Política Titulo São Bernardo
Museu foi encomendado por Lula, diz empresário

Dono de empresa que fez projeto arquitetônico
admite que ex-presidente pediu pelo empreendimento

Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
15/12/2016 | 07:00
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Ricardo Trida/DGABC


Sócio da Brasil Arquitetura, empresa que apresentou o estudo de construção do Museu do Trabalho e do Trabalhador, de São Bernardo, Marcelo Carvalho Ferraz disse que o projeto foi “encomendado” pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A declaração está na denúncia feita pelo MPF (Ministério Público Federal) que baseou a Operação Hefesta, da PF (Polícia Federal), deflagrada na terça-feira e que levou à prisão empresários e secretários do governo do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT).

Ferraz confirmou que o museu foi pedido por Lula em entrevista ao site AECWeb, voltado ao público da arquitetura, engenharia e construção. “Por encomenda do presidente Lula, fizemos o projeto do Museu do Trabalho e do Trabalhador, a ser construído no terreno do antigo mercado municipal, no Centro de São Bernardo, ao lado da Prefeitura. Neste museu vamos tratar do trabalho do homem numa dimensão ampla, com foco na região do Grande ABC. Ele poderia estar em qualquer lugar do mundo, mas está em São Bernardo, cidade ícone do trabalho. Porém, não será o memorial do metalúrgico”, disse Ferraz ao portal. A entrevista, porém, foi retirada do ar após a Operação Hefesta.

Com custo inicial de R$ 19 milhões – mas já aditado para R$ 21,68 milhões –, o Museu do Trabalho e do Trabalhador foi idealizado por Marinho ainda em 2010 com objetivo de enaltecer as lutas sindicais das décadas de 1970 e 1980, que catapultaram a imagem de Lula no cenário nacional. Afilhado político do ex-presidente, o petista sempre negou que o museu seria voltado a Lula, mas admitiu que a história de vida do ícone petista teria destaque no empreendimento.

O contrato para construção do museu foi assinado em 2010, último ano de Lula à frente da Presidência da República. A empreiteira contratada foi a Construções e Incorporações CEI, apontada pelo MPF como empresa laranja para ocultar os reais beneficiários com a obra – para os promotores, a CEI não tem capacidade técnica para executar um projeto desse volume.

A Brasil Arquitetura foi contratada por R$ 400 mil para executar os projetos arquitetônico e básico do museu. A Prefeitura negou ter relação com essa empresa, mas, de acordo com o MPF, a administração interferiu para contratação da companhia por meio de consórcio criado para a obra do empreendimento.

Ferraz foi conduzido coercitivamente a prestar depoimento na terça-feira, na sede da PF, em São Paulo. Seu sócio, Francisco de Paiva Fanucci foi preso temporariamente por ter, segundo o MPF, se beneficiado por desvio de recursos. Nas contas da instituição, R$ 7,9 milhões foram extraídos dos cofres públicos. Além de Fanucci, foram presos os secretários Alfredo Buso (Obras) e Osvaldo de Oliveira Neto (Cultura). 

A minha missão é colaborar com a Justiça, afirma Orlando Morando

O prefeito eleito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB), pontuou críticas ao episódio ocorrido na terça-feira que envolveu a construção do Museu do Trabalho e do Trabalhador, resultando na prisão de dois secretários do governo do prefeito Luiz Marinho (PT), além de acusação da Justiça de esquema de desvio de recursos.

“Esse projeto, que tinha como objetivo transformar esse espaço em Museu do Trabalhador, começou de forma estranha, pois nunca foi discutido com a população. Com o tempo parecia que era para homenagear o ex-presidente Lula e seu partido. Minha missão é colaborar com a Justiça para que os envolvidos, se confirmados culpados, sejam punidos e paguem o preço da lei”, destacou Morando, reforçando discurso de campanha, quando prometeu modificar destino do projeto.

CLIMA

Silêncio e abatimento foram os sentimentos nos semblantes dos oito vereadores do PT no dia de ontem. Ninguém quis comentar oficialmente as prisões dos secretários, nem mesmo a operação da Polícia Federal, que norteou as principais notícias da grande imprensa. No canteiro de obras, os portões do museu estavam fechados, sem a presença de nenhum operário da construtora.




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