do Grande ABC
17/08/2020 | 07:00
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César Ogata/Divulgação


Escolhido como candidato do PT à prefeitura de São Paulo em prévias acirradas e que contaram com a influência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-deputado federal Jilmar Tatto minimiza o tímido desempenho nas pesquisas e garante ter apoio da militância para ir à disputa. Em meio a apelos para que sua candidatura seja trocada pela do ex-prefeito Fernando Haddad e a flertes de aliados ao projeto de Guilherme Boulos (Psol), Tatto evita rivalizar com o líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) e diz apostar no início da campanha eleitoral na TV, no rádio e na internet para consolidar apoio no campo progressista. “Estamos preocupados em salvar vidas e em não nos contaminarmos. Não estamos preocupados com isso (pesquisas) agora. Eu estou tranquilo, sereno. Eu tenho a plena convicção de que vou crescer e o PT sempre foi para o segundo turno, porque é o principal partido da esquerda brasileira.”

A escolha pelo nome do senhor como candidato do PT à prefeitura de São Paulo foi um processo conturbado. Surgiram algumas pré-candidaturas, além disso, ala do partido vislumbrava ver o ex-prefeito Fernando Haddad como o prefeiturável, mas ele rejeitou. No fim, o senhor venceu as prévias com o deputado federal Alexandre Padilha por diferença de 15 votos. O senhor acha que tem o apoio da militância para disputar?
O PT é um partido democrático, tem mais de 2 milhões de filiados. Só aqui na cidade de São Paulo temos 170 mil filiados. Todas as vezes em que teve eleição, houve disputa, teve prévias. Desde a época da (ex-prefeita, hoje deputada federal Luiza) Erundina e do Haddad. Teve (disputa) do (Aloizio) Mercadante com e com o (Eduardo) Suplicy. Isso para nós é um processo bastante tranquilo. Nós fizemos 14 debates. Estavam programados 18, mas aí veio a pandemia e nós tivemos que parar esses debates presenciais. Teve sete candidatos. Nós fizemos um encontro que tirou minha candidatura. Acabou ficando eu e o Padilha. O que eu posso dizer é que o PT está unido como nunca. A militância está animada.

Então o senhor encara com tranquilidade o fato de algumas figuras do partido resistirem à sua candidatura e o fato de ter tido prévias?
(A prévia) É passado. O Padilha está na coordenação da minha campanha, o Haddad está na coordenação. Eu tenho deputados, tenho gente da ala sindical e da área social (apoiando). O que existe é que eu sou o pré-candidato. Agora é organizar para preparar a convenção oficial e preparar o plano de governo. A nossa chapa de vereadores está muito boa. Tem uma capilaridade muito grande na cidade. O PT é forte na cidade de São Paulo e é forte na periferia. Nós vamos colocar a periferia no orçamento. Esse é o grande desafio na cidade. Somada essa unidade do PT, a garra da militância, e um bom programa de governo é o que vai nos levar a ganhar na cidade de São Paulo.

Como o senhor encarou a decisão do Haddad em não querer ser candidato?
Eu concordei com ele. O que ele fala é que já foi prefeito, tentou ser uma segunda vez e o povo não quis e aí depois lançaram ele para concorrer a presidente. Além de ajudar na cidade de São Paulo, ele está ajudando efetivamente a correr o Brasil e fazer o debate sobre os rumos do País. Então, se ele fosse o candidato eu jamais seria. Falei para ele, se ele resolvesse ser candidato, ele seria. Mas ele acha que já deu a contribuição para a cidade e que ele está agora percorrendo o Brasil e ajudando o PT a lançar uma grande programa de salvação nacional.

Mas ainda há esse burburinho no nome dele...
Já foi superado, porque todo mundo sabe que ele não vai querer ser o candidato, ele já comunicou. Então, não tem sentido. Agora, as pessoas têm opinião e podem opinar. Ele tem mais visibilidade. Mas cada vez menos as pessoas estão falando (no nome do Haddad). Na medida em que eu vou fazendo agendas, vou consolidando, as pessoas vão percebendo que não tem sentindo ficar falando no nome do Haddad. Agora, ele é uma pessoa querida. Com a chegada da (campanha na) televisão, rádio e redes sociais, o PT cresce. O PT é um partido de chegada, pode pegar todas as campanhas nossas. Por isso estamos dialogando, fazendo manifestos. Vamos organizar outros manifestos e assim gente vai, nessa pandemia, fazendo reuniões e conversando.

E as pesquisas? O senhor tem aparecido em terceiro, empatado tecnicamente com outro nome da esquerda, o Guilherme Boulos (Psol)...
Estamos preocupados em salvar vidas e em não nos contaminarmos. Não estamos preocupados com isso agora. Eu estou tranquilo, sereno. Eu tenho a plena convicção de que vou crescer e o PT sempre foi para o segundo turno, porque é o principal partido da esquerda brasileira. E em São Paulo tem 30% que vota em candidato com programas progressistas, 30% que votam em ultraliberais, de direita, e tem outros 30% que ficam oscilando, dependendo da performance do candidato, do programa de governo e da conjuntura. Eu vou ser o próximo prefeito da cidade de São Paulo. A pesquisa agora é o que menos importa, se estou em primeiro, segundo, terceiro ou quinto. É o menos importante. O importante é a gente trilhar o caminho correto para ganhar a eleição.

Desde as eleições de 2018 muito se fala na união da esquerda, que não ocorreu naquela eleição. Qual a possibilidade de o senhor estar no mesmo palanque que o Boulos?
O PT governou a cidade por três vezes, está organizado em 37 diretórios. Deixamos marcas profundas aqui, principalmente na área social, como a construção dos CEUs (Centros Educacionais Unificados), o Bilhete Único, as ciclovias, as construções de hospitais, o programa saúde da família, mutirões na área de moradia e a revitalização de favelas. Tudo isso coloca o PT como o principal protagonista de novo. O que se tem de novo no cenário nacional é que se tem a cláusula de barreira. Os partidos estão muito preocupados com isso, principalmente os partidos pequenos. E essa também é uma dificuldade do Psol e do PCdoB. Eles precisam aparecer em razão da cláusula de barreira. A gente vai se juntar no segundo turno. A disputa é contra um candidato do (Jair) Bolsonaro, que ainda não está definido quem vai ser, portanto, um candidato de opiniões fascistas e autoritárias e misóginas e o outro candidato que é o (prefeito) Bruno Covas (PSDB), que é o candidato do desmonte do Estado.

Como o senhor vê a gestão Bruno Covas no enfrentamento da pandemia?
Mesmo nesse período de pandemia, está terceirizando hospitais, está comprando vagas das escolas privadas, até o serviço funerário está sendo privatizado. Então, o povo precisa cada vez mais do Estado. Se não fosse o SUS (Sistema Único de Saúde), o que seria esse período? Então, precisamos fortalecer o Estado. As escolas precisam estar preparadas para receber os alunos, isso eles não estão fazendo. Se eu fosse prefeito, por exemplo, com certeza já tínhamos implantado a renda básica de cidadania, porque o povo não tem o que comer e a prefeitura tem dinheiro. Essas ações a gente já teria feito na cidade. Teríamos higienizado a frota de ônibus e colocado 100% dos veículos, teríamos feito um diálogo com o comércio para fazer um escalonamento dos horários para evitar aglomerações, principalmente no setor do transporte no horário de pico. Teria aumentado e muito os testes para ir monitorando os locais onde tem os maiores índices de contaminação (pelo coronavírus). E isso não está acontecendo. Por isso a cidade precisa de alguém que saiba cuidar da cidade, que coloque realmente o povo no orçamento e que cuide desse povo no momento que a gente está passando.

Qual vai ser o peso desta pandemia na corrida eleitoral? Até que ponto este momento pode mudar o rumo das coisas?
Já mudou. Exceto o (governador João) Doria (PSDB) e o (presidente Jair) Bolsonaro, que caíram na pandemia, os prefeitos, como o povo está desesperado em certa medida, acabaram subindo nas pesquisas. Pela posição e pelo desespero das pessoas, os prefeitos acabaram tendo visibilidade. Mas eu acho que, por outro lado, na hora de decidir sobre o futuro, outras coisas vão pesar também. O índice de desemprego aumentou bastante e você não tem renda. Você observa, portanto – e o debate eleitoral vai ser importante por causa disso –, que não foi tomada nenhuma medida para o pós-pandemia, de preparar a cidade para o depois, principalmente para geração de emprego e renda. Isso vai ser colocado no debate. Eu acredito muito que os prefeitos de um modo geral vão fazer um voo de galinha, um voo curto. Essa tendência não vai continuar.

O PT aposta em candidaturas de ex-prefeitos do partido no Grande ABC para tentar voltar ao poder na região. O senhor acredita ser possível retomar o chamado cinturão vermelho?
Nós vamos recuperar o cinturão vermelho não só na cidade de São Paulo como na Região Metropolitana. Voltar a governar Mauá, Santo André, Guarulhos, Osasco. Queremos fazer um debate, já tenho conversado com o (ex-prefeito de São Bernardo e presidente do PT paulista, Luiz) Marinho, com o (ex-prefeito de Osasco) Emídio (de Souza) e com Eloi (Pietá, ex-prefeito de Guarulhos), de como a gente vai articular a Região Metropolitana. Geralmente são nas divisas que estão os principais problemas. São nas divisas que existem problemas de moradia, com pessoas morando à beira de córregos. Então, esse debate sobre ter um organismo metropolitano com poder de decisão é fundamental. A questão do transporte, por exemplo, tem linhas intermunicipais. Não dá para planejar uma operação dos transportes sem a mesma tarifa. Não podemos mais cada município cuidar do seu. Pelo contrário.

E como recuperar essa hegemonia num cenário distinto, em que o PT tem poucos prefeitos e vereadores?
(A eleição de) 2016 foi terrível para nós, uma tragédia. Deram o golpe na (ex-presidente) Dilma (Rousseff) e o PT acabou perdendo muitas prefeituras e vereadores. Mas em 2018 não foi mais assim. Mesmo o (ex-presidente) Lula não conseguindo ser candidato, o Haddad foi para o segundo turno e teve 47 milhões de votos. Nós fizemos a maior bancada de deputados federais do Brasil e elegemos quatro governadores. Eu tenho observado que a imagem do PT está melhorando, até em razão do que aconteceu na Lava Jato, de condenarem o Lula, prenderem ele e no primeiro dia do governo o (ex-juiz Sergio) Moro assumir o Ministério da Justiça. A população está percebendo. Resgatar o legado em cada cidade em tudo o que o PT fez, isso é fundamental e nós vamos resgatar esse legado, vamos fazer uma campanha muito forte do ‘vote no 13’ e ao mesmo tempo apostar no futuro.

RAIO X
Nome: Jilmar Augustinho Tatto
Estado civil: Casado
Idade: 55 anos
Local de nascimento: Corbélia (Paraná)
Formação: Graduado em história, mestre e doutorando na USP (Universidade de São Paulo)
Hobby: Cozinhar com a família
Local predileto: Avenida Paulista
Livro que recomenda: Capital e Ideologia, de Thomas Piketty
Artista preferido: Milton Nascimento
Profissão: Historiador
Onde trabalha: Secretário de comunicação do PT




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