Economia Titulo Balanço
Comércio tem o pior resultado desde 2003

Sem incentivos fiscais, com dólar e inflação em alta,
vendas tiveram expansão de apenas 3% no período

Tauana Marin
Do Diário do Grande ABC
15/08/2013 | 07:12
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Quem trabalha no comércio percebeu que o ritmo de vendas no primeiro semestre foi fraco. O varejo registrou o pior desempenho para os primeiros seis meses em termos de crescimento de vendas desde 2003, independentemente de ajustes sazonais, aponta a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), ao analisar os dados divulgados ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Isso porque o volume de comercializações no acumulado de janeiro a junho subiu apenas 3% na comparação com o mesmo período do ano passado. Esse é o pior resultado para o primeiro semestre desde 2003, quando as vendas do setor recuaram 5,59%, também na comparação com os primeiros seis meses do ano anterior.

“O primeiro trimestre deste ano enfraqueceu os demais. Os resultados foram muito ruins. As pessoas frearam o consumo diante da inflação, a alta de juros e o aumento da inadimplência”, analisa Fabio Bentes, economista da confederação.

Já no caso de comparar os desempenhos médios semestrais (média do semestre contra a média dos seis meses anteriores) observa-se que este foi o pior desempenho, desde o primeiro semestre de 2005, afirma economista e professor da Universidade Metodista de São Paulo Sandro Maskio. “Nem mesmo o primeiro semestre de 2009, logo após a crise financeira mundial, a evolução do volume de transações comerciais foi tão ruim (à época, a redução foi de 6,34%)”, explica o professor.

“Dentre os fatores que devem configurar-se como as principais causas desta retração na trajetória do setor estão a redução no ritmo de geração de empregos, o que retrai a expansão da massa de salários; o elevado grau de endividamento das famílias e de comprometimento da renda, que tem refletido na diminuição do ritmo de expansão do crédito e o aumento dos preços, inflação; o que diminui o poder de compra.”

Bentes completa dizendo que a desvalorização do real neste ano também contribuiu para que os consumidores passassem a pagar mais pelos itens importados, o que desacelera o ritmo de compras.

NA REGIÃO - O comércio do Grande ABC também sente os reflexos desse desempenho fraco. Para se ter ideia, no Dia dos Pais, comemorado no fim de semana passado, lojistas tiveram acréscimo nas vendas na ordem de 0,3% se comparado com 2012. “Praticamente, não cresceu nada. Isso é estagnação. Sentimos que as pessoas disponibilizam grande parte de seus salários para pagamento de dívidas. Fora isso, a inflação ‘come’ o que sobraria do orçamento familiar. A esperança está depositada no Natal”, diz Eli de Oliveira, presidente da Aciam (Associação Comercial e Industrial de Mauá).

O dirigente da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André), Evenson Dotto, acredita que ainda é muito cedo para traçar projeção para a principal data para o comércio, o Natal. “Até o fim do ano muita coisa pode acontecer. Mas, o que posso adiantar é que o consumidor se vê refém das contas e despesas básicas. Com a inflação, tudo ficou mais caro, assim como os alimentos. No fim das contas, não sobra nada.” No entanto, ao falar com lojistas da região, Dotto defende que neste mês as comercializações tiveram desempenho ‘um pouco’ melhor se comparado com os meses anteriores.

LIGEIRO ACRÉSCIMO - Ainda de acordo com o IBGE, em junho o comércio varejista brasileiro teve crescimento de 0,5% no volume de vendas e de 0,9% para a receita nominal, ambas as variações com relação ao mês anterior, ajustadas sazonalmente. Para o volume de comercializações, trata-se do terceiro resultado positivo consecutivo e, para a receita nominal, representa o 13º mês de taxas positivas.

Nas demais comparações, obtidas das séries originais (sem ajuste), o setor obteve, em termos de volume de vendas, acréscimos de 1,7% sobre junho do ano anterior e de 3% e 5,5% nos acumulados dos seis primeiros meses do ano e dos últimos 12 meses, respectivamente.

Para a CNC, a expectativa é que os dados relativos a julho revelem variação positiva de 0,7% sobre junho. Na comparação com maio, das dez atividades pesquisadas pelo IBGE, o volume de vendas cresceu em seis. Entre eles, móveis e eletrodomésticos (1,8%); livros, jornais, revistas e papelaria (1%); artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (1%); veículos e motos, partes e peças (0,9%); combustíveis e lubrificantes (0,9%); material de construção (0,6%).
 




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