Os problemas familiares continuam sendo um prato cheio para o cineasta Francis Ford Coppola. O tema é recorrente em suas obras e serve para o desenvolvimento de Tetro, que estreia hoje no circuito de São Paulo.
A trama se passa em Buenos Aires, na Argentina, e mostra o jovem Bennie chegando à cidade para reencontrar o irmão mais velho, Tetro. Os poucos dias do rapaz no local são o bastante para descobrir que seu ídolo está mudado.
Os conflitos pessoais de Tetro começam a ser explicados quando Bennie encontra uma peça inacabada escrita pelo irmão. Um acidente envolvendo a mãe e o conflito com o pai fazem parte da história, que não possui um desfecho. A briga entre os dois é para que o primogênito finalize o texto e volte a ser o promissor escritor do passado.
"As famílias sempre têm problemas e nem sempre os entendemos. Quando escrevemos o roteiro é como se questionássemos a nós mesmos", explicou o diretor em sua rápida pela passagem pelo Brasil para o lançamento do filme.
A escolha pela Argentina receber a produção se deve ao fato de que Coppola é uma grande fã da literatura latino-americana - inclusive das obras do baiano Jorge Amado (1912-2001). "Estou em um período no qual posso ir para onde quiser. A América Latina sempre chamou atenção pela bela literatura. Todos os maiores escritores do mundo da minha geração estão aqui. Vindo filmar na América Latina talvez me inspirasse", diz.
Atualmente, o cineasta passa por uma fase livre das pressões de Hollywood. Envolvido com grandes produções do passado, casos da trilogia O Poderoso Chefão (de 1972, 1974 e 1990) e do icônico Apocalypse Now (1979), o veterano diretor norte-americano tem se dedicado a filmes menores e autorais.
Dificilmente Tetro teria espaço na agenda dos principais estúdios e isso faz com que a arte que o envolve consiga se destacar diante da ilustre presença de uma ‘grife' Coppola por trás da produção. Um dos exemplos é a utilização das imagens em preto e branco durante todo o filme - apenas as lembranças dos personagens ganham cores. "É uma forma metafórica para se representar. Decidi fazer o filme dessa maneira porque o preto e branco tem algo real e não real, uma realidade poética." A fotografia cumpre seu papel e é notório a influência de produções das décadas de 1940 na obra.
A presença de um elenco pequeno é essencial para o clima intimista do projeto consiga dar certo. As intimidades da família Tetrocinni são representadas por um grupo de atores encabeçado pelo intenso Vincent Gallo como protagonista. O espanhol Javier Barden deveria ter participado do longa-metragem no papel do crítico Alone, mas sua agenda não permitiu sua presença e a atriz Carmen Maura o substituiu. Segundo Coppola, "gosto de trabalhar com todas as idades e é excitante ter essa família diversa durante o processo. Nada melhor do que reunir toda a comunidade".
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