Cultura & Lazer Titulo
Fala, Serginho
Mariana Trigo
Da TV Press
09/01/2008 | 07:00
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Serginho Groisman comemora sete anos do Altas Horas, na Globo, com novos projetos na emissora. Com sua voz pausada e um comportamento quase tímido, o jornalista e apresentador também demonstra sua inquietude em lapidar o programa que idealizou no início de sua carreira, quando estreou na Rádio Cultura de São Paulo, há quase 30 anos. Altas Horas foi eleito em votação da TV Press como o melhor programa de auditório em 2007.

“Exilado” nas madrugadas de sábado da Globo, Serginho assume que sente falta de ter uma posição mais destacada na TV. Apesar de comandar três produções – Altas Horas e Ação na Globo, e Tempos de Escola, no Canal Futura –, o paulistano pensa num provável “talk-show” na TV fechada, possivelmente na Globo News. “Sinto falta de manifestar mais minha opinião porque não tenho tempo de escrever”, avisa. “Quero mais espaço para entrevistar gente curiosa e interessante”, argumenta o apresentador de 57 anos.

Serginho começou a ganhar destaque na TV quando assumiu o Programa Livre, no SBT em 1991, onde ficou oito anos. “De repente, estava naquela confusão engraçada do SBT: o Bozo andando de lá para cá com a Angélica e o Jô Soares nos corredores. Na TV Cultura, eu fazia ioga. No SBT, entrei para o rock’n’roll”, compara.

Há um tempo, o Altas Horas era considerado mais sofisticado porque não levava estilos musicais como o sertanejo e o axé. Recentemente, passou a contar com esses gêneros. Por quê?

SERGINHO GROISMAN – A diversão mais barata do brasileiro é a televisão. Mais de 80% da população não têm dinheiro para sair no final de semana e fica em casa vendo TV. Por isso, não imponho apenas o que considero interessante. Coloco também o que eles gostam. Não tenho vergonha disso. Mas, se levar um Amado Batista, também vou falar sobre o aborto ou levar um músico como o Naná Vasconcelos, por exemplo. Essa é a idéia.

O Altas Horas acaba de completar sete anos. Você esperava uma vida tão longa na madrugada?

GROISMAN – (risos) Esperava, porque foi uma opção minha colocar o programa tarde. Tinha pensado em meia-noite e meia, mais ou menos. Mas o programa vai ao ar às 2h, às vezes. Minha luta é por um horário melhor.

A vantagem da madrugada é não ser tão cobrado pela audiência.

GROISMAN – É ótimo não ter essa cobrança. Dessa forma, posso ousar. Um tempo atrás, cogitou-se de colocar o programa no horário de Malhação. Mas não quero fazer um programa de meia hora, mesmo sendo diário. Prefiro fazer duas horas na madrugada.

O programa mudou muito pouco a cada ano. Em algum momento você pensou que o formato pode ter se desgastado?

GROISMAN – Acho que não. As mudanças são sutis mesmo. Tenho uma formação jornalística e a curiosidade de saber o que está acontecendo. Busco no mínimo estar bem informado. Fico muito abismado quando vejo programas de auditório com apresentadores que acham que a função deles é apenas anunciar. Não acho isso certo. Você tem de ter um olhar crítico, jornalístico. Acho que apresentador é um nome errado, parece apresentador de miss, né? Como também sou diretor geral do programa, cuido de tudo, de todos os detalhes, desde a pauta, os convidados, a platéia, os problemas com câmaras, alguém da produção etc.

Quais as transformações para o Altas Horas neste ano?

GROISMAN – Pretendo mudar um pouco o cenário e fazer com que cada vez mais a platéia e os convidados participem de todos os assuntos. Também vou colocar platéias temáticas: um dia só de mulheres, outro de homens, outro de gays, para que possam dizer coisas que achem importante por afinidades.

Que mudanças você identifica nos adolescentes ao longo desses anos?

GROISMAN – A internet mudou a forma deles se relacionarem. Mas essa ferramenta é mais usada para relacionamentos do que para pesquisas. Também acho que aumentou a consciência ecológica, tem mais jovens trabalhando em ONGs, por exemplo. O problema mais grave é que ainda se lê muito pouco no Brasil. As pessoas vêem mais TV do que deveriam. Os jovens também ainda não estão suficientemente politizados. Quando vou à Argentina, vejo que o cara que tem um bumbo, o utiliza na frente da torcida organizada e na frente da Casa Rosada. Eles estão mais ligados à política. Aqui não temos essa tradição. Falta um posicionamento, um confronto de idéias.



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