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Ação de Morando contra
Paulo Serra revolta PSDB

Figuras do partido mostram perplexidade com tentativa de prefeito de S.Bernardo transferir ao andreense culpa em escândalo

Raphael Rocha
Fábio Martins
Do Diário do Grande ABC
05/06/2021 | 00:01
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Denis Maciel/DGABC


A tentativa do prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB), de imputar ao prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSDB), responsabilidade pelo escândalo deflagrado pela Operação Prato Feito gerou revolta no tucanato regional, no diretório estadual e chegou até a executiva nacional do partido.

A reportagem do Diário que mostra que a defesa de Morando buscou tirar dele o patrocínio da indicação do advogado Carlos Roberto Maciel – pivô da denúncia – ao comando da FUABC (Fundação do ABC) circulou em grupos de WhatsApp de tucanos graúdos. Não foram poucos os que criticaram a postura de Morando.

O clima de indignação esteve presente na maioria dos comentários, até porque, dentro do PSDB, é conhecida a relação de Morando e Paulo Serra de outros tempos – o andreense foi padrinho de casamento do são-bernardense com a hoje deputada estadual Carla Morando.

O assunto pautou roda de conversas logo nas primeiras horas da manhã. Foi tema de debate em Santo André e em São Bernardo. Até mesmo aliados de primeira hora de Morando mostraram incredulidade com o fato de o prefeito são-bernardense colocar na conta de Paulo Serra a nomeação de Maciel para a FUABC.

Como mostrou o Diário, a indicação de Maciel para a organização social surgiu diante de pressão de Morando para mudança na direção da entidade regional – pelo rodízio das prefeituras mantenedoras, cabia a Santo André a nomeação do presidente em 2017. O ato formal foi assinado por Paulo Serra em setembro daquele ano, mas sob orientação de Morando.

Tanto que, na posse junto ao conselho de curadores, Maciel admitiu que havia recebido convite de Morando para assumir a FUABC. Maciel foi vereador por São Bernardo e, até o escândalo da Prato Feito vir à tona, em maio de 2018, era homem forte do governo tucano. Integrou a equipe de transição e foi secretário de Coordenação Governamental, que tem livre trânsito com todas as pastas do Executivo. Maciel nunca teve relação com Santo André ou Paulo Serra (veja abaixo a cronologia da Prato Feito).

Apesar do clima de revolta interna, nenhum figurão do PSDB se dispôs a comentar publicamente o assunto. Também ninguém quis, pelo menos por ora, colocar adiante alguma movimentação para que Morando passasse por avaliação do conselho de ética diante de sua postura com um correligionário.

A equipe do Diário tentou, durante todo o dia, ouvir o presidente estadual do PSDB e secretário paulista de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi, o presidente andreense do PSDB, Edson Salvo Melo, o ex-coordenador regional do partido e integrante da executiva estadual, Márcio Canuto, e até mesmo Paulo Serra para analisar o episódio. Nenhum deles retornou aos contatos.

Na noite de quinta-feira, Morando, por nota, informou que, ao se referir à indicação de Maciel à FUABC nos autos do processo em trâmite no TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região), “a defesa apenas retratou cada um dos períodos”. “Naquele momento foi feita uma substituição de uma pessoa que havia sido indicada pelo prefeito de Santo André (no caso, Maria Bernadette Zambotto Vianna). Depois (Maciel) permaneceu no cargo por sugestão do prefeito de São Bernardo. Vale ressaltar, aliás, que inexiste qualquer irregularidade nas nomeações relacionadas à Fundação ABC.” Maciel só deixou a FUABC depois de a PF (Polícia Federal) e o MPF (Ministério Público Federal) deflagrarem a Prato Feito.

Operação Prato Feito envolveu Maciel, suas filhas e seu genro

Deflagrada pela PF (Polícia Federal) e MPF (Ministério Público Federal) em maio de 2018, a Operação Prato Feito buscou desmantelar um esquema que envolvia fraudes em contratos de merenda escolar e alimentação na área da saúde. Na parte de São Bernardo, o pivô da apuração era o advogado Carlos Roberto Maciel, então secretário de Coordenação Governamental da gestão de Orlando Morando (PSDB) e presidente da FUABC (Fundação do ABC).

Segundo investigação da PF e do MPF, Maciel agiu para que as empresas do genro, Fábio Mathias Favaretto, abocanhassem contratos públicos com a Prefeitura e com a FUABC. A ideia consistia em romper acordos em vigência, atrasar andamento de licitações e, assim, criar condições de assinatura de acordos emergenciais.

Na denúncia formal apresentada ao TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região), a procuradora regional da República Elizabeth Mitiko Kobayashi disse que, entre julho de 2017 e janeiro de 2018, foram firmados contratos emergenciais com a Nutrivida Alimentação e Serviços (no valor de R$ 30,4 milhões) e com a Pró-Saúde Alimentação Saudável (de R$ 9,7 milhões). A primeira tinha como sócio formal Alexandre Lopes Ribeiro. A segunda, Nivaldo Inácio de Oliveira. Entretanto, conforme investigação do MPF, elas pertenciam a Favaretto e os dois sócios eram “laranjas”.

O vínculo das empresas com Maciel e Favaretto estava presente porque as filhas do advogado atuavam nas firmas – Millena Maciel Mathias (filha de Maciel e mulher de Fábio) e Melissa Maciel Reps (filha de Maciel) trabalhavam nos setores financeiro e administrativo, respectivamente.

Em quebras de sigilo telefônico, o nome de Morando foi citado pelos acusados de chefiar o esquema. Eles argumentavam que iriam pagar propina ao tucano de R$ 600 mil ainda na campanha de 2016 (a primeira vencida por Morando ao Paço de São Bernardo) em troca de facilidade para obter contratos públicos. A menção aos valores repassados para o prefeito foi encontrada em agendas de Maciel, apreendidas na Prato Feito – foram usados os codinomes “peixe” e “peixinho” para designar o tucano.

A denúncia do MPF ao TRF-3 inclui ainda Raquel Dias Marçal Ribeiro (empresária), Geraldo Reple Sobrinho (secretário de Saúde de São Bernardo), Marco Antonio Bosculo Pacheco (ex-secretário adjunto de Saúde), Agnes Mello Farias Ferrari (ex-diretora da Fundação do ABC), Suzana Dechechi (ex-secretária de Educação) e Lázaro Leão (ex-secretário adjunto de Educação). Está sob os cuidados do desembargador Nino Toldo, que inicialmente rejeitou pedido do MPF para afastar o chefe do Executivo de São Bernardo.

Morando nega todas as acusações. Tem dito que não há prova que o vincule às acusações feitas pelo MPF.

Desde a deflagração da Operação Prato Feito, Maciel sumiu do meio político de São Bernardo – na FUABC, foi substituído pelo procurador-geral do município de São Bernardo, Luiz Mario Pereira de Souza Gomes.  

  

Fotos: 

Principal - Denis Maciel/DGABC

1 - André Henriques/DGABC

2- Banco de Dados/DGABC

3 - Reprodução




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