Ex-sindicalista acostumado aos piquetes nas portas de fábricas, o hoje deputado estadual Carlos Alberto Grana (PT-Santo André) avaliou que a proposta inicial de reajuste salarial de 8% do patronato das empresas de ônibus do Grande ABC, porém rejeitada pelos motoristas e cobradores do transporte público, era "aceitável". Mas atribuiu o desgaste deflagrado pela greve pela "demora" na negociação. A data-base da categoria é 1º de maio.
"Um mês depois para discutir o reajuste foi tempo demais e provocou ansiedade na categoria, que recusou uma proposta aceitável", afirmou o parlamentar, ao avaliar a greve deflagrada há quatro dias e encerrada ontem.
Em Santo André, cidade do parlamentar, cerca de 150 mil pessoas foram afetadas pela paralisação, segundo a Prefeitura. Em média, o número de veículos em circulação no município aumentou em 20%, principalmente com a greve de um dia da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos.
Posicionamento completamente diferente tem o também deputado estadual Alex Manente (PPS-São Bernardo). "Sou totalmente contra a greve do transporte público, que prejudicou extremamente a população", afirmou.
Para Alex, existem outras maneiras de conduzir o processo e debater os benefícios à categoria. No entanto, não explicou como.
Orlando Morando (PSDB-São Bernardo) reconhece a legitimidade do movimento, assim como Grana, mas disse que o problema não se limita aos patrões nem empregados. "Indiscutivelmente, o grande prejudicado foi a população", apontou. O deputado torce para que no próximo dissídio, em 2012, a negociação evolua para se evitar o "caminho da greve".
O deputado federal José de Filippi Júnior (PT-Diadema) e o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), também foram procurados pelo Diário para falar sobre a greve, mas não deram retorno.
Madrugada foi de alegria e de sufoco
Se o fim da madrugada e início da manhã de ontem foram de alegria com a volta dos trens à circulação, para o usuário de ônibus ainda foram de sufoco. Por volta das 5h30, era possível encontrar pessoas caminhando pela Avenida Capitão Mário Toledo de Camargo, além de dezenas de bicicletas, que tomaram as faixas exclusivas dos ônibus. Também em São Bernardo e Mauá a caminhada era a única opção.
Nos últimos três dias, pai e filho caminharam uma hora para chegar ao trabalho na Vila Pires. O eletricista Wellington da Silva Gomes, 26 anos, e o zelador Anastácio da Paixão Gomes, 65, saíam às 4h, agasalhados, do Jardim Irene. "O jeito é se proteger do frio e torcer para, semana que vem, não ter mais greve", afirmou o filho Wellington, por volta das 5h30 de ontem.
O porteiro do Jardim Santa Cristina Paulo Henrique Oliveira, 37, mesmo não podendo caminhar por muito tempo por conta de quatro parafusos na coluna, não teve outra opção a não ser caminhar uma hora e 40 minutos para chegar e voltar do trabalho, no Jardim Santo André. "Não posso pegar uma lotação, pois não tenho condição de pagar R$ 5, e ninguém aceita vale-transporte ou cartão", reclamou.
No terminal da Vila Luzita, um aglomerado de pessoas tinha esperança de que um ônibus passasse pela via ou aguardava a lotação clandestina para chegar ao Centro. A balconista Rosangela Guedes, 56, se rendeu e pagou R$ 5 na lotação, após ter enfrentado caminhadas de uma hora e 20 minutos nos últimos três dias.
Cabisbaixo, o porteiro Miraldir de Oliveira, 44, seguia a passos lentos pela Avenida Barão de Mauá, em Mauá, por volta das 7h. O motivo: trabalhou das 6h de quinta-feira até as 6h de ontem. "Por falta de transporte, ninguém conseguiu chegar para me render", disse, logo ao chegar à estação de trem, no Centro.
O técnico de informática Carlos Daniel Nunes, 22, ia a pé do Zaíra em direção ao Sertãozinho, onde fica a empresa em que trabalha. "Já faltei dois dias, hoje (ontem) vou ter que ir a pé mesmo", disse, apressado. Nunes já tinha andado 30 minutos e andaria outros 30 para percorrer os mais de sete quilômetros até o serviço.
Em São Bernardo, a caminhada também foi a opção para muitos moradores que percorriam a Avenida Peri Ronchetti, até o Centro. O casal Claudenir Marques, 49, e Márcia Rocha, 21, levam 35 minutos do Baeta Neves até o terminal de trólebus. A corretora de imóveis Márcia trabalha em Santo André e utiliza o trólebus, enquanto o consultor imobiliário Claudenir precisa caminhar até chegar ao trabalho, próximo à Avenida Lucas Nogueira Garcez. "Já nos acostumamos, mas espero que essa correria seja por pouco tempo." (Bruna Gonçalves e Camila Brunelli)
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