PROCESSO SELETIVO PARA ESTÁGIO EXIGE PREPARAÇÃO E BUSCA CANDIDATOS DIFERENCIADOS

Julia Alves (Especial para o Diário)

O estágio é a porta de entrada para estudantes ingressarem no mercado de trabalho. Em busca de sua primeira experiência, alunos de graduação se deparam com processos seletivos rigorosos e, em razão disso, estão se preparando cada vez mais para conseguir uma vaga.

O estudante de Economia Luiz Koike, 25 anos, se forma neste ano pela FGV de Santo André e, apesar de já ser graduado em Administração de Empresas pela mesma universidade, teve de estudar por cerca de dois anos para ser aprovado em um processo seletivo. “Tive dificuldades com a busca por informações sobre o setor, pois as faculdades da região não têm nenhuma exposição ao mercado financeiro. Conversei com estudantes de outras universidades para conseguir contatos.”

Koike entendeu quais eram as fases dos processos seletivos na área de economia e estudou para aprimorar seu currículo e ser bem-sucedido nos testes. “As áreas que mais oferecem oportunidades de crescimento exigem inglês fluente, então todos os testes e provas são em inglês. Se por acaso algum candidato passar nas primeiras fases por sorte, as entrevistas vão discernir quem se preparou”, conta.

Os desafios para se adequar às exigências são inerentes às vagas em todos as áreas, como conta a estagiária de comunicação interna da Goodyear Aline Batista, 22. Ela explica que o processo seletivo não foi fácil por se tratar de uma grande corporação. “Antes disso, fiz estágio em uma empresa menor. Quando meu contrato acabou, decidi que queria fazer parte de uma multinacional, onde oferecem acompanhamento do estágio, treinamentos e favorecem a construção de uma carreira.”

“Inglês não é mais diferencial, é uma obrigação”, afirma a estudante, que se preparou para os processos seletivos aprimorando o idioma e fazendo cursos específicos na área. “Eu tinha a noção de que precisava ser um profissional multitarefa. Não é porque curso Jornalismo que devo apenas escrever textos. Já tinha um técnico em Publicidade, fiz um curso de web design para atuar com peças de campanhas e outro para fazer a edição de áudios e vídeos.”

Como os estagiários têm pouca experiência, as especializações são diferenciais no currículo, confirma o analista de treinamento e desenvolvimento Lucas Fernandes, do Nube (Núcleo Brasileiro de Estágios). “Existem dois aspectos quando pensamos nas competências exigidas para a contratação de estagiários: perfil e conhecimentos. Hoje, existe mais oferta de profissionais, então as empresas são mais exigentes e rigorosas nos processos seletivos.”

Além da formação acadêmica, Fernandes afirma que as experiências complementares são importantes para destacar o currículo. “Enriquecem o estudante como pessoa. A participação em trabalhos voluntários, iniciações científicas, projetos de pesquisa das universidades, conhecimento em outras línguas e áreas de atividade atraem as empresas por mostrar o perfil de um estagiário autônomo, criativo e diferenciado.”


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Aline Batista


Para ser aprovado é necessária atenção desde a escolha da vaga

No processo de seleção, a compatibilidade do profissional com a instituição oferece muito mais chances de sucesso do que suas competências. Ao procurar por vagas de estágio, os estudantes devem se guiar pelo que desejam fazer com suas carreiras e o tipo de instituição em que querem trabalhar.

Os requisitos para contratação dependem de cada empresa, explica a consultora de recursos humanos Monica Roncolato, da Luandre. “Geralmente, o perfil comportamental é o que fará diferença em uma vaga de estágio. O interesse em aprender, espírito de equipe, disponibilidade, resiliência e até mesmo a ambição são requisitos sempre desejados”, explica. Além disso, as empresas podem avaliar o semestre que o estudante cursa, a data de conclusão da graduação, o conhecimento em idiomas e as experiências extracurriculares.

“O que fará diferença serão de fato o comportamento do candidato em entrevista e o interesse do mesmo na oportunidade em questão”, afirma. Monica explica que as empresas priorizam a escolha do candidato pelo seu perfil, pois uma das principais vantagens em admitir um estagiário é a possibilidade de ensiná-lo e desenvolvê-lo conforme objetivo da empresa.

De acordo com Adriana Ghani, recrutadora da multinacional Grundfos, o departamento de recursos humanos busca candidatos que, além dos requisitos da vaga, tenham características pessoais e valores compatíveis com a empresa e a equipe.

A recrutadora explica que currículos sucintos, com conhecimentos e experiências escritos de forma clara, em tópicos e destacando palavras-chave relacionadas à vaga fazem com que sejam mais bem identificados e selecionados. “No RH recebemos uma série de interessados. Se formos ler muitos textos, perdemos tempo demais e, às vezes, a vaga é para preenchimento urgente.”

Adriana destaca que são fundamentais ler e aprender sobre a empresa com antecedência. “Se o candidato trabalha em um ambiente que não gosta e que não combina com seus valores, a experiência será ruim, tanto para ele quanto para o empregador.” O estudante não deve deixar de perguntar sobre o clima de trabalho, quais serão suas tarefas, o que será esperado dele como profissional e como é a rotina de trabalho, para então avaliar se deseja trabalhar no local.

A profissional aconselha aos candidatos que prestem atenção na linguagem, usem roupa básica, mantenham postura confiante e que tenham cuidado com o nervosismo. “É perfeitamente normal ficar nervoso, mas a pessoa deve descontrair e imaginar que está conversando com um amigo. A ansiedade não pode atrapalhar.”

TECNOLOGIA BUSCA PROFISSIONAIS
CRIATIVOS E VERSÁTEIS

Julia Alves (Especial para o Diário)

Os salários atrativos, a alta procura por profissionais e o surgimento constante de empresas no setor de tecnologia, tem motivado muitas pessoas que querem fazer parte da transformação digital. A Robert Half, consultoria de recursos humanos, atuante no Grande ABC, fez uma análise das profissões que estão em alta em 2017 e, como acontece em todos os anos, a área de tecnologia se mantém entre os líderes de escolha.

Entre os cursos oferecidos na área se destacam os bacharelados em Engenharia ou Ciências da Computação, Design e os tecnólogos Sistemas da Informação, Marketing e Jogos Digitais. Além da graduação, a fluência no inglês, cursos livres e certificações abrem muitas portas, explica o professor João Carlos Fernandes, que leciona Engenharia da Computação, Elétrica e Eletrônica no Instituto Mauá de Tecnologia, de São Caetano. “Depois de colar grau, é preciso definir a área em que deseja atuar e buscar especializações. Se quiser trabalhar como acadêmico, deverá fazer mestrado, caso queira se inserir no mercado é necessário fazer cursos livres, um MBA ou uma pós-graduação específica em sua área de conhecimento.”

Para planejar a carreira, o profissional deve optar por um dos dois caminhos possíveis no setor: ser especialista ou gestor. Os profissionais podem trabalhar como desenvolvedores, analistas e consultores. Neste caso, as certificações e os cursos técnicos na área de aptidão são fundamentais. Já o aspirante a gestor deve ter uma pós-graduação ou MBA para ascender ao cargo. Em ambos os casos, a fluência no inglês é fundamental e deve ser tratada como prioridade. “O inglês é o básico. Todas as documentações e manuais do setor são em inglês”, finaliza Fernandes.

A gerente de divisão da Robert Half, Isis Borge, conta que as empresas tecnológicas sobrevivem à crise com mais facilidade por conta do seu baixo custo operacional e a possibilidade de adequar seus serviços. “O setor gera oportunidades constantemente e as novas empresas conseguem crescer em uma velocidade muito maior do que uma empresa consolidada”, conta. De acordo com ela, a atual recessão gerou oportunidades para novos empreendedores com a terceirização das áreas de informática e computação nas organizações, e o surgimento de serviços.

Atuando em uma área de criação, os profissionais de tecnologia têm alguns benefícios frente a outros setores. As empresas permitem que o funcionário opte pelos melhores horário e local para realizarem suas tarefas, possibilitando o trabalho remoto. “Os escritórios de tecnologia passaram a ser locais confortáveis, sem obrigatoriedade de horários e disponibilizando ferramentas antiestresse. As empresas entendem que o funcionário relaxado e feliz será mais produtivo”, continua Isis.

O perfil que as companhias buscam é de uma pessoa criativa, que tenha raciocínio lógico, que consiga pensar fora da caixa. “Os profissionais precisam enxergar oportunidades e serem multidisciplinares. Ser especialista somente em uma vertente não é bom. É preciso aprender sobre outras áreas e ter o conhecimento sempre atualizado”, finaliza a gerente.

“Sempre contratamos pessoas que estejam próximas do nosso jeito, da nossa cultura e valores”, explica o sócio-diretor da SOU Mário Cabral. A empresa de tecnologia prioriza a contratação pelos perfis acima dos conhecimentos técnicos e da graduação.

A empresa andreense iniciou com três funcionários e hoje abriga cerca de 80 colaboradores, que atuam no segmento prestando serviços para gestão de pessoas. O crescimento ao longo dos anos é creditado ao ambiente de trabalho amigável e funcionários satisfeitos. “Existem três itens importantes para que a pessoa seja feliz na empresa: gostar do que faz, gostar das pessoas com quem trabalha e se sentir valorizada. Prezamos por esses itens para que nossos colaboradores continuem na equipe”, explica Cabral.

Mesmo na crise, a corporação cresceu cerca de 40%, afirma o sócio. “Isso exigiu muita criatividade e adequação dos nossos serviços. O oferecimento de treinamentos a distância ao invés dos presenciais nos favoreceu, tivemos muitos clientes que nos contrataram para cortar custos”, conta. Ele ainda reforça que os profissionais devem se manter atualizados e investir em conhecimento constantemente. “O investimento nem sempre é financeiro. É importante aproveitar cada tarefa nova para aprender, contar com o apoio de colegas mais experientes e buscar na internet formas gratuitas de se renovar.”


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Mário Cabral


Área não é sinônimo de TI

Mesmo com as vantagens de atuar com tecnologia, muitos estudantes optam por não adentrar a área por não seguir o perfil do profissional de exatas. No entanto, conforme os setores ampliam seu campo de trabalho, outras opções de carreira podem aparecer no meio tecnológico e o profissional não é obrigado a atuar com TI (Tecnologia da Informação).

“Todo mundo tem tanto medo que acaba não tentando e as vagas de emprego sobram”, afirma o andreense Wilson de Freitas, 24 anos. Apesar de ser graduado em Publicidade e Propaganda, ele atua no setor de tecnologia há cinco anos, como web designer. “A área de comunicação me atraía. Quando comecei a faculdade não tinha interesse nenhum em trabalhar com tecnologia, mas acabei me encontrando.”

Freitas entrou na área por acaso, após iniciar o estágio em uma empresa que desenvolve cursos on-line. Trabalhando com criação, ele descobriu o outro lado de sua profissão, a parte de desenvolvimento. “Conheci outros profissionais, entendi o que eles faziam e acabei migrando dentro da própria área”, conta. O web designer começou seus estudos em casa e hoje é referência na empresa, onde atua com o desenvolvimento de interfaces para jogos digitais. Ele afirma que o setor fornece muitas oportunidades, uma boa remuneração e, além disso, se sente realizado com o que faz.

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