Economia Titulo Crédito
Empréstimos do BNDES ao Grande ABC ficam abaixo do total registrado em 2009

No ano passado foram desembolsados às empresas
do Grande ABC R$ 2,93 bilhões, R$ 70 milhões a menos

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
31/01/2011 | 07:30
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O montante emprestado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) às empresas do Grande ABC no ano passado ficou abaixo do total de 2009, ano da crise financeira.

Enquanto em 2010 foram desembolsados R$ 2,93 bilhões em toda a região, no ano anterior o total financiado chegou a R$ 3 bilhões: R$ 70 milhões a menos.

Essa diferença se dá principalmente porque, embora 2010 fosse um ano marcado pela recuperação da economia e crescimento atípico, o faturamento que o BNDES leva em consideração para fazer a análise do risco é o do ano anterior, neste caso o de 2009, quando a maior parte das empresas estava altamente endividada e com ritmo de produção menor.

Segundo Camila Quintela, responsável por orientar empresários na Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, a dificuldade torna-se ainda maior porque, neste caso, quem assume o risco são os banco comerciais, intermediários da operação. "Se estiverem desconfiados de que o solicitante oferece perigo de não honrar o pagamento, os bancos não liberam. Além disso, o crédito só é autorizado se a empresa está com todos os impostos em dia", explica. "O BNDES só empresta diretamente para quem financia acima de R$ 10 milhões."

Por outro lado, o número de operações foi recorde: 7.343. Em 2010, foram fechados 3.133 contratos a mais do que em 2009, quando o montante chegou a 4.210. "Por ter sido um bom ano para a economia, mais empresas estavam em condições de solicitar empréstimos à entidade", justifica Camila.

O BNDES não libera crédito para saldar dívidas, mas para que os empresários possam comprar equipamentos, atualizar a tecnologia da empresa, realizar reforma ou utilizar como capital de giro.

O município que liderou os financiamentos com recursos públicos foi São Bernardo, respondendo por mais da metade do total emprestado, R$ 1,8 bilhão e por um terço do número de operações, 2.700 (veja arte acima).

Empresário se queixa de baixo valor financiado

Apesar do crescimento do total de operações do BNDES na região em 2010, empresários reclamam que o valor emprestado fica abaixo do desejado.

É o caso de Emanuel Teixeira, proprietário de uma fábrica de molas, artefatos e arames de Mauá. "Consegui empréstimo para comprar uma máquina mas, na verdade, pedi financiamento para duas", conta. Dos R$ 800 mil solicitados, Teixeira conseguiu apenas R$ 400 mil. "O banco alegou que se eu financiasse mais, estaria comprometendo meu orçamento."

Na opinião do empresário, que faz parte da estatística de Mauá - alta de 91,2% no número de contratos fechados, totalizando 698 -, o empréstimo só está disponível para quem já tem dinheiro. Para quem efetivamente precisa, não está.

Segundo Teixeira, também vice-diretor do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Santo André (que se estende a Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra), 85% das empresas têm alguma dívida de impostos.

"Temos dificuldades, como a alta carga tributária que incide sobre a produção e a data do pagamento dos impostos, caso do ICMS, que temos de pagar sempre no terceiro dia útil do mês, sendo que só vamos receber lá pelo dia 20", conta. "Enquanto o governo continuar enxergando o empresário como consumidor e não como investidor, não conseguiremos evoluir."

Para se ter ideia, o BNDES empresta com média de seis meses de carência e cinco anos para pagar. O governo chinês, por sua vez, oferece com cinco anos de carência e 15 anos para pagar.




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