Economia Titulo Prejuízo
Via Varejo apura fraude de quando GPA a controlava

Apesar de impacto de até R$ 1,4 bilhão nos cofres, transparência fez ações valorizarem 8,10%

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
14/12/2019 | 07:27
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Denis Maciel/DGABC


A Via Varejo, companhia sediada em São Caetano e dona das marcas Casas Bahia e Ponto Frio, divulgou resultado de investigação que apura irregularidades contábeis. A conclusão é a de que foram encontrados indícios de fraude, da época em que era controlada pelo GPA (Grupo Pão de Açúcar), que podem gerar impacto de R$ 1,05 bilhão a R$ 1,4 bilhão nos resultados da empresa. Porém, segundo especialistas, o acontecimento não deve trazer grandes prejuízos futuros à saúde financeira da varejista.

Ontem, as ações da companhia de capital aberto fecharam com alta de 8,10% – a maior do pregão do dia – valendo R$ 10,81. Na quinta-feira, quando o fato relevante foi divulgado aos investidores, os papéis terminaram valendo R$ 10, queda de 3,10%.

O professor e pesquisador da Faculdade Fipecafi Diogo Carneiro cita que o próprio crescimento da bolsa de valores, que ontem fechou em novo recorde, com 112.564 pontos, alta de 0,33%, é um dos fatores para que a situação não gere grandes impactos futuros para a Via Varejo.

“Outra razão é o segmento do varejo, que está crescendo muito, resultado de expectativa de consumo muito grande”, afirmou ele, ao destacar que a empresa continua em expansão e o episódio não deve gerar risco de fechamento de lojas nem demissões.

No fato relevante divulgado na quinta-feira, a empresa afirma que investigações iniciadas em novembro verificaram indícios de fraude contábil por conta da manipulação trabalhista da companhia e falhas de controles internos. Com os ajustes contábeis e de créditos fiscais a serem feitos, o impacto estimado é de até R$ 1,4 bilhão nos resultados do quarto trimestre deste ano. No patrimônio líquido da empresa, reflexo pode chegar a R$ 940 milhões, 6% do valor de mercado da companhia. “Como consequência, espera-se que os referidos ajustes gerarão efeito caixa na companhia no decorrer dos próximos três a quatro anos”, afirmou o comunicado.

Uma terceira fase da investigação vai continuar a apuração. A Via Varejo também afirmou que foram verificados créditos fiscais de PIS/Cofins e ICMS de R$ 600 milhões (o que amenizaria os valores de perdas) e que, portanto, avalia que os ajustes não impactarão o fluxo de caixa ou as condições financeiras e operacionais da empresa.

Para o professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie Marco Antônio de Andrade, a transparência no processo também conta pontos a favor da empresa. “A Via Varejo passa por processo de mudanças de controladores, algo que o mercado já está identificando. O mercado não olha para trás e, uma vez que a empresa reconheceu o erro, e fez movimentos para que esse tipo de ocorrência não volte acontecer, isso é visto com bons olhos, ao invés do que aconteceria se ela fosse pega em uma investigação”, disse.

DEFESA

Em junho, o empresário Michel Klein voltou a ser dono da Via Varejo – desde 2010, ele não decidia mais os rumos da Casas Bahia, quando a associou ao GPA – comprando a maioria das ações que a supermercadista disponibilizou em leilão.

Nos últimos anos, a Via Varejo passou pelas mãos do GPA, desde 2009, e do Casino, que em 2012 assumiu o controle do GPA. Ambos com tradição no ramo supermercadista.

Questionada, a Via Varejo afirmou que o posicionamento é o fato relevante divulgado.

O GPA justificou, por meio de comunicado ao mercado, que no tempo em que era o maior acionista individual da Via Varejo, a família Michel Klein e seus veículos de investimento detinham mais de 20% do capital da companhia e também elegiam integrantes para compor os órgãos de administração, controle e fiscalização. “Os critérios contábeis adotados pela Via Varejo, para registro de todas as operações, sempre foram aqueles expedidos pelos órgãos normativos e reguladores”, afirmou. As ações do GPA encerraram o pregão de ontem em queda de 1,77%, a R$ 83,99.

Além disso, o grupo destacou que, na época, a Via Varejo sempre adotou as regras contábeis, que eventualmente sofreram alterações ao longo dos períodos e que as demonstrações financeiras da empresa sempre foram auditadas. E finalizou que o GPA não tomou conhecimento, naquele respectivo período, de que poderia haver irregularidade nas demonstrações financeiras.
 




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